PAGANISMO E PSICOLOGIA NA IDADE MEDIEVAL

UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO

CAMPUS GARANHUNS

CURSO DE BACHARELADO EM PSICOLOGIA

ALEX DIONYS VIANA, PABLO NATAN MACEDO DOS SANTOS. RAUL MAGALHAES BRASIL. RICARDO PAES DOS SANTOS. YÚRI GABRIEL FERREIRA.

PAGANISMO E PSICOLOGIA NA IDADE MEDIEVAL

Trabalho apresentado ao Curso de Bacharelado em Psicologia da Universidade de Pernambuco (UPE) como requisito avaliativo para a disciplina de Fundamentos Epistemológicos da Psicologia.

CONTEXTO HISTÓRICO DA IDADE MÉDIA

A Idade Média pode ser dividida em dois períodos que compreendem sua extensa duração. O primeiro desses períodos sendo chamado de “Alta Idade Média”, que compreende o século V ao século X, e o segundo período sendo chamado de “Baixa Idade Média”, compreendendo o século X ao século XV.

Se considerados os fatos históricos demarcadores, é possível dizer que a Idade Média se encontra entre o último imperador romano ocidental deposto (em 476 depois de cristo) e a conquista dos turcos sobre a cidade de Constantinopla (em 1453). A queda de Constantinopla abalou toda a cultura ocidental e pôs em xeque a hegemonia da fé católica, diluindo o poder que tinha sobre o inconsciente coletivo da época, o que torna este evento um acontecimento decisivo não só para a expansão e domínio dos turcos otomanos sobre territórios ocidentais, mas também para a emancipação intelectual no ocidente, que culmina na chamada renascença e nas filosofias humanistas (CHAGAS;REIS;XAVIER, 2017).

É tarefa árdua sintetizar os acontecimentos do período quase milenar que foi a Idade Média, e caracterizar o espírito dessa época tão controversa, porém Chagas, Reis e Xavier conseguem, através da delimitação de alguns fatos históricos, oferecer uma visão geral que caracteriza historicamente o que foi a Idade Média:

Dentre tantos fatos ocorridos, podemos citar: inúmeras invasões territoriais, guerras constantes, formação de vários reinos independentes, consolidação do sistema feudal com a economia baseada na agricultura, mão de obra servil com a relação de vassalagem entre servos e senhores, ruralização geral do continente, pouco uso de moedas, escassos contatos comerciais externos, fusão da cultura romana com a germânica, teocentrismo e enfraquecimento da cultura laica, fortalecimento do cristianismo e crescimento do poder interventivo da igreja católica com exacerbação de poderes. (CHAGAS; REIS; XAVIER, 2017, p. 2)

É importante salientar que “Idade Média” é um termo usado para designar o período histórico “intermediário” entre a antiguidade e o período da renascença. Esse termo foi cunhado por autores renascentistas e pré-renascentistas de maneira pejorativa, numa tentativa de invalidar a produção medieval e colocá-la num lugar de “nulidade” frente aos “grandiosos” períodos entre os quais a Idade Média está inscrita. De tal modo que a Idade Média seria um período “infértil”, de transição entre uma época e outra da história.

Francesco Petrarca (1304- 1374), pesquisador, poeta e filósofo, admirador dos clássicos, fazia referência ao período anterior como tenebrae: dando origem ao mito historiográfico da Idade das Trevas. Giovanni Andrea (1584-1638), bibliotecário papal falava em media tempestas, se referindo literalmente à existência de um tempo médio, com sentido figurado de flagelo e ruína. O pintor Rafael (1483-1520) chamou-a grosseira, tempo de arte gótica. Rabelais (1483- 1553) falava da Idade Média como a espessa noite gótica. O termo ficou consagrado com a publicação do manual escolar do alemão Christopher Keller, Cellarius em Latim, pedagogo, publicado em 1688 sob o título Idade Média: da época do Imperador Constantino (324) até a tomada de Constantinopla pelos turcos em 1453 (LOYON, Henry R. apud. PONTAROLO; SCHIPANSKI, 2009. p. 13)

