A renascença espanhola

Durante o século XVI e o início do XVII a Espanha refulgiu no auge de sua glória. Suas conquistas no Hemisfério Ocidental proporcionaram riqueza aos nobres e mercadores espanhóis e lhe deram uma posição na vanguarda dos estados europeus. Não obstante esses fatos, a nação espanhola não foi uma das vanguardeiras da renascença cultural. Seus cidadãos, parece, estavam por demais absorvidos no saque dos territórios conquistados para dedicar grande atenção às atividades intelectuais e artísticas.

Além disso, a longa guerra com os mouros engendrou um espírito de carolice e a posição da Igreja era muito forte, ao passo que a expulsão dos judeus, no fim do século XV, privou o país do talento que mal tinha para dar. Por essas razões, a renascença espanhola se limitou a um número muito pequeno de realizações no campo da pintura e da literatura, ainda que algumas delas igualam em valor as melhores produzidas noutros países.

A pintura espanhola, por exemplo, foi profundamente marcada pela certa luta entre cristãos e mouros. Exprime, por isso, uma intensa preocupação religiosa e versa sobre temas angustiosos e trágicos. Seus fundamentos são medievais, com a mescla de certas influências de Flandres e, mais tarde, da Itália. O primeiro pintor espanhol eminente foi Luis de Morales ( 1517-86), frequentemente chamado ( O Divino). Suas madonas, seus crucificados e suas imagens da Mater Dolorosa estampam a mais aguda devoção à ortodoxia católica, considerada por muitos espanhóis dessa época como um dever tanto religioso como patriótico.

Por outro lado, o mais talentoso artista da Renascença espanhola não foi, porém, um espanhol, mas um imigrante, vindo da ilha de Creta. Seu verdadeiro nome era Domingos Theotocopuli, mas foi comumente chamado El Greco. Depois de estudar por algum tempo com Ticiano em Veneza, El Greco, aproximadamente em 1575, estabeleceu-se em Toledo até a sua morte, em 1614. Sendo um inflexível individualista por temperamento, parece que El Greco sofreu muito pequena influência da escola veneziana quanto às cores quentes e a alegria serena do esplendor dos cetins.

Em lugar disso, quase toda a sua arte tem sido caracterizada por um emocionalismo febril, pela pura tragédia ou por arrebatadas fugas para o sobrenatural e o místico. Suas figuras são quase sempre as de fanáticos esqueléticos e quase loucos, as cores frias e acinzentadas, enquanto as cenas de sofrimento e morte parecem armadas de propósito para dar a impressão de horror. Entre as suas obras famosas estão O enterro do Conde de Orgãz, Pentecostes, e A visão apocalíptica.

Melhor que qualquer outro artista, El Greco exprimiu o inflamado zelo religioso do povo espanhol nos dias do fanatismo jesuítico e da inquisição.

A literatura da Renascença espanhola apresenta certas tendências em comum com as da pintura. Isso foi particularmente verdadeiro no teatro, onde com frequência foram apresentadas peças alegóricas que descreveram o mistério da transubstanciação ou apelaram para o fervor religioso.

Outras produções dramáticas insistirem em temas de orgulho político ou cantaram os méritos da burguesia, exprimindo desprezo pelo mundo do feudalismo em ruínas.

O mais alto representante dos dramaturgos espanhóis foi Lope de Vega ( 1562-1635), o mais prolífico autor de peças teatrais que o mundo literário já conheceu.

Pensa-se que tenha escrito nada menos de 1500 comédias e mais de 400 alegorias religiosas. Desse total chegaram aos nossos dias 500 obras. Seus dramas seculares poderiam ser divididos principalmente em duas classes:

1) as peças de ( capa e espada), que pintam intrigas violentas e exageram os ideais de honra das classes superiores, e

2) as peças de grandeza nacional, que celebram as glórias da Espanha no seu auge e representam o rei como o protetor do povo contra uma nobreza viciosa e degenerada.

Outro dramaturgo notável da Renascença espanhola é Tirso de Molina ( 1571- 1648), cuja fama reside principalmente na sua dramatização da história de Dom Juan, um nobre perverso que termina destruindo a si mesmo por um misto de bravura e vilania.

Poucos negarão que o escritor mais bem dotado da Renascença espanhola tenha sido Miguel de Cervantes ( 1547-1616). Sua grande obra-prima, Dom Quixote, já foi até dada como ( incomparavelmente o melhor romance já escrito). Composto nas melhores tradições da prosa satírica espanhola, conta as aventuras de um cavalheiro espanhol, ( Dom Quixote) que ficou meio desequilibrado em virtude da leitura constante de romance de cavalaria.

Com a mente cheia de todas as espécies de aventuras fantásticas, aos 50 anos parte finalmente pela estrada incerta da vagabundagem dos cavaleiros. Imagina que moinhos de vento foram gigantes enfurecidos, e rebanhos de ovelhas, exércitos de infiéis, cabendo-lhe o dever de descartá-los com a espada.

Em sua imaginação enferma, toma estalagens por castelos e as cria, por damas galantes perdidas de amor por ele. Os galanteios que elas não tinham a intenção de fazer, ele os repelia muito polidamente, a fim de provar a devoção que consagrava a sua Dulcinéia. Posta em contraste com o ridículo cavaleiro andante, há a figura de seu fiel escudeiro Sancho Pança.

Este representa o ideal do homem prático, com os pés na terra e satisfeito com os prazeres concretos do comer, beber e dormir.

Todo o livro é uma sátira pungente do feudalismo, particularmente das pretensões dos nobres como campeões da honra e do direito. Sua enorme popularidade foi uma prova cabal de que a civilização medieval estava quase totalmente extinta, mesmo na Espanha.

Lahcen EL MOUTAQI

Professor universtário- Marrocos

ELMOUTAQI
Enviado por ELMOUTAQI em 25/04/2022
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