Milton Nascimento canta com Seu Jorge e comemora vitória de Lula em São Paulo
LUCCAS OLIVEIRA -
|
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
- No penúltimo show de sua carreira em São Paulo, Milton Nascimento destacou algumas participações especiais.
Na noite desta quinta-feira (3), ele convidou o cantor e compositor Seu Jorge ao palco do Espaço Unimed, casa na Barra Funda, zona oeste da cidade, que estava lotada para ver "A Última Sessão de Música". A turnê marca a despedida de Bituca, agora com 80 anos, dos palcos.
"Quero convidar meu grande amigo que teve um problema recente lá no sul", anunciou Milton, fazendo menção aos ataques racistas que Seu Jorge sofreu num show em Porto Alegre, em outubro.
Juntos, eles dividiram três canções --"Clube da Esquina", "Crença" e "Tudo o que Você Podia Ser", que não constam no roteiro original da turnê de despedida.
Seu Jorge aproveitou a deixa para anunciar que "Crença" será a faixa de abertura de seu próximo disco, "Otherside", previsto para 2023.
"Vocês não têm ideia da emoção e da honra que é estar no palco ao lado deste homem", disse Seu Jorge, sem conseguir esconder as lágrimas que escapavam dos óculos escuros. "Você é a grande inspiração para eu fazer o que faço. Você é tudo o que há de mais lindo".
A participação, que era surpresa, aconteceu cerca de 40 minutos após o início do show de Milton.
Outra convidada, já menos surpreendente, foi a cantora Simone, que já tinha aparecido em shows paulistanos de "A Última Sessão de Música". Ela dividiu "Nada Será Como Antes" com Milton e Zé Ibarra, o jovem fiel escudeiro de Bituca nas últimas turnês.
Antes dos convidados, o mais mineiro dos cariocas já tinha feito uma breve menção à vitória de Luiz Inácio Lula da Silva na eleição do último domingo (30). Depois de cantar os versos finais de "Pai Grande" -"Minha gente é essa agora/ Se estou aqui, trouxe de lá/ Um amor tão longe de mentiras/ Quero a quem quiser me amar"-, ele emendou a frase "principalmente depois de anteontem", fazendo uma leve confusão de datas.
Antes mesmo do show, as 6.300 pessoas presentes ao Espaço Unimed já tinham vivido um embate político. Enquanto uma grande fatia do público cantava por Lula, outra, menor, respondeu com "Lula ladrão". A parte vitoriosa no último domingo emendou, então, com "Lula, ladrão, roubou meu coração".
A apresentação -mais em tom de celebração do que de despedida- durou duas horas e vinte minutos e teve cerca de 35 músicas.
Grande parte do repertório partiu da produção musical de Bituca entre o fim da década de 1960 e o início dos anos 1980. Também, pudera. Foi com discos como "Clube da Esquina" (de 1972, com o parceiro Lô Borges), "Minas" (1975), "Geraes" (1976) e "Milagre dos Peixes" (1973) que Milton Nascimento cravou seu nome na história da música mundial a partir de como cantava Minas Gerais, o estado onde cresceu.
Assim, ele condensou o melhor de sua musicalidade ímpar, passando pelos flertes com rock (o dos Beatles), jazz, blues, bossa nova e ritmos latinos --com direito a homenagem a Mercedes Sosa em "Volver a Los 17".
Apesar de contar com a ajuda luxuosa do carioca Zé Ibarra, 25 anos, integrante do grupo Bala Desejo, a vitalidade de Bituca surpreendeu. Ele se esforçou para segurar as notas ao máximo, se divertiu com o público e com os companheiros de palco, e até sanfona -seu primeiro instrumento na vida, ainda criança- tocou, no número de abertura do show, "Ponta de Areia".
Em "A Última Sessão de Música", Bituca ainda celebra seus grandes parceiros da vida -os irmãos Marcio e Lô Borges, Ronaldo Bastos e, principalmente, Fernando Brant. "Onde quer que você esteja, eu te amo", declarou-se ao amigo, morto em 2015, depois de cantar "Encontros e Despedidas".
Do lado do público, a emoção tomou conta de diversas gerações em clássicos como "Para Lennon e McCartney", "Cais", "Maria, Maria", "Caçador de Mim", "Nos Bailes da Vida" e "Travessia", que fechou o show já na madrugada de sexta.
"Viva a democracia!", disse Bituca na reta final, para delírio do público.
Milton Nascimento se despede oficialmente do palcos paulistanos nesta sexta-feira (4), no mesmo Espaço Unimed. Os ingressos estão esgotados.
O show final da turnê será no estádio do Mineirão em Belo Horizonte, no próximo dia 13, também com vendas encerradas.