Essa visão que tinham os renascentistas sobre a Idade Média foi adotada e alimentada pelos iluministas de modo que até a contemporaneidade esse período foi visto como um período de imundice, barbaridade, guerras e irracionalidade. Somente em meados do século XX, com trabalhos de historiadores como Jacques Le Goff e Marc Bloch é que esse estigma passou a ser questionado. Pode-se dizer que Le Goff foi um dos grandes responsáveis por fazer esse “resgate” historiográfico do que de fato veio a ser a Idade Média. Esses historiadores, diante de seus estudos, concluem que não existe “uma” Idade Média, senão, várias idades médias, como apontam Pontarolo e Schipanski:

A Idade Média foi aquela fanática na fé, violenta nas batalhas, impiedosa nas tradições, terrível com suas epidemias. Mas também foi a Bela Idade Média, tão defendida por Jacques Le Goff. Foi a época da riqueza na arte, do surgimento das primeiras universidades, das grandes inovações arquitetônicas, do apelo à natureza, da adoção da rotatividade trienal e outras inovações na agricultura da explosão demográfica. (PONTAROLO; SCHIPANSKI, 2009, p. 15)

É importante ressaltar que os iluministas assim se denominavam pois visavam fazer frente direta à hegemonia do pensamento religioso cristão e do poder centrado na figura do monarca, como era visto nos governos absolutistas da idade moderna. Entendendo o clericalismo como uma engrenagem na manutenção do poder totalitário, conceber a Idade Média como a “Idade das Trevas” e a esta contrapor-se ao chamando-se de “Iluministas” é um artifício conveniente nesse embate filosófico e ideológico. Pensadores como Voltaire concebiam os tempos medievais como “um período brutal e absurdo no qual a Europa esteve mergulhada, como se fosse uma longa noite de mil anos de trevas” (CHAGAS; REIS; XAVIER, 2017. p. 5). Os medievalistas do século XX, em sua tentativa de lançar olhares mais realistas ao entendimento histórico da Idade Média, discordam dessa visão distorcida que tiveram pensadores como Voltaire e apontam para o fato de que a Idade Média foi um período de intensa produção técnica e intelectual, que alicerçou a construção da sociedade ocidental como a conhecemos e possibilitou as revoluções científicas e filosóficas presenciadas na idade moderna. O pensamento do filósofo francês Émile Durkheim é discordante de seu conterrâneo Voltaire, e vai de encontro ao dos medievalistas do século XX. Segundo o sociólogo:

Nada mais inexato, porém, do que essa concepção da Idade Média e, portanto, nada mais impróprio do que a palavra com a qual essa época é designada. Muito longe de ter sido um simples período de transição, sem originalidade, entre duas civilizações originais e brilhantes, é, ao contrário, o momento em que se elaboraram os germes fecundos de uma civilização inteiramente nova (DURKHEIM, E. 1995, p. 37)

Fatores como a diminuição da frequência de invasões bárbaras e mudanças climáticas favoráveis proporcionaram um período de intenso desenvolvimento econômico e tecnológico na Idade Média, sobretudo a partir do século XIII, fato que leva diversos cientistas e pensadores a conceber a Idade Média não como um período de obscurantismo e barbárie, mas sim como um período de fertilidade e desenvolvimento intelectual. Santos (2018) aponta para o fato de que a Idade Média precedeu o processo de “mecanização” do homem e do trabalho que se observou nas fábricas da revolução industrial, visto que o primeiro contato do homem com a máquina acontece já na Idade Média. Os elementos fundamentais da técnica moderna, como o relógio, a imprensa, o moinho, a bússola, o tear, o torno, a pólvora foram desenvolvidos na Idade Média, e antecederam a produção industrial que estaria por vir. Nos mosteiros observou-se pela primeira vez a manifestação de uma forma de ordem e administração do trabalho análogos aos vivenciados na modernidade, as formas organizacionais vistas em mosteiros como os beneditinos são a aurora dos sistemas contemporâneos de ensino e divisão do trabalho. Segundo Mário Ferreira dos Santos: “São os beneditinos em grande parte os fundadores do capitalismo moderno” (SANTOS, 2018. p. 19).

