HISTÓRIA DO BRASIL: JÁ FOMOS CHAMADOS "BRASÍLICOS"
Desde o século XVII, época das invasões holandesa e francesa, os habitantes da América portuguesa eram identificados regionalmente: os pernambucanos, os paulistas, a gente do Rio de Janeiro, os moradores da Bahia... Viviam em comunidades e, claro, tinham interesses comuns. No inter-relacionamento grupal - portugueses, indígenas e africanos - forjava-se uma linguagem característica do grupo, tal que chegou a despertar preconceitos em Lisboa. O padre Antônio Vieira cita esse fato para o rei dom João IV em carta que menciona a rendição dos holandeses em Recife.
Nessa mesma época vinham sendo constituídas as sociedades luso-angolanas, luso-cabo-verdeanas, luso-guineenses e luso-moçambicanas, assim como culturas luso-indianas, em Goa, e uma identidade regional sino-portuguesa, em Macau. Nem todas vieram a constituir uma nova nação. A Índia reincorporou Goa e outros enclaves índico-portugueses, enquanto Macau (hoje com menos de 1% da população falando português) sobrevive cercada de águas chinesas.
Nada obstante o impacto da colonização luso-africana na América do Sul ter proporcionado um destino histórico mais efetivo aos enclaves aqui formados esporadicamente, a percepção da unidade de território e da cultura da América portuguesa se deu com bastante atraso.
O padre Fernão Cardim, 1594, usou pela primeira vez o termo "Brasílico" para distinguir os "reinóis" dos moradores dos enclaves coloniais. Em 1675, o mesmo termo é consagrado no livro de Brito Freyre. Ele cita os "portugueses brasílicos" como agentes históricos que se destacaram na guerra contra os holandeses.
No século XVIII, surgiram os termos:
- "brasiliense" - para referir-se aos indígenas. e
- "brasileiro" - para referir-se aos cortadores de pau-brasil.
O dicionário Houaiss traz o vocábulo "brasileiro" - substantivo - com o significado atual de habitante do Brasil, registrado pela primeira vez em 1706 quando a corrida do ouro começava a atrair, para a futura capitania de Minas Gerais, moradores provindos de outras capitanias, distintos, na sua generalidade, dos "reinóis" recém-chegados às feiras e outros lugares mineiros.
(fernandoafreire)
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Obra consultada:
"África - Brasil - Caminhos da língua portuguesa"
Organização: Charlotte Galves, Helder Garmes, Fernando Rosa Ribeiro.
Editora UNICAMP
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