Là Vem O Trem
Por Nemilson Vieira (*)
Como solta fumaça pelo (chaminé) esse trem! As suas rodas de puro aço na dureza dos trilhos quentes emitem sons estridentes ao passar.
Sob o sol ardente, chuvas, serrações; a carrear produtos, pessoas, sentimentos. Se contorce na areia quente, como a serpente ao locomover-se.
Se for verdade, quanta riqueza se foram, se vão!
Quanto dinheiro viera? Quanta riqueza esvaida! Quantos já comeram o bem desta terra de maneira espúria!
Trem de passageiro, painéis de sonhos bons; pela frente, desafios a sumirem de vista…
O medo do desconhecido é um bicho feroz; em muitos desses passageiros, não há como esconder. Visto no enfrentamento das diversas lidas, ocupações; muitos deles longe da família que para trás ficou. Numa terra estranha começarão da estaca zero. Deixaram para trás suas conquistas, amigos, cultura...
Gente de perto e de longe logo enche o trem, ao longo do caminho. Juntos na viagem e nos sonhos, como a sardinha apertada na lata. A se jogarem de um lado para o outro num trem da vida…
Muitos vão e vêm nesse trem, separados por classes… Primeira, segunda, terceira classe. — Os mais abastados vão na primeira, os menos favorecidos, na classe econômica. Todos se juntam e se acomodam no balanço desse trem; sem viajar ninguém fica.
Lá vem o trem a apitar e anunciar a chegada numa parada qualquer da estrada. Há um saudosismo no aviso do trem, ao sair da estação nesse apitar; emoção antes e depois do último adeus, do virar a curva da estrada.
Na tristeza dos que vão e dos que ficam, a dor é grande. Igual, custosa de sair dum e doutro. Assim num entrelaçamento dos sonhos de cada um, a sonhar a sua maneira construirá a sua história no trem que vem e que vai.
Às vezes temos de ir, outras, é necessário ficar. A missão que precisamos desempenhar é o que mais conta; por Deus que nos rege. Sigamos a nossa estrada nesse trem; a pé, ar e mar. — Num bom sentido da vida. Resolutos, a cumprir esse dever. O que tiver de ser a luta nos dirá; não ser mole no cumprimento do dever, é o que importa.
O viver não deve ser tão duro como se imagina, se não nos envergonharmos daquilo que fizermos em legalidade e esforços. O pior é não fazer, é não tentar o que se sonha.
Que a viagem no trem da nossa existência, — na direção e duração que se fizer necessário — seja sempre na busca de dignos ideais.
Ir ou vir nessa busca não deve parar; até que um merecido descanso prevaleça.
Nemilson Vieira
Acadêmico Literário
(16:06:19)