Eleitores desiludidos
Se alguém gostava de assistir ao desenho do Snoopy (ou turma do Charlie Brown), provavelmente se lembra do episódio Você não foi eleito, Charlie Brown, em que o melhor amigo do dono do Snoopy, Linus, concorre ao cargo de presidente do conselho estudantil. Linus tem como principal oponente um outro menino chamado Russell e, para ganhar a eleição, além de contar com uma grande assessoria, usa um truque que é bastante antigo mas sempre dá certo: o de só dizer o que os ouvintes desejam ouvir. Em uma ocasião, quando os dois oponentes irão discursar, Russo promete que se for eleito fará o melhor possível e Linus faz promessas grandiosas como a de que os recreios serão mais longos e é amplamente aplaudido. Usando de tais técnicas e truques, ele vence e sua eleitora mais entusiasmada, Sally – irmã de Charlie Brown e que tem uma paixonite por ele – logo depois da vitória, vai com ele falar com o diretor para que ele tome as medidas que tinha prometido. No final, ela sabe que Linus não fará o que prometeu e fica enraivecida, vociferando: “Ele nos traiu, eles são todos iguais.”
Este episódio nos faz refletir porque mostra bem como é o sistema de eleições não apenas aqui no Brasil mas em qualquer lugar. Os candidatos, para vencer, sempre usam o truque de só dizer o que queremos ouvir, apoiados por assessores que os orientam para que eles saibam o que dizer e os eleitores (no geral) preferem ouvir promessas maravilhosas. Podemos ver bem isso no desenho do Snoopy. Enquanto o oponente de Linus foi verdadeiro e prometeu que faria o que estivesse ao seu alcance, o amigo de Charlie Brown usou a tática de fazer promessas mirabolantes. Quantas vezes não escutamos isso na vida real? Há anos, ouvimos candidatos dizendo que investirão na educação, saúde, segurança, desenvolvimento econômico, ofertas de empregos e outras coisas que nos são tão necessárias e, assim que vencem, parecem ter esquecido tudo que prometeram. E muitos eleitores ficam desiludidos, chegando à conclusão de que os políticos são todos iguais, sejam de direita ou de esquerda. Devemos enfatizar isso porque na vida real temos visto muitos políticos de direita e de esquerda envolvidos em caso de corrupção e fazendo péssimos governos. No caso do Brasil, nesta época de eleição que estamos vivendo, ainda que haja muitos eleitores entusiasmados, clamando aos quatro ventos os nomes dos seus candidatos, não são poucos os que estão desiludidos, dizendo que os políticos são todos iguais, enganam-nos dizendo tudo que queremos ouvir para ganhar as eleições e esquecem tudo que prometeram quando vencem as eleições. Muitos aliás dizem que só votam porque é obrigatório e não querem pagar multa.
Tal situação é triste e mostra o quanto a política está desacreditada em nosso país. O pior é saber que poderíamos estar vivendo outra realidade. E viver outra realidade não é impossível. Basta vermos países como a Dinamarca ou Suécia, com grandes índices de desenvolvimento humano(IDH) e quase nenhuma corrupção. Não dá para dizermos que não gostamos da política. Ela é necessária na nossa vida e somos todos seres políticos. Precisamos então aprender a escolher melhor os nossos candidatos, prestar atenção às suas propostas para ver se são viáveis, entender quais são as reais funções dos cargos aos quais os candidatos concorrem para não cairmos em mentiras que muitos candidatos contam e não perder as esperanças. Não podemos pensar que o Brasil é um caso perdido. Se investíssemos realmente em educação como se deve, as pessoas saberiam escolher os seus representantes e praticamente não haveria corrupção no Brasil.