Cadê o Gaúcho?
O tempo não faz quarentena e nós no Sul comemoramos novamente o mês do Gaúcho! O mês em que nos lembramos da nossa História, das façanhas heroicas vividas no Século XIX, das lutas e dificuldades enfrentadas pelos nossos antepassados regionais pelo sustento da terra, dos ideais de Humanidade e Igualdade ainda hoje estampados na nossa Bandeira... Ou não?
Será, então, Setembro o mês de comemorar os ideais de Liberdade, no sentido distorcido da palavra, quando podemos abusar no trago e na carne gorda, usando no mês inteiro a mesma pilcha, que nunca havíamos sequer tirado do armário?
Nem tanto ao céu nem tanto à terra. O Gaúcho atualmente não sabe se comemora ou se lamenta o presente que os resultados obtidos nas Revoluções aqui passadas nos legaram. Devemos comemorar o dia 20 de Setembro como se dele devêssemos nos orgulhar ou devemos contemplar com parcimônia os fatos épicos de um passado também distorcido pelo tempo?
É nessa falta de posicionamento e conscientização histórica cultural que aos poucos o Gaúcho vai se transformando de fato no povo Sul-Rio-grandense. Atualmente, menos de 200 anos após a Revolução Farroupilha, o Gaúcho é um típico estrangeiro nos grandes centros urbanos. Se sair pilchado às ruas de Porto Alegre poderá sim ser visto com estranheza e curiosidade pelos Portalegrenses. Muitas vezes eu mesmo fui abordado para fotos quando saí a preceito pelas ruas da capital.
Dessa forma, a indumentária gaúcha é coisa que está em baixa. Além de uma vestimenta cara por todos os apetrechos que determina a cartilha, está em desuso até mesmo pelos mais culturalmente envolvidos. A bela e séria camisa branca deu lugar ao frescor e à praticidade da camiseta; a bombacha, tradicionalmente folgada, cede espaço às calças estreitadas; a bota e a guaiaca são pouco práticas e o lenço, que ainda ontem foi motivo para a degola do sujeito, perdeu seu “glamour” e funcionalidade.
A cultura é transitória e muitas vezes redesenha a própria tradição de um povo. E isso também se observa nos demais aspectos culturais como na música, na dança, na comida e nos pratos típicos, na linguagem e na política. E é habitando nesses costumes que ainda sobrevive o Gaúcho, hoje urbanizado, de barba feita e sapato bico fino. Não menos que ontem, mas também diferente do de amanhã. É para algum viés que estamos caminhando. No fundo ainda somos como frutas verdes, pequenas e sem formato definido, na esperança de amadurecer sem cair do pé.