O lado bom da fofoca
Ainda no século XX, a partir de sua obra Casa Grande & Senzala, o grande sociólogo Gilberto Freyre já dizia que, no bom sentido, a fofoca fazia bem.
Sem as redes sociais de hoje, as fofocas eram tete a tete. Nos meus velhos tempos, quando ainda criança e adolescente, o ambiente mais propício para as fofocas eram as farinhadas. Por meio de mutirões, compostos de homens e mulheres, as tarefas eram distribuídas distatamente, de modo que homens e mulheres ficavam com tarefas diferentes. Enquanto elas descacavam a mandioca ou peneiravam a massa, eles no rodo para mexer a farinha no forno ou no veio da roda para fazer girar o ralador.
Entre elas, as fofocas iam longe, quando era apontar a comadre que fugiu com o amante, na garupa de um cavalo. Entre eles, as mentiras de pescador ou de caçador.
Quando muito, também suas aventuras secretas,talvez também com aquela que fugiu no cavalo.
Hoje, as fake-news, até judicializadas, quando em prejuízo da coletividade.
A mais recente, em protesto ao preço da gasolina, mostra a imagem de um incêndio num posto de gasolina, ocorrido em 2015, como se fosse recente. Uma forma de atacar o Presidente, a quem se atribui a inflação.
Eu, também quando era criança, ouvia meu pai reclamar da carestia, quando voltava da feira.
Outro tipo de fofoca, nas cidades do interior, era à noitinha, quando as vizinhas sentavam nas calçadas para futricar.
Estas, segundo Gilberto Freyre, não causavam prejuízo. Só fazia bem, para quem não tinha televisão, sem novela, "sem rádio e sem notícias das terras civilizadas."