Não só na economia e na técnica, a Idade Medieval demonstra um notório desenvolvimento, mas também (e sobretudo) na educação. O modelo atual de escola e universidade concebido na civilização ocidental foi construído sobremaneira a partir do legado da Companhia de Jesus, cujo modelo organizacional se faz presente até os dias de hoje nas universidades públicas e privadas. Sobre o desenvolvimento escolar e pedagógico compreendido na Baixa Idade Média, Durkheim diz:

Escolas de catequização das igrejas, escolas claustrais monásticas, eis o gênero muito humilde e modesto donde saiu todo nosso sistema de ensino. Escolas elementares, universidades, colégios, tudo nos veio de lá; e eis por que de lá precisamos partir. E porque nossa organização escolar, em toda sua complexidade, derivou mesmo dessa célula primitiva é que ela também nos explica, e somente ela pode, alguns dos caracteres essenciais que têm apresentado ao longo de sua história ou manteve até os dias de hoje. (DURKHEIM, 1995, p. 30)

Em detrimento dos fatos supracitados, e de maneira discordante ao estigma existente sobre esse período, conclui-se que é equivocado conceber a Idade Média como uma “Idade das Trevas”, visto que pode ser chamada, sob certo aspecto, de uma “idade de ouro”, possuidora de um brilhantismo notório, sem o qual a filosofia e a tecnologia da sociedade moderna e contemporânea seriam inconcebíveis. O legado da Idade Média é desconhecido pelo público em geral, no entanto, é extenso, como apontam os autores Chagas, Reis e Xavier. (2017, p. 12-13.):

O ensino da língua latina, da gramática, da filosofia, da lógica e da metafísica, por exemplo, também são legados medievais. Além do mais, provém da Idade Média o desenvolvimento: dos moinhos, da metalurgia, das primeiras Bíblias impressas (1454), dos conhecimentos farmacêuticos e botânicos, das inovações geométricas, da Física de Movimento, da invenção do leme e da bússola, da pavimentação das estradas, da chaminé doméstica, da vela, do círio e de tantas outras invenções técnicas, demonstrando um enorme progresso técnico em diversas áreas.

A IDEIA DE HOMEM NO CRISTIANISMO E NO PAGANISMO MEDIEVAL

Para compreender o termo, bem como sua aplicação na Idade Média e a história da própria, é necessário conhecer os antecedentes da queda do Império Romano que iria dar início a dita Idade Medieval, sobretudo é necessário deixar claro que, segundo BARROS (2009) este período de desaparecimento da antiguidade e início dos tempos medievais ainda é discutido entre os historiadores, algumas vezes designando o tempo como antiguidade tardia e noutras como Alta Idade Média. Pagão vem do termo em latim “paganus” que significa aquele que vem do interior, este termo fora utilizado para se referir justamente a aqueles que não habitavam os centros urbanos do antigo Império Romano, pois o cristianismo ascendeu justamente nas imediações urbanas do império, bem como eventualmente se tornou a religião oficial do estado, logo aqueles que estavam distantes do âmago imperial permaneceram em suas velhas tradições culturais e religiosas.

O cristianismo estabeleceu, tanto no Império Romano da antiguidade quanto posteriormente nos reinos europeus da Idade Média, não somente uma hegemonia espiritual como também uma forma de pensar, isto é, de ver o mundo e a si mesmo, do nobre ao camponês. O próprio Constantino se vira prejudicado devido a isso, apesar de seu governo ter instaurado o cristianismo como a religião oficial do estado, para os romanos, o imperador, segundo o tratado hermético de Kore Kosmou (2011 apud DRAKE, 2016, tradução nossa); o rei na terra era o último entre os deuses e o primeiro entre os homens, isto é, o imperador era um semi divino, mas o cristianismo, não somente devido a característica monoteísta da religião, também afetava o imperador de forma que dava a entender que existia um poder acima do dele, rebaixado o mesmo um mero mortal, um “homem de Deus”. Após a queda do Império Romano do ocidente, em parte devido aos conflitos do império com os povos germânicos, o termo pagão passou não somente a designar os camponeses que pertenciam ao império, como também aos germânicos, denominados pelos próprios romanos como os “bárbaros”, sendo bárbaro “o nome utilizado pelos gregos e que significava apenas estrangeiro, foi usado pelos romanos para designar os povos que não partilhavam dos seus costumes, cultura e organização política.” (CARLAN, 2017, pág. 3).

