Conheça a história de “Sandman” e a história da Netflix baseada nas HQs de Neil Gaiman

Uma obra clássica absoluta de Neil Gaiman, Sandman passou por inúmeras tentativas de adaptação em live-action ao decorrer dos anos. Excessivamente protetor em relação à trama que criou para a Vertigo, antigo selo adulto da DC Comics, o autor passou décadas dispensando e sendo dispensado por vários estúdios e produtores interessados na história de Morpheus e seus irmãos Perpétuos. Mas, após 34 anos de ser recusado, surge então o lançamento da primeira edição da HQ, a primeira adaptação televisiva oficial chegou na Netflix em 05 de agosto de 2022. Embora não provoque o mesmo impacto que o quadrinho, mostra a espera de que Gaiman e dos fãs não foi à toa.

De forma rápida, a série Sandman segue a mesma trama que os quadrinhos mostram: Sonho dos Perpétuos (Tom Sturridge), é capturado em um ritual de magia das travas por Roderick Burgess (Charles Dance), que o aprisiona por mais de um século no reino mortal. Quando Morpheus, o Rei dos Sonhos escapa, parte em uma jornada para recuperar seu poder, reino e procura vingança. Mesmo com uma narrativa próxima do que foi apresentado há mais de trinta anos nas HQs, a adaptação conta com poucas mudanças, mas pertinentes, dando um ar de novidade e que permitem que a história se traduza com naturalidade para a TV.

Coordenados pelo próprio criador da história, Gaiman, comandando a séria ao lado de David S. Goyer (Batman Despertar) e Allan Heinberg (Mulher Maravilha), mostra que as mudanças não alteram em quase nada a história de Sandman, restringindo-se a dar uma personalidade mais marcante a alguns dos personagens que rodeiam Sonho. Assim, Coríntio (Boyd Holbrook) e Desejo (Mason Alexander Park), por exemplo, assumem um papel contraditório mais explicito que nos gibis, enquanto Matthew (Patton Oswalt) e Lucienne (Vivienne Acheampong) têm mais espaço na série para manter Morpheus “na linha”.

Ter Gaiman entre seus principais arquitetos foi o maior mérito da produção da Netflix. O criador de Sandman usa sua liberdade para criar e atualizar seus personagens, cenas e situações icônicas sem deixar a verdadeira essência da história original. O bom olho do autor para mudanças pode ser confirmado em “24/7”, capítulo que recria a simbólica história em que John Dee usa o Rubi de Sonho para martirizar os fregueses de uma pequena lanchonete de beira de estrada. Mesmo que se apresente de forma diferente do que a das páginas, a narrativa surge tão angustiante quanto a versão original, apoiada na icônica atuação arrepiante de David Thewlis.

Vale ressaltar, que as atuações de Sandman são algumas das melhores que já concederam as produções originais da Netflix nos últimos anos. Boyd Holbrook, por exemplo, simplesmente aparece aterrorizante como Coríntio e digo que não seria exagero de minha parte, considerá-lo para um Emmy em 2023. Apesar de não ter tanto destaque como seus colegas de elenco, Kirby Howell-Baptiste também faz um trabalho incrível como Morte. Meiga e doce, a atriz entrega uma Perpétua forte, porém compreensiva e que nunca esconde seu encanto pelo amor dos humanos pela vida. Continuando na mesma linha, Gwendoline Cristie, Vanesu Samuyai, Ferdinand Kingsley e Jenna Coleman fazem de Lúcifer, Rose Walker, Hob Gadling e Johanna Constantine, relativamente, seus próprios personagens, dando uma nova cara a cada um sem nunca perder o que foi visto no Sandman original de vista.

Os pesadelos no Reino dos Sonhos

Por melhores que sejam as adaptações e atuações à tela, Sandman infelizmente sofre com um problema óbvio de ritmo. Inconstante, a série da o luxo de passar dois ou três episódios gerando expectativas para conclusões emocionantes que, embora estejam lá, aparecem de forma apressada. Totalmente oposto ao quadrinho original, a produção não dá tempo para que o espectador reflita sobre tal significado da história que acabou de consumir, fazendo com que o final de cada arco deixe uma incômoda sensação de vazio que vai se acumulando a cada episódio.

Mesmo que seja um problema de roteiro e direção, a inconsistência rítmica de Sandamn se deve à forma como a Netflix promove seus lançamentos. Ao liberar toda a temporada de uma vez, a plataforma sugere uma maratona, apesar que pareça divertida no papel, é totalmente exaustivo na prática. Obviamente, lançar os episódios semanalmente não resolveria o problema, mas talvez tornasse a experiencia de assistir mais atrativa e tornando-a menos desgastante.

Outro ponto notável e questionável da produção, é a qualidade de sues efeitos visuais. Por mais que tenha um orçamento cerca de U$$ 165 milhões, o CHI de Sandman é tão irregular quanto seu ritmo, alternando entre criaturas fantásticas belíssimas com cenários digitais totalmente artificiais e que testam a imersão do público como poucas produções de custo tão alto. As precariedades dos efeitos fazem com que seja impossível sentir o choque dos sonhos apresentados e realidade, algo totalmente essencial para Sandman quanto o próprio Morpheus, trazendo uma experiencia incompleta da história de Gaiman.

