O MISTÉRIO NA CASA DE AMÉRICA
No universo associativo-cultural rio-grandense destacam-se ações de fomento à prosa e ao verso que desembocam naturalmente na edição de livros, jornais e outras publicações impressas, também na virtualidade internética.
Em vários ambientes públicos, na capital, Porto Alegre, e no interior do Estado do RS, constata-se a existência de inúmeros festivais artísticos que congeminam a poética originária de raiz urbana e a vertente do campesinato, com as mais variadas espécies de expressões musicais.
Tudo isto assentado na oralidade de um povo bem-falante que curte a palavra através de concursos de declamação, de recitação e de um sem-número de saraus que congregam a poesia, o teatro e a dança.
O RS conta, desde o início da década de 60 do século XX, neste expressivo universo artístico, de três sodalícios fundados e dinamizados pelo ativista cultural Nelson Fachinelli, que nos deixou em 2006. São elas a Casa do Poeta Rio-Grandense – CAPORI; a Casa do Poeta Brasileiro – POEBRAS Nacional e a Casa do Poeta Latino-americano, a CAPOLAT. Este último sodalício corporativo acima nominado tem como proposta, segundo o seu idealizador, fomentar a confraternidade entre os intelectuais e artistas latino-americanos, a partir dos países que integram o MERCOSUL. Em última análise, integrar, especialmente através de ações culturais, o idioma espanhol e o português; tarefa que vem sendo encetada a duras penas, especialmente nesta segunda década do séc. XXI.
A jornalista Marinês Bonacina, presidente da CAPOLAT desde 2007, vem costurando signos, almas e corações, com dedicação, empenho e pertinácia. E é graças a esta destacada figura de mulher, mãe, ativista cultural e poeta, que podemos, com esta recolha de textos éditos e inéditos, ter uma ideia mínima de como convivem os brasileiros e os hermanos que sonham (e tecem), no ventre de suas nações, a fraternidade e união entre os povos formando a grande pátria espiritual latino-americana.
A palavra tem dom e sacralidade, mesmo levando-se em conta que a poética não pertence ao plano da realidade, nem se destina a interferir diretamente nela. No entanto, parece ser caminho digno e honesto a ser trilhado, respeitando a axiologia peculiar aos povos de tão importantes e valiosas tradições culturais civilizatórias autóctones, de que são exemplos os astecas, os maias, os incas, os tupi-guarani.
Tenham os leitores bons momentos de encanto e lazer, através do “estranhamento” que é proporcionado aos que se deixam envolver pela Poesia, que é o gutural sussurrar do Mistério – e pode, por vezes e situações, vir a ser a chave para a Felicidade, que a sabemos sempre fugidia, volátil, especialmente nestes anos iniciais do terceiro milênio, que, segundo Zygmunt Bauman e o que da obra deste pensador se depreende, são chegados os tempos de pós-modernidade líquida.
E nestes, só para que nos déssemos conta, o mundo circundante resultante da globalização é, e ao mesmo tempo, não é. Neste contexto, a Poesia salva o humano através do sentir, que é o seu elemento psicoquímico de inexorável nobreza.
Porto Alegre, RS, 25 de dezembro de 2021.
Joaquim Moncks
Coordenador Executivo da Casa do Poeta Brasileiro – POEBRAS Nacional
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