Para especificar as origens étnicas destes chamados povos germânicos, eles seriam “os godos (divididos em visigodos no ocidente e ostrogodos no oriente), os francos, os suevos, os burgúndios, os anglos, os saxões, os alamanos.” (ibidem, pág. 5), os alanos e os vândalos (PONTAROLO; SCHIPANSKI, 2009, pág. 19). No entanto, a introdução destes povos na história romana, bem como na Idade Média, não começa por meio de invasões, isto é conflitos com o próprio império, de acordo com Pontarolo e Schipanski (2009), o próprio termo “invasão” remete a ideia de violência, quando o que ocorria na verdade, era um êxodo massivo destes povos nas regiões do Império Romano.

É através da introdução destes povos ao império em vários setores de sua sociedade, do serviço militar, no exército romano e até a administração, povoamento e agricultura em terras cedidas a estes, segundo Carlan (2017) os povos germânicos que foram intitulados Letos ou Gentios, eram responsáveis pela gerência e defesa de terras do império que não eram povoadas e consequentemente das quais não ostentavam de mão-de-obra. A distância geográfica dos povos germânicos, bem como sua denominação como “bárbaros” vai posteriormente assimilar o termo “pagão” para denomina-los.

Porém, em divergência aos povos germânicos, que foram tolerantes e por vezes até mesmo mesclavam as práticas e cultura romana com as suas, os romanos foram responsáveis pela realização de diversos abusos que levaram a revolta destes para com o império em crise, como o aumento de impostos, abuso de autoridades e até mesmo escravidão, culminando na queda do Império Romano. (CARLAN, 2017). É importante ressaltar a questão da adequação do cristianismo para os cidadãos romanos, bem como em futuras influências políticas e econômicas que predominaram no pensamento europeu medieval, bem como na noção de indivíduo capitalista e neoliberal, isto é, o individualismo.

O individualismo ocidental possui raízes greco-romanas, a partir da ascensão do Império Romano e influências da filosofia grega como o estoicismo, segundo Dumont (1985 apud FONSECA 2009) é perceptível que a visão do homem é alterada, não só pelo viés filosófico, como também pelas transformações políticas como a transição do período republicano para o imperial, na qual a participação da vida pública é alterada para a vida privada do indivíduo romano. A partir daqui se observa que o cristianismo vai exercer uma influência política na vida romana, como já citado anteriormente, a visão dos romanos em relação ao imperador, como também a introdução do conceito de Alma: “um pensamento cristão em que Deus e a alma eram vistas como imateriais em contraposição a carne e a este mundo que está sempre em mudança.” (FONSECA, 2009, pag. 5).

Em meio a massa romana e a vida privada do cidadão, este conceito implicava a individualização, já que: “a vontade divina é que elege o indivíduo para a salvação ou para a condenação.” (Ibidem, pag. 6) No entanto, aqui apresenta-se as divergências identitárias entre o cristão e o pagão, enquanto que o cristão se encontrava no pensamento individualizado, o pagão: “Os germânicos parecem não terem um conceito de alma. A palavra Sál, cognata do inglês moderno soul, só entra no vocabulário dos povos germânicos a partir do cristianismo e expressa o conceito cristão e ocidental de alma.” (HELJARSKINN, 2017, pag. 44)

Heljarskinn (2017) aborda em seu livro acerca de como o conceito, mesmo que aproximado de “alma”, diferentemente do conceito cristão ocidental individual, é um termo que designa vários segmentos, isto é, não existia apenas uma alma para um único ser, os germânicos teriam o conhecimento de que há três entidades da alma Fylgia, um espirito guardião feminino ou animal cujo o nome significava “orientação”, Hamingja que era uma entidade espiritual voltada para a representação do que é instintivo da natureza humana, sendo que Hamingja seriam a junção de três termos: Ham-far, viajar na forma animal, Hamast, assumir a forma animal e Hamr que designaria forma ou pele. A terceira e última entidade seria Líkr, o corpo físico.

Além disso, a alma não seria um conceito metafísico como para o cristão, visto que o terceiro elemento mencionado, Líkr, era a incorporação da alma, e a alma durante a morte do germanico iria permanecer viva, não sobre o conceito de reencarnação, mas através da dissolução do mesmo na terra, bem como é válido ressaltar que a alma não era individual, ela englobava os descendentes, a família, sejam estes aqueles dos laços sanguíneos, adotivos e até mesmo amigos. É claro aqui distinção entre os cristãos e os pagãos neste ponto, enquanto que o cristão se voltava para a realidade física como passageira e mundana, um meio para o qual seriam realizadas provações para alcançar o eterno e a salvação, não havia uma outra realidade para o pagão, o “sobrenatural” fazia parte do mundo em que viviam.

