INTRODUÇÃO AO BEHAVIORISMO
UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO (UPE)
RAUL MAGALHÃES BRASIL
RESUMO
Os behavioristas herdam influências tanto do estruturalismo quanto do funcionalismo. Eles buscam, assim como nessas outras escolas, uma psicologia que seja experimental, mensurável, metódica e científica, busca que foi iniciada com Wundt em Leipzig. No entanto, ao mesmo tempo, criticam o método da introspecção, utilizado tanto na psicologia estrutural como na funcional. Assim como os funcionalistas, apontam para a artificialidade e tendenciosidade que os resultados do método introspectivo apresentam. Também como o funcionalismo, não restringem o estudo da psicologia a um sujeito privilegiado, mas sim a todo e qualquer sujeito e, diante disso, os estudos e experimentos dos psicólogos behavioristas se voltam principalmente aos animais. Assim como as escolas anteriores, o behaviorismo tem forte tendência darwinista. Ele se instaura principalmente nos Estados Unidos, tornando-se a abordagem clássica mais duradoura.
1 O BEHAVIORISMO ANTES DE WATSON
O behaviorismo (ou “comportamentalismo”) preconiza como objeto de estudo da psicologia o comportamento, adotando os métodos de estudo das ciências naturais: a observação e a experimentação. Comumente atribui-se a fundação do behaviorismo ao psicólogo John B. Watson, que inaugura essa nova abordagem através de seu manifesto “Psychology as the behaviorist views it” (Psicologia como um behaviorista a vê). No entanto, o estudo do comportamento já era visível em autores anteriores a Watson.
Edward L. Thorndike (1874-1949), antes mesmo de Watson, realizava estudos sobre o comportamento dos animais e apontava para o estudo do comportamento como uma possibilidade de aproximar a psicologia às ciências naturais. Sua monografia “a Lei do Efeito: A Inteligência Animal” foi precursora do behaviorismo, tendo influências sobre diversos autores da abordagem, como o próprio Pavlov. No entanto, Thorndike está entre o funcionalismo e o behaviorismo, tendo influência sobre essas duas abordagens, muitos o criticaram pelo “internalismo” presente em parte de sua teoria, algo que os behavioristas buscavam se afastar. Em sua Lei do Efeito, Thorndike conclui que a recompensa (“prazer” ou “satisfação”) exerce uma influência ainda maior sobre o comportamento do que o castigo, princípio essencial ao estudo do comportamento, que será amplamente revisitado por Skinner posteriormente.
Um outro pensador de extrema importância para o behaviorismo foi o já citado fisiologista russo Ivan P. Pavlov (1849-1936). Ele foi nobel de medicina com seus estudo sobre a digestão, área em que era especialista, no entanto, o que o destaca em sua carreira acadêmica vem a partir da sua indicação de que as respostas de um organismo podem vir a ser eluciadas por estímulos condicionados, o que iniciaria um amplo programa de pesquisas nas áreas de educação, comportamento e reflexo dos animais. Pavlov é reconhecido principalmente com seus experimentos em reflexo condicionado com cachorros. Ele consegue fazer os cães salivarem mediante a ação de um estímulo a princípio neutro(uma campainha). Estímulo que passou a ser significativo para o cão a partir da associação do mesmo à apresentação de alimento. As descobertas de Pavlov são amplamente utilizadas no behaviorismo, sendo consideradas uma importantíssima ferramenta para a análise do comportamento.
2. O BEHAVIORISMO DE JOHN B. WATSON
Mesmo tecnicamente não sendo de fato o primeiro indivíduo a preconizar o comportamento como objeto de estudo da psicologia, John B. Watson (1878-1958) é amplamente considerado o fundador do behaviorismo na psicologia, sendo um dos primeiros a popularizar essa abordagem e seu método de pesquisa. Ele o faz através de seu já citado manifesto “Psychology as the behaviorist views it” (Psicologia como um behaviorista a vê), que elucida os princípios e objetivos do behaviorismo, que pouco se modificaria essencialmente na história dessa escola. Em seu manifesto ele fala o seguinte:
A Psicologia, como um behaviorista a vê constitui um ramo puramente experimental da ciência natural. Seu objetivo teórico é a previsão e o controle do comportamento . . . Em seu esforço para alcançar uma concepção unitária da resposta animal, o behaviorista não reconhece qualquer linha divisória entre o homem e o bruto. O comportamento humano, com todo o seu refinamento e complexidade constitui apenas uma parte do programa completo de investigação do behaviorista
Watson recebe influências de Thorndike e Pavlov, sendo que em sua psicologia a referência ao reflexo constituía o núcleo da explicação do comportamento em geral, inclusive do comportamento humano complexo. No entanto, diferentemente de Pavlov, Watson não buscava estudar o comportamento de sistemas orgânicos particulares em reação a determinados estímulos, mas sim do sistema orgânico como um todo. Sendo um método que se aplicaria tanto para respostas simples, como pressionar um botão, quanto para fenômenos complexos, como o próprio pensamento. A ênfase no comportamento do organismo como um todo também implicava em estudar o organismo intacto, sem as manipulações que ocorriam nos estudos fisiológicos de Pavlov, princípio que seria retomado por Skinner posteriormente.
Como aponta Strapasson, o comportamento, para Watson, é um evento físico e se refere ao ajuste ou adaptação do organismo ao seu ambiente. Watson propôs esse conceito de modo a garantir certa independência entre o behaviorismo e as ciências biológicas, pois, como aponta o próprio:
O trabalho do behaviorista, ainda que intimamente relacionado ao do zoólogo e do fisiólogo é, apesar disso, independente (...). É pouco provável que os estudos físico-químicos possam minar nossa obra sobre a formação de hábitos, sobre a eficácia de métodos de aprendizagem ou sobre as relações mútuas entre seres humanos (problemas éticos etc).
3 O BEHAVIORISMO DEPOIS DE WATSON
Pode-se dizer que B. F. Skinner (1904-1990), foi um legítimo sucessor de Watson. Ele ampliou substancialmente os horizontes da pesquisa científica do behaviorismo e conferiu a essa abordagem suas próprias impressões. Pode-se dizer que Skinner se preocupava com as “leis da variabilidade”, isto é, a possibilidade de variação dos reflexos, chegando a propor que os reflexos fossem o objeto de estudo da psicologia. Obehaviorismo de Skinner é ortodoxo, de modo a rejeitar toda a subjetividade e internalismo, sendo considerado um “behaviorismo radical”. Sua psicologia girou em torno do condicionamento operante, que buscava o controle das variáveis de respostas aos estímulos, numa tentativa de controlar o comportamento pelas consequências. Com a sistematização de sua análise do comportamento e com sua investigação de relações operantes, o sistema skinneriano ganha contornos definitivos e dá origem ao programa de pesquisas que viria a exercer grande impacto na Psicologia experimental das três décadas seguintes, sendo influente até os dias de hoje.
REFERÊNCIAS
FREIRE, Izabel R. Raízes da psicologia. Petrópolis: Ed. Vozes, 2008.
TOURINHO, Emmanuel. Notas sobre o Behaviorismo de Ontem e de Hoje. Psicologia: Reflexão e Crítica, 24(1), 186-194.
ZILIO, D. KESTER, Carrara (organizadores). Behaviorismos: reflexões históricas e conceituais, volume I, São Paulo: Paradigma Centro de Ciências e Tecnologia do Comportamento, 2016.