Zé Limeira, o "Poeta do Absurdo", existiu mesmo ou não passa de uma lenda?
"Eu me chamo Zé Limeira
Da Paraíba falada
Cantando nas Escrituras
Saudando o pai da coalhada.
A lua branca alumia
Jesus, José e Maria,
Três anjos da farinhada"
A septilha (poesia ou estrofe de sete versos) é, oficialmente, creditado ao paraibano de Teixeira, "Zé Limeira" (1886-1954), um cantador, cordelista e repentista que ninguém jamais viu e que ninguém sabe ao certo dia e mês de nascimento e de morte.
Tudo o que se sabe sobre o personagem foi escrito pelo jornalista Orlando Tejo (1935-2018), no livro "Zé Limeira - Poeta do Absurdo" (1973), com edições esgotadas. Mesmo assim, Zé Limeira é conhecido ("de ouvir dizer") pela produção de uma infinidade de versos sem sentido, mas perfeitos na métrica poética.
Este é dele: "Morri no ano passado. Mas esse ano eu não morro". Com um pequeníssimo ajuste ("Ano passado eu morri. Mas esse ano eu não morro"), foi parar na canção "Sujeito de Sorte", no álbum Alucinação (1976), de Belchior.
Se Zé Limeira esteve mesmo encarnado por essas bandas do Nordeste brasileiro é difícil saber ou comprovar. O que se conhece, de fato, sobre o repentista, são os causos creditados a ele por Orlando Tejo, um profissional chegado ao humor e que garantia ter conhecido o poeta, pessoalmente, aos 15 anos (1950), em Campina Grande (PB).
Mas, se não há uma alma viva por esses sertões que garanta ter visto ou conhecido Zé Limeira (além do próprio jornalista), pode ser que ele não passe apenas de uma lenda, um personagem fictício das estórias contadas por Orlando Tejo.