Heljarskinn (2017) levanta outro ponto que apresenta a diferença entre o cristão e o pagão germanico nesta mesma questão acerca da alma e da morte, a morte não seria um motivo de temor para o germanico, apesar de ser parte da vida de ambos, para o cristão ainda havia o risco da condenação eterna devido aos seus atos na terra, ou seja, o inferno, realidade que também estaria além do mundo terreno. É fundamental ressaltar essas características distintas entre o pagão e o cristão, não somente para a compreensão de suas vivências, visões de mundo e identidades, como também para abordar a questão da conversão cristã.

A conversão define-se como o processo de trazer os pagãos, ou seja, não cristãos, para a religião cristã, porém, a conversão cristã não era realizada apenas pelo viés religioso, isto é, no intento de apenas trazer o outro para a espiritualidade “certa” ou “verdadeira”. A conversão abrangeu aspectos políticos e econômicos, em muitos casos das quais fora realizada era responsável por genocidio e destruição epistemológica. Conforme Pontarolo e Schipanski (2009), Carlos Magno, rei dos francos da dinastia carolíngia realizou inúmeras campanhas militares das quais foram responsáveis pela conversão cristã dos vencidos.

Essa destruição epistemológica é abordada e argumentada por Grosfoguel (2016) através da relação com a hegemonia eurocêntrica no conhecimento presente nas universidades com atos de genocídios que apresentam características subjetivas semelhantes, dentre elas, a destruição epistemológica através da própria destruição dos conhecimentos de etnias, retirada de seus lares, bem como a proibição de suas práticas religiosas e culturais, destacam-se dentre os atos mencionados as guerras santas contra os califados da península ibérica e a caça às bruxas.

Observa-se que, de acordo com Carlan (2017), os pagãos germânicos eram tolerantes quanto aos costumes e tradições dos romanos cristãos, por vezes, adotando-os: “admiravam os costumes dos romanos, e seus chefes se espelhavam nas atitudes dos chefes de Roma” (PONTAROLO; SCHIPANSKI, 2009), ser um pagão germanico não significava na implicância de que sua religião era a única ou que seus deuses eram os verdadeiros e únicos, diferentemente do cristão, ser cristão implica a crença em apenas uma entidade, consequentemente, em apenas uma visão de mundo, a questão que se levanta aqui, é, teriam os povos pagãos da Idade Média sido convertidos totalmente ao cristianismo?

Wills G. (2012 apud DRAKE, 2016) aponta que, apesar das medidas rigorosas da conversão e do ensinamento dos meios cristãos aos romanos, mesmo com a nova fé em um deus único, eles continuavam sendo romanos em todos os outros aspectos. Os pagãos germânicos possuíam práticas religiosas voltadas para o culto aos ancestrais, de acordo com Heljarskinn (2017), essas práticas poderiam abranger, não somente a honra aos seus antepassados, como também manter suas tradições culturais, ou seja, eram práticas que eram vivenciadas, estavam além dos altares, sacrifícios e práticas puramente espirituais.

Nogueira (1995) discorre acerca de como a cristianização dos povos bárbaros buscou a familiarização destes para com a nova fé através do uso de seus altares pagãos para o culto cristão, ao invés da própria destruição destes e substituição de práticas como o sacrifício de animais por equivalentes como banquetes e justamente por essa abordagem não destrutiva que as práticas pagãs, ou vão ser tanto mescladas aos costumes cristãos, ou irão permanecer entre a população, que segundo Karl Ernst Jacke (1828 apud Nogueira 1995), a sobrevivência do paganismo germanico na Idade Média entre a população iria ser percebida e acusada pelo clero catolico como as práticas de bruxaria que iriam motivar a perseguição dos pagãos, a caça-às-bruxas ou inquisição.

No entanto, nem sempre ocorria resistência entre os pagãos para aceitar a religião cristã, levanta-se a questão: “Como puderam sociedades tão robustas, tão vigorosas, tão transbordantes de vitalidade, submeter-se com tanta espontaneidade a uma disciplina deprimente que as mandava, antes de tudo, conter-se, privar-se, renunciar-se?” (Durkheim, 1995, p. 27 apud CHAGAS;REIS;XAVIER, 2017, pag. 7)

A própria figura de Jesus Cristo como mais próxima do homem é que facilitava a conversão, bem como os seus ensinamentos que pregavam o respeito com o próximo e a humildade, característica presente nos cultos pagãos germânicos. A problemática religiosa se dava por meio dos cristãos, visto que os pagãos eram tolerantes à existência de outras religiões e entidades, era somente controverso aceitar que os “novos cristãos” pudessem crer em mais deuses.