Apesar dos tropeços pontuados, a primeira temporada de Sandman na Netflix consegue corresponder a boa parte das expectativas dos fãs. Tendo menos reflexão que os quadrinhos de Gaiman, a séria ainda assim consegue entregar momentos intrigantes e emocionantes, graças ao trabalho louvável de um elenco perfeitamente selecionado. Mesmo que não repita a incomparável genialidade da HQ de 1988, o seriado é uma ótima porta de entrada para os curiosos e pode atrair uma nova geração de fãs que ainda não havia tido contato com as histórias de Sonho e seus irmãos Perpétuos.

Conheça os Perpétuos

Os sete Perpétuos são filhos de duas entidades cósmicas, a Noite e o Tempo, e por este motivo são considerado uma grande família. Eles são: Sonho, Desejo, Desespero, Destruição, Delirium, Destino e Morte. Cada um possui seu próprio reino e guardam objetos que representam seus irmãos em uma galeria.

Além de Sonho, o protagonista de Sandamn, outros Perpétuos já tiveram suas aparições na série da Netflix que adapta o arco “Prelúdios e Noturnos”. Contudo, alguns deles só devem ser apresentados na segunda temporada. Conheça as peculiaridades de cada um:

Sonho – Sonho é o terceiro Perpétuo mais velho por ordem de nascimento, mais jovem que a Morte e Destino. Rei de Sonhar, o personagem do ator Tom Sturridge também conhecido como Morpheus, Oneiros, Príncipe das Histórias e Kai’ckul ao longo da história. Seu reino é habitado por suas próprias criações, entre sonhos e pesadelos.

Morte – A segunda dos Perpétuos a existir, a Morte é a irmã mais próxima de Sonho. A personagem Kirby Howell-Baptiste é a responsável por ajudar os humanos a fazerem sua passagem no final da vida. Seu reino não foi revelado na série e nunca foi revelado nos quadrinhos, mas já foi mencionado com uma clássica frase “A Luz no Fim do Túnel”.

Desejo – Não tendo um gênero definido, Desejo é a representatividade do que as pessoas mais anseiam em suas vidas, seja cobiça, desejo material ou sexual.

Tendo aparição pela primeira vez no arco “Casa de Bonecas” e tem uma relação perturbadora com os irmãos, especialmente com o Sonho. Seu reino é representado por uma estátua de seu próprio corpo e é conhecido como Liminar.

Mantendo totalmente a representatividade dos quadrinhos, a série da Netflix também escalou Mason Alexander Park, artista não binário, para interpretar Desejo.

Desespero – Irmã gêmea de Desejo, também apresentada em “Casa de Bonecas”. Ela representa os medos, angústias e ansiedade nas pessoas e no universo.

Nas HQs, é ilustrada como uma mulher gorda, de pele cinzenta e que está sempre nua. A personagem interpretada por Dona Preston na séria da Netflix é a responsável pelo “Reino Cinza”, um local repleto de névoa, neblina e espelhos flutuantes.

Delirium – A mais jovem dos irmãos, Delirium é uma garota com um sério déficit de atenção e que nunca consegue terminar suas frases ou manter uma conversa coesa. Por conta disso, ela acaba sendo incompreendida e subestimada pelas pessoas, inclusive pelos seus irmãos Perpétuos.

Dona do reino caótico, ela controla a sanidade e a loucura da raça humana. A personagem possui uma habilidade da metamorfose e está constantemente mudando de forma para adequar seu humor a sua aparência. Delirium também é responsável por dar início à busca do Perpétuo desaparecido: Destruição.

Destino – O mais velho dos irmãos, Destino surgiu assim que o primeiro ser capaz de existir no universo apareceu. Ele sempre anda com um livro, que contém o destino de todos os seres vivos que existem, que já existiram e que vão existir.

Sem interferir no ciclo natural da vida, ele vive usando um manto, carrega seu livro acorrentado ao próprio corpo e seu reino é um Jardim. Destino é o único Perpétuo que não foi criado por Neil Gaiman e sim por Marv Wolfman e Bernie Wrightson, em “Weird Mystery Tales #1”, de 1972.

Destruição – Destruição é o Perpétuo que abandonou seu reino há cerca de 300 anos para viver com a raça humana. Mesmo representando a devastação, ruína e as guerras, ele tomou a decisão por conta dos avanços tecnológicos desenvolvidos pelo homem, pois sabia que seria usado para criar armas letais como uma bomba atômica.

Não tendo contado com a família, ele passou a viver isolado e se dedicando às artes, como pintura. Mesmo portando um nome tão impactante, Destruição é o mais gentil, depois da Morte.

Lonely Boy
Enviado por Lonely Boy em 10/08/2022
Código do texto: T7579683
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