Poesia e Música em Arthur Schopenhauer
O filósofo alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860) considerava que o mundo tinha como essência uma força avassaladora, cega e irracional, que ele denominou de Vontade. Segundo ele, sendo a vida um querer sem fim, ela é primordialmente sofrimento.
De acordo com esse filósofo, que ficou conhecido como pessimista, há uma maneira de interromper temporariamente o sofrimento — é por meio da contemplação artística.
Afirma Schopenhauer (2005) que, enquanto a ciência investiga a multiplicidade dos fenômenos encadeados segundo o princípio da razão, as artes vão além e tem acesso ao conteúdo essencial, eterno e imutável, que são as Ideias. As artes reproduzem tais Ideias eternas, das quais já ensinava Platão. De modo que Schopenhauer estabelece uma hierarquia artística que vai da arquitetura à música.
Todos nós seríamos objetivações da essência metafísica do mundo, a Vontade, no entanto as Ideias seriam suas objetivações mais próximas e existiriam independentemente de toda mudança.
A poesia é a segunda na hierarquia das artes mais elevadas. Como as demais artes, ela revela as Ideias. Comunicando conceitos abstratos, ela fala à intuição estética por meio da fantasia. O ritmo e a rima nos cativam, devido a algo em nossa própria natureza, a seguir a mensagem da poesia antes de qualquer consideração de causalidade. O ser humano com toda a generalidade dos seus sentimentos e ações é o objeto da poesia: "Pois o poeta é propriamente o homem em geral; tudo o que agitou o coração dum homem qualquer e que é produzido pela natureza humana em qualquer situação, que habita e fervilha num peito humano, constitui seu tema e sua matéria, como a seu lado também a totalidade da natureza" (SCHOPENHAUER, 2005, p.328).
A magna arte, porém, é a música, enquanto as demais artes contemplam as Ideias, as objetivações imediatas da Vontade, a música contempla a própria Vontade. De maneira que para Schopenhauer (2005), sendo a música uma espécie de cópia da essência do mundo, haveria um certo paralelismo entre as estruturas do mundo orgânico e inorgânico, incluindo o ser humano e suas aspirações racionais, com as composições dessa grandiosa arte.
Diz Schopenhauer (2005, p.342) que "o compositor manifesta a essência mais íntima do mundo, expressa a sabedoria mais profunda, numa linguagem não compreensível por sua razão: como um sonâmbulo magnético fornece informações sobre coisas das quais, desperto, não tem conceito algum".
Isso me leva a refletir nas vezes em que lendo poesia ou, mais intensamente ainda, ouvindo música tenho a impressão de estar tendo acesso a um conteúdo que escapa a compreensão racional e diz respeito ao âmago daquilo que somos. Se as artes nos permitem contemplar essa dimensão metafísica inacessível à razão, mas que fala ao que há de mais íntimo em nós, temos um mais forte motivo para mergulharmos nesse mar espiritual de deleites incalculáveis.
Referências
SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e como representação. Unesp, 2005.