PSICOLOGIA E PSIQUIATRIA MEDIEVAL

Autores como Freire (2014) dividem a história das ideias da psicologia em dois grandes períodos, sendo estes a Psicologia Pré-científica, e a Psicologia Científica. O Período Pré-científico da psicologia, é dividido entre os períodos Filosófico da psicologia e Período Pré-científico Propriamente Dito. O Período Filosófico, por sua vez, pode ser dividido em 3 outros períodos, que compreendem diferentes momentos e ideias do pensamento psicológico. Sendo estes períodos chamados de: Período Cosmológico, Período Antropocêntrico e Período Teocêntrico.

O Período Cosmológico compreende a filosofia naturalista pré-socrática, que buscava dar conta da cosmologia e explicar de maneira racional a existência do cosmos. O Período Antropocêntrico compreende a virada do pensamento grego, onde os filósofos passam a se preocupar com o homem, e suas questões se voltam para a ética, a moral e a política de modo que as questões cosmológicas metafísicas e ontológicas ainda existem, porém, agora se encontram em um segundo plano. Essa tendência perdurou até a queda do Império Romano, o que marca o início da Idade Média. Esse novo período é chamado de Período Teocêntrico do conhecimento. (Idem, 2014)

O Período Teocêntrico da psicologia no ocidente foi dominado pelos teólogos da igreja na Idade Medieval, entre os quais podemos citar: Santo Agostinho, Abelardo, Pedro Lombardo, Duns Scotus e São Tomás de Aquino, autores brilhantes que contribuíram significativamente para a filosofia ocidental. No entanto, embora o pensamento eurocêntrico atual resuma a epistemologia medieval nas mãos dos padres cristãos, pode-se dizer que a Idade Média foi o berço de uma pluralidade de práticas, religiões e filosofias. Dentre as quais é possível citar, por exemplo, na filosofia árabe, os nomes dos grandes filósofos Avicena, Averrois, Algazali e Maimônides, que tiveram influência notória sobre o pensamento filosófico europeu da Baixa Idade Média e podem ser considerados alguns dos maiores comentadores de Aristóteles da história.

Apesar da grande diversidade epistemológica presente na Idade Média, a contribuição do teólogo São Tomás de Aquino para a para a psicologia ganha destaque, tanto pelo seu caráter inovador, quanto pelo seu caráter moderno. Tomás de Aquino é considerado atualmente como o maior filósofo da Idade Média, e um dos maiores filósofos e pensadores de toda a história. Sua contribuição para a filosofia foi monumental, ele é um pensador amplamente estudado e difundido até os dias de hoje, onde sua filosofia é considerada a filosofia oficial da Igreja Católica. Tomás de Aquino foi um escritor prolífico e sua obra aborda uma diversidade de temas, de uma maneira tal que, torna-se impossível falar de metafísica e ontologia na atualidade sem citar a vasta obra do padre napolitano. Para além disso, como aponta Uchôa, São Tomás de Aquino foi :

um dos teólogos mais eminentes de todas as épocas, não só o principe indiscutivel [sic] dos filósofos escolásticos, não só um gênio universal como a humanidade pouco possuiu, senão, ainda mais, um espirito [sic] realmente representativo de sua época: a expressão mais pura do pensamento medieval. (Uchôa, 2015, p. 2)

Heidegger (2009) aponta a filosofia da Idade Média, capitaneada pela figura de São Tomás, como um período onde se desenvolveu sobremaneira a “Primeira Filosofia”. Ele afirma ainda que o contexto dos fundamentos da filosofia moderna devem ser demonstrados com a filosofia da Idade Média, essa, que se debruçou sobre os enunciados de princípio mais universais da filosofia, como o ser, a essência, a possibilidade, a realidade e a verdade. Em seu livro “História da Filosofia: de Tomás de Aquino a Kant”, Heidegger reitera a importância de São Tomás de Aquino para a história da filosofia a partir da seguinte frase: “Por que Tomás? Porque nele se estabelece firmemente a metafísica universal” (HEIDEGGER, 2009. p. 9).

