AOS MESTRES, COM CARINHO
AOS MESTRES, COM CARINHO
Ah! Que saudades do cheiro da cartilha e da madeira do lápis ferido pelo apontador. Até lembro o perfume que me inebriava. Cheiro de infância que me faz recordar dos meus primeiros passos rumo à Escola e da minha professora, Dona Liberty, na Escola de Aplicação, em Londrina.
Lembro dos corredores pintados de cinza e verde, das carteiras de madeira com espaço para colocar o tinteiro onde a pena ia matar a sede para depois desenhar as primeiras letras no caderno “Avante” que na contracapa registrava a letra do Hino Nacional Brasileiro. Da cartilha Sodré que contava para as crianças que Ivo viu a uva. E o penal? Sim, aqui no Paraná chamamos de penal o estojo de lápis. Por que penal? Acho que os antigos guardavam as penas de caneta. É a explicação que me vem à cabeça.
Saudades da borracha Faber Castell que auxiliava na correção de meus erros de infância, tempo em que se usa mais ela do que o lápis. Saudades do guarda-pó branco feito com tanto carinho pela minha mãe.
A mestre era minha musa, um amor edipiano, cheio de respeito e admiração.
A caminho da escola meus sapatos adoravam beijar as poças de chuva. E nos dias de sol ficavam pintados de vermelho da poeira que subia na cadência dos passos firmes em marcha quase marcial. Sabendo ler, colocava em prática os meus conhecimentos. Lia todas as placas das ruas. Tinha uma palavra que eu tinha dificuldade de pronunciar: “ltda”. Como será que se pronunciava? Eleteda? Fiquei feliz quando aprendi sobre as abreviaturas e soube que aquela palavra se pronunciava “ limitada”.
Que delícia saber ler. Não havia nada melhor quando chegava às minhas mãos um Pato Donald, um Mickey e na falta deles qualquer revista em quadrinhos. Lia a mesma revista dezena de vezes como se fosse a primeira vez. Viajava com meus heróis e me inseria nas aventuras “disneyanas”. Havia algo melhor que uma revista do Donald? Claro que havia: um monte de revistas do Donald.
Essa iniciação me levou ao gosto da leitura. No Colégio Estadual aproveitava a hora do recreio para me divertir na biblioteca. Hoje, estamos deixando de lado a leitura por causa da internet. A era do conhecimento está se tornando a “era do conhecimento superficial”. Já não leio tanto quanto antes. Substituí a leitura pelo WhatsApp, pelo Facebook e por sites informativos. Se a notícia for longa, não leio, fico só na manchete.
A minha existência escolar percorreu muitos destinos. Escola de Aplicação, em Londrina e depois em Curitiba um grupo escolar defronte a Penitenciária do Ahu, o Instituto Juvevê, do saudoso professor Estevão Christmann, o Colégio Estadual do Paraná, o Colégio Rio Branco e as Faculdades de Direito de Curitiba e De Plácido e Silva.
Ainda guardo o nome de muitos professores que tive. Célia Milani, Flora Crhistmann, Victório Franklin, Lucia Checchia Franklin, Elvira Estrela, Loyola, Neusa, Eduardo Machado, Vasco Taborda, Merlin, Saporski, Haroldo Pacheco, Germano, Mansur Theóphilo Mansur, Milton Pereira, Montanha, José Salvador. A todos eles o meu agradecimento e a minha homenagem. Eram exemplos de amor e dedicação à profissão nos tempos em que os sindicatos ainda não haviam tomado conta da classe e que o mais importante era disseminar conhecimentos sem politização. Talvez por isto eram respeitados.
Fui professor por um tempo. Desisti. Os tempos já eram outros. A profissão desvalorizada não compensava o desgaste. Não consegui ser herói como todos aqueles que acima citei.
Aos mestres, a minha mais efusiva admiração.
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