COMENTÁRIO SOBRE A PSICOLOGIA HUMANISTA
UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO (UPE)
RAUL MAGALHÃES BRASIL
No século XX duas grandes forças dominavam o campo das ciências psicológicas. Do lado da psicologia experimental tinha-se a abordagem behaviorista, tendo seus antecedentes em Thorndike e Pavlov, sendo fundada por Watson e desenvolvida por Skinner, o behaviorismo procurava investigar, medir e categorizar o comportamento humano, tendo-o como objeto de estudo e buscando, através do método, integrar cada vez mais a psicologia ao campo das ciências positivas. Do lado da psicoterapia e da clínica, a abordagem psicanalítica, fundada inicialmente por Freud e sendo desenvolvida por Lacan, se propunha como uma nova ciência das neuroses, apesar do método pouco científico. A psicanálise busca se debruçar sobre o inconsciente do indivíduo e, através do processo terapêutico, trabalhar e curar a psicopatologia individual.
Havia, no entanto, uma série de filósofos e psicólogos que não enxergavam uma verdadeira ciência da psicologia humana no behaviorismo ou na psicanálise. Aqueles que mais tarde ficariam conhecidos como psicólogos humanistas criticavam a maneira com a qual essas abordagens reduziam o ser-humano a um punhado de fenômenos previsíveis, tendo que ignorar toda a complexidade da existência humana para que ela pudesse ser apanhada dentro de um método científico. A psicologia humanista recebe este nome, “humanista”, pois se propõe a ser uma abordagem que não vai reduzir o fenômeno humano e sim, buscar investigar a existência e a condição humana em sua completude.
A princípio a psicologia humanista não surge como uma abordagem propriamente dita, ela se constitui primeiramente como uma reação ao behaviorismo, o que mais tarde contribuiu para o estabelecimento conceitual da psicologia humanista. Segundo esses primeiros pensadores, o behaviorismo via o homem como um ser inanimado, um organismo puramente reativo, um reles conjunto de respostas a estímulos. O behaviorismo não conseguia dar conta de perguntas cruciais sobre a condição humana, como qual o sentido da existência humana, qual a explicação para a experiência estética ou para a experiência religiosa. Fazia-se necessário uma psicologia que tratasse o homem como mais do que estímulos ou traumas, mais do que partes reduzidas de um todo. Foi diante dessa demanda epistemológica que a psicologia humanista se constituiu. Outra interessante crítica que a psicologia humanista faz ao behaviorismo está no fato de que os humanistas não concordam que a pesquisa com a animais sirva de acesso a uma compreensão adequada do ser humano, afinal, como afirma Bugental: “o ser humano não é um rato branco maior”.
Um grande nome do humanismo, Abraham Maslow, também voltava suas críticas à psicanálise acusando-a de ser uma abordagem que se ocupa somente de indivíduos perturbados, deixando de lado as características positivas que há no ser humano. Como disse o próprio Maslow: “o estudo de espécimes aleijados, enfazados imaturos e patológicos só pode produzir uma Psicologia mutilada e uma filosofia frustrada”.
É difícil destacar quem foi, de fato, o pai da psicologia humanista, no entanto é de grande destaque a participação de Maslow no movimento. Mesmo tendo destaque no campo da psicologia experimental, os objetivos de pesquisa de Maslow se afastava cada vez mais do establishment behaviorista, ele também percebia que havia uma série de psicólogos que, como ele, buscavam uma linha de fuga, uma psicologia que se diferenciava, um outro objeto de estudo. Compilou esses nomes numa lista que continha 125 pessoas que se correspondiam e trocavam artigos e trabalhos. Mais tarde essa rede de correspondência, chamada de “rede eupsiquiana” se tornaria a lista dos primeiros assinantes da revista “Journal of Humanistic Psychology”, poucos anos depois pessoas dessa lista se tornaram os membros fundadores da AAHP (American Association for Humanistic Psychology). Esse conselho incluia grandes nomes da psicologia da época, como o próprio Abraham Maslow, além de Rollo May e Erich Fromm.
A AAHP durante certo período de tempo era um pouco mais do que um grupo de protesto contra o status quo da ciência psicológica, no entanto, em 1963 o grupo ganha novos contornos com a declaração de Bugental em seu artigo “Humanistic Psychology: A New Breakthrough” que foi adotado como a declaração oficial da associação humanista, um texto pode-se dizer ser análogo a um manifesto humanista. Neste texto delimitam-se os cinco principais postulados do movimento, que agora tinha contornos de abordagem, dentro os quais estavam: (a) uma pessoa é mais que a soma de suas partes; (b) Nós somos afetados por nossas relações com outras pessoas; (c) e (d) O ser humano é consciente e possui livre-arbítrio, e (e) o ser humano tem intencionalidade.
REFERÊNCIAS
Castañon, G. A. Psicologia humanista: a história de um dilema epistemológico. Memorandum, 12, 105-124, 2007.