Mário Ferreira dos Santos (2018) afirma que o século XIX foi um século dominado pela filosofia anti-metafísica e pelo cientificismo, onde se confundia a filosofia escolástica com “escolasticismo”, isso é, uma leitura grosseira e equivocada da filosofia medieval, interpretação que corroborou para a estigmatização da Idade Média como um período de obscurantismo infértil. No entanto, o tomista brasileiro aponta, em consonância com Heidegger, que o pensamento da Idade Medieval desenvolveu de maneira grandiosa a filosofia da antiguidade, mergulhando em complicadas questões que até mesmo a metafísica e a ontologia moderna falharam em responder. Segundo diz Mário Ferreira:

A ignorância crassa que predominou quanto à obra metafísica de um Santo Tomás ou de um Duns Scot levou-os a um abandono total das obras do período medieval e do Renascimento, com prejuízos imensos para a filosofia moderna e contemporânea, em que os “Colombos atrasado” proliferam, defendendo ideias mais bem expostas há muitos séculos, e outras já refutadas com antecedência também de séculos. (SANTOS, 2018. p. 200)

A gnosiologia de São Tomás de Aquino, como aponta Mário Ferreira dos Santos (SANTOS, 2017), é racionalista e empirista, o que implica dizer que, para Tomás, o ponto de partida do conhecimento são os sentidos, mas a apreensão do conhecimento acontece no intelecto. O projeto da filosofia tomista visa a união da fé cristã com a razão, o caráter dessa teologia ousada é demonstrado sobremaneira na obra que reúne a totalidade de seu pensamento filosófico, teológico e psicológico, considerada obra a mais importante de São Tomás: A Suma Teológica. Nesta obra, Tomás de Aquino desenvolve, através de um método axiomático-dedutivo, argumentos que apontam para a existência de Deus, da Alma e da moralidade humana, o que se dá a partir de uma metafísica de caráter aristotélico. Acerca do aristotelismo na psicologia de Tomás de Aquino, Uchôa afirma que:

Funda-se esta na doutrina aristotélica da unidade psicofísica do sêr [sic] humano, não admitindo portanto o dualismo psicofísico de Platão. A psique é uma "unidade" não do tipo de uma homogeneidade amorfa, senão uma "unitas multiplex", uma "unidade estruturada", segundo a terminologia moderna. Concebe Tomas [sic] de Aquino uma psique funcional estratificada cm "anima vegetativa", "anima sensitiva", "anima intelectiva", admitindo o aperfeiçoamento gradual do sêr [sic] humano, o que se aproxima, como assinala Krapf, da moderna "psicologia evolutiva". (UCHÔA, 2015. p. 1)

Para os filósofos da antiguidade, como é o caso do próprio Aristóteles, o objeto de estudo da psicologia era a alma, considerada o princípio vital de todo corpo organizado, sem o qual a vida e o movimento não seriam possíveis. Apontar para a existência da alma (ou “anima”) em um corpo é dizer que este corpo é provido de movimento, isso é. é dizer que ele se move por si mesmo e tem a capacidade de exercer as potências necessárias para a manutenção de sua vida referente ao nível de complexidade de sua existência. A planta, por exemplo, possui uma alma vegetativa cujas potências se resumem à reprodução e à alimentação, os animais possuem uma alma sensitiva, cujas potências têm por acréscimo a percepção e o movimento. A potência do homem engloba o intelecto e a vontade, assim o homem é o único ser com uma alma intelectiva (FERREIRA, 2017).

Essa perspectiva sobre a potencialidade da alma humana é de extrema importância para a psicologia de Tomás, que se debruça sobre a vontade. Tomás de Aquino desenvolve a teoria de uma vontade como sendo teleologicamente orientada, quebrando com a tradição agostiniana de conceber uma vontade ambivalente. Esse novo paradigma sobre a vontade está muito presente em conceitos psicológicos da psicologia contemporânea (OLIVEIRA, 2009).

