Loi Duc: Paisagem humana em profusão / Loi Duc: Human landscape in profusion
Loi Duc: Paisagem humana em profusão
O que há de mais humano em todas as civilizações, em todas as culturas, religiões, filosofias, conceitos e visões de mundo? A possibilidade de escolha, de livre arbítrio, de brigar ou não brigar, de estar ou não estar, de ir ou não ir. Também a tenacidade, a persistência, a força sem a qual, nenhum projeto humano tem lugar. A vida por si só já é um fim em si mesma. E celebrar essa labuta, essa luta, essa batalha diária é o que Loi Duc nos apresenta em suas pinturas.
Corpos que se contorcem, que se dobram, que se amam, que se odeiam, que se discordam, que se aglutinam, que se transformam... Paisagem humana em profusão, cuja debilidade e pujança, ao mesmo tempo, desafiam nossa percepção usual.
O artista tem em Michelangelo e na pintura da Alta Renascença italiana, seu referencial e influência maior. Também a temática de Céu e inferno, Deus e o diabo. Contudo, toda essa influência se transubstancia num grande e complexo todo de todas as conspirações, de todas as revoluções, de todos os manifestos, de criação, vida e morte da humanidade em todos os tempos. De hoje ou de mil séculos atrás ou eras atrás, não importa... O que importa para Loi Duc é traçar o atemporal humano em todas as suas vertentes, em todas as suas faces e em todas as suas possibilidades. E essa dura e penosa vida humana, tragédia ou comédia humana em baixos níveis ou em altos níveis é experimentada exatamente da mesma forma há milênios, há kalpas. O ser humano sempre ansiou por melhores condições de existência ou subsistência. Por melhores percepções revolucionárias ou rebeldes. Por melhores estados de entendimento, de compreensão, de fraternidade e verdade.
Em “In there’s have some people don’t like us” Loi Duc parece se perguntar se esse drama será eterno, se algum dia teremos paz na Terra. Ou se eternamente nos digladiaremos uns com os outros, nas diversas camadas da sociedade. Pintando com óleo, sua fatura pictórica é refinada e, ao mesmo tempo, propositalmente deixada por acabar, como se dissesse: o seu imaginário pode completar a pintura como quiser. Nesse sentido, o drama cósmico não tem fim, mas tem um lado claro na pintura de Loi Duc. O lado dos desprovidos, dos que necessitam ajuda. O lado do discordante. O lado do comunismo. Contra a elite, contra os que espoliam e matam de fome a maioria que nem de voz, nem de vez, pode desfrutar.
O comunismo como corrente que visa a eliminação das classes sociais, o igualitarismo, propriedade comum dos meios de produção. Toda a tônica desse pensamento aparece com vontade, força e vitalidade em suas pinturas. A foice e o martelo sempre surgem no emaranhado de corpos... Uma marca registrada do artista? Ou uma realidade vivida, experienciada, dia a dia, como militância política e social? Não importa, porque seu trabalho artístico fala por si mesmo.
Aliás, a militância, se existe, não restringe sua artisticidade, de modo algum. Ao contrário, a complementa de muitas formas. Sua verve vai além de todas as camisas de força. Loi Duc apresenta seus quadros com extrema voluptuosidade. Assertividade de excelência pictórica. Em “Inside the blanket” os “corpos nuvens” se interpenetram, com sofreguidão, indo ora ao encontro, ora ao desencontro uns dos outros. Essa dinâmica ou estética da tragédia humana – ou da comédia humana, conforme já foi dito – tem como referência a música de Pink Floyd, nas palavras do próprio pintor.
Dessa forma, temos o artista em estado de presença humana, sobretudo humana. De modo que, onde se vê máquinas, tecnologias, animais e figuras mitológicas juntamente com seres humanos, se vê que tais artefatos ou símbolos existem como relação ao humano. A medida é humana. Loi Duc sabe que a poeticidade de sua pintura reside nisto, exatamente nisto: seu humanismo. Seu mais profundo humanismo. Longe dos outputs e inputs cibernéticos, longe do cientificismo e da desumanização, longe das fins que justificam os meios. Próximo do que o torna mais humano: a possibilidade de sonhar, de imaginar. Em uma palavra, a utopia.
Mauricio Duarte (Divyam Anuragi)
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Loi Duc: Human landscape in profusion
What is most human in all civilizations, in all cultures, religions, philosophies, concepts and worldviews? The possibility of choice, of free will, to fight or not to fight, to be or not to be, to go or not to go. Also tenacity, persistence, the strength without which no human project takes place. Life in itself is already an end in itself. And celebrating this toil, this struggle, this daily battle is what Loi Duc presents us with in his paintings.
Bodies that writhe, that bend, that love each other, that hate each other, that disagree, that coalesce, that transform... Human landscape in profusion, whose weakness and strength, at the same time, defy our usual perception.
The artist has in Michelangelo and in the painting of the Italian High Renaissance, his reference and greatest influence. Also the theme of Heaven and Hell, God and the devil. However, all this influence is transubstantiated into a great and complex whole of all conspiracies, of all revolutions, of all manifests, of creation, life and death of humanity at all times. From today or a thousand centuries ago or ages ago, it doesn't matter... What matters to Loi Duc is to trace the timeless human in all its aspects, in all its faces and in all its possibilities. And this hard and painful human life, human tragedy or comedy at low levels or at high levels is experienced in exactly the same way for millennia, there are kalpas. The human being has always yearned for better conditions of existence or subsistence. For better revolutionary or rebel perceptions. For better states of compreehension, understanding, fraternity and truth.
In “In there’s have some people don’t like us” Loi Duc seems to wonder if this drama will be eternal, if we will ever have peace on Earth. Or if we will eternally fight with each other, in the different layers of society. Painting with oil, his pictorial work is refined and, at the same time, purposely left unfinished, as if to say: your imagination can complete the painting as it wishes. In this sense, the cosmic drama has no end, but it has a clear side in Loi Duc's painting. The side of the destitute, of those who need help. The dissenting side. The side of communism. Against the elite, against those who dispossess and starve the majority that neither voice nor time can enjoy.
Communism as a current that aims to eliminate social classes, egalitarianism, common ownership of the means of production. The whole tone of this thought appears with will, strength and vitality in his paintings. The hammer and sickle always appear in the tangle of bodies... A trademark of the artist? Or a reality lived, experienced, day by day, as political and social militancy? It doesn't matter, because your artwork speaks for itself.
In fact, militancy, if it exists, does not restrict its artisticity in any way. On the contrary, it complements it in many ways. His verve goes beyond all straitjackets. Loi Duc presents his paintings with extreme voluptuousness. Assertiveness of pictorial excellence. In “Inside the blanket” the “cloud bodies” interpenetrate each other, eagerly, sometimes meeting each other, sometimes not meeting each other. This dynamic or aesthetic of human tragedy – or human comedy, as has been said – has as a reference the music of Pink Floyd, in the painter's own words.
In this way, we have the artist in a state of human presence, above all human. So, where you see machines, technologies, animals and mythological figures together with human beings, you see that such artifacts or symbols exist in relation to the human. The measure is human. Loi Duc knows that the poeticity of his painting resides in this, exactly in this: his humanism. His deepest humanism. Far from cybernetic outputs and inputs, far from scientism and dehumanization, far from the ends that justify the means. Close to what makes him more human: the possibility of dreaming, of imagining. In a word, utopia.
Mauricio Duarte (Divyam Anuragi)