A Mídia que mata -- A solução final
Desde há algumas décadas quando, levada pela urgência em favorecer determinadas agendas, a Mídia tornara-se um reduto de militantes, o compromisso em comunicar os fatos passou a ter uma importância secundária. Mesmo quando trata de elementos factuais, ela o faz desde o seu confortável crivo ideológico. Praticamente nada escapa ao filtro do politicamente correto.
Que as pessoas comuns, como o público do Silvio Santos ou os telespectadores do Faustão, permitam-se guiar pela narrativa da jornalista bonitinha do horário nobre, é compreensível. Mas basta consultar um professor das antigas ou ler as memórias de algum intelectual da velha guarda para constatar que, no Brasil de meados dos anos 1960 e até 1970, qualquer intelectual que se guiasse pelas informações da mídia era objeto de chacota.
Entre aqueles que, profissional ou vocacionalmente, buscavam um aprimoramento intelectual, uma ascese cultural, era consenso que o objeto de interesse da Mídia era o povo, as pessoas simples, despretensiosas de grandes saberes e comprovações. O filósofo Olavo de Carvalho, num estudo sob o título de Imprensa e Cultura, demonstra que o período no qual a Mídia popular ecoava a produção cultural acabara, restando-lhe o humilde encargo de dar forma à Cultura em sua quase totalidade.
Observa-se, então, que a reboque com o encargo de formar a própria Cultura que a Mídia arrogara-se, veio a criação de novos parâmetros de linguagem com os quais as pessoas passaram a se comunicar sob o grave risco de não serem compreendidas; pior, de serem marginalizadas. O professor Olavo demonstra ainda que, nos anos 1960, quando um monopólio da narrativa esquerdista esboçava o controle da Mídia, culminando, efetivamente, no domínio das narrativas oficiais por meio da ocupação de espaços, nenhum jornal noticiara o ocorrido.
Nenhum veículo de comunicação de peso teve colhões em dizer, ainda que numa nota de rodapé: "Extra! Extra! Mudança ideológica no quadro editorial nacional! Extra! Extra!". Nenhuma palavra. Consequentemente, o monopólio do esquerdismo na Mídia brasileira impôs-se a título de norma, como se ele fosse mesmo a regra incontestável sobre a qual ditar-se-ia a integralidade das ações nas redações dos jornais, nos campus das universidades, nas associações civis e em tutti quanti.
Assim, tudo o que estava para além das fronteiras do esquerdismo passou a ser considerado esquisito, desprezível e quiçá perigoso. Num regime democrático a norma é a alternância do poder político, o que implica no revezamento da matriz ideológica da classe falante. Isto é normal. Contudo, quando, levado por um projeto de poder que flagrantemente viola a dinâmica natural da alternância dos discursos, um determinado grupo apossa-se do megafone da Mídia sem a mínima pretensão de entregá-lo à disputa, quem paga o pato é o povo.
A principal consequência desse monopólio esquerdista da linguagem é a imposição de uma barreira entre a experiência sensorial e a sua expressão: receoso das consequências de se infringir quaisquer dos mandamentos do politicamente correto, o cidadão comum vê-se obrigado a dizer que viu um pau, quando na verdade vira uma pedra. Daí a força psicológica da militância de gênero; da liberação das drogas; dos "direitos" dos animais e das árvores; do aborto, do casamento homossexual; da pedofilia et caterva.
É evidente também que esse monopólio ideológico é um importante avanço na agenda revolucionária que, para a informação dos iludidos que ainda interpretam o quadro na clave de capitalistas versus proletariado, sofreu um salto qualitativo extraordinário: desde, pelo menos, os anos 1960, o campo de batalha não é mais o chão da fábrica ou as avenidas, mas a esfera psicológica, moral; a guerra é cultural.
Um comportamento que tipifica o desarranjo das coisas no Brasil é a forma como a Mídia anuncia a atuação dos intelectuais -- ou mesmo dos cidadãos comuns, mas com alguma proeminência -- que ousaram não ser de esquerda: o primeiro dado biográfico do sujeito é o famoso "fulano de tal é de… direita", quando não, malograda a piedade do narrador, "de extrema direita". Ora, é como se não se assumir esquerdista fosse um pecado grave cujo perdão só poderá ser concedido mediante a penitência de, do alto de um banco de praça, gritar aos quatro ventos: "Confesso a Karl Marx, todo poderoso, e a vós, camaradas, que pequei muitas vezes (…)".
Toda mentira afasta o indivíduo da realidade. Coloca-o distante da bondade, da beleza. E nenhuma fealdade supera aquela do homem que, sem esperanças de encontrar a si mesmo, põe termo à própria vida porque foi incapaz de suportar o peso da negação da realidade, e já não considera a possibilidade do arrependimento. A Mídia, enquanto instrumento da perversidade das ideologias, é uma fábrica de suicidas covardes que só conservam a dinâmica da hematose porque a virtude maior que lhes fora inoculada é precisamente a covardia.