Segundo Agostinho, o intelecto e a vontade humana estavam decaídos de sua potência em detrimento da queda e da depravação do homem, em linhas gerais isso implica dizer que, mesmo sabendo o que é o bem para si, nem sempre o homem procurará esse bem, o que torna a sua vontade uma vontade ambivalente. A teoria agostiniana é reforçada pela passagem do apóstolo Paulo onde ele diz que: “o bem que quero não faço, o mal que não quero, esse faço” (PAULO apud. OLIVEIRA, 2009. p. 3). Sob a ótica da metafísica aristotélica, Tomás reinterpreta a vontade agostiniana e aponta para o fato de que tudo quanto existe se dirige a algo, a alguma finalidade, que é o seu fim. Nas palavras de Mário Ferreira dos Santos: “Todo ser tende à realização de si mesmo, à sua conservação, ao seu desenvolvimento [...], à sua culminação definitiva, acabada e perfeita” (SANTOS, 2017. p. 200), diante disso, a ação para Tomás, é orientada pela vontade, que quer sempre o seu sumo-bem, visto que o que quer o Ser é atender as necessidades de sua natureza conforme as potencialidades de sua alma. Infere-se que o que orienta a alma e a ação humana é o bem e, desta forma, a vontade não seria uma vontade ambivalente, e sim uma vontade teleologicamente orientada pelo intelecto, que busca o bem para o ser do intelecto (OLIVEIRA, 2009).

A princípio esse aspecto da psicologia tomista parece trabalhar com conceitos distantes da nossa psicologia, no entanto, segundo Mário Ferreira, a psicologia e a moral em São Tomás antecedem os pensamentos de Nietzsche e Spinoza acerca da vontade, da potência e da realização humana (SANTOS, 2017). Segundo Uchôa, o conceito de apetite sensitivo presente em São Tomás é muito semelhante ao conceito de Princípio do Prazer presente na psicanálise freudiana (UCHÔA, 2015). Oliveira, por sua vez, reitera que a concepção do Santo Doutor acerca da psicopatologia e das enfermidades da mente humana são muito semelhantes ao aporte científico da psicologia e da psicopatologia contemporâneas (OLIVEIRA, 2017).

A despeito da psicologia e psiquiatria medieval, Oliveira (2017) e Uchôa (2015) apontam para o fato de que o pensamento tomista vai de encontro a conceitos e concepções da psicologia e psicopatologia contemporâneas, demonstrando ser um pensamento muito sofisticado para a sua época e antecedendo em mais de 8 séculos a nossa ciência.

São Tomás de Aquino aborda uma multiplicidade de conceitos referentes a psicologia e se mune de um arcabouço linguístico que inaugura a semiologia dos transtornos mentais no ocidente. Ele trabalha com conceitos como: sensação, percepção, cognição, senso comum, imaginação, fantasia, memória sensitiva, prazer, razão, intelecto, insanidade, alienação, psicose, epilepsia, depressão, fúria e mania. Conceitos muito presentes na psiquiatria contemporânea (UCHÔA, 2015).

São Tomás de Aquino, no viés contrário ao pensamento de sua época, aponta para a irresponsabilidade dos alienados visto que se encontram alheios à responsabilidade do seus atos, se aproximando do conceito contemporâneo de “responsabilidade limitada” da psiquiatria (idem, 2015).

Ecos da psicologia tomista podem ser encontradas nas filosofías dos já citados Nietzsche e Spinoza, assim como na psicanálise de Freud, bem como na obra de Franz Brentano, na fenomenologia de Jaspers e Husserl, e também na psicologia de Piaget. Embora sua influência seja desconhecida, a psicologia e a psiquiatria da atualidade estão impregnadas de conceitos tomistas. Os estudos da antropologia e da psicologia tomista experimentaram um renovado interesse a partir do século XX, o que possibilitou a releitura e o reavivamento desses pensamentos que outrora se encontravam apagados e estigmatizados. Podemos citar uma série de psicólogos contemporâneos que têm um enfoque tomista em sua prática, dentre os quais estão Chad Ripperger, Ignacio Andereggen, Martín Federico Echavarría, Lamartine de Hollanda Cavalcanti Netto, Robert Edward Brennan, Enrique Eduardo Krapf e Roger Verneaux (FERREIRA, 2017).

A existência desses psicólogos aponta para o fato da importância e grandiosidade do pensamento medieval, que atravessaram os séculos e reverberaram nos dias de hoje e que, apesar de encontrarem resistência intelectual nas tendências atuais, se mantém, em parte, como um pensamento extremamente contemporâneo e vivo.

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