PUMA – UMA PATRULHA DE ELITE DO ONZE BATALHÃO
O 11º Batalhão de Polícia Militar – 11º BPM, da Brigada Militar, oriundo da Companhia de Polícia Rádio-motorizada (Cia PRM), criada em 06 de maio de 1967, posteriormente transformada em Batalhão de Polícia Rádio Motorizado (BPRM) em 12 de maio de 1970, e finalmente nominado 11º Batalhão de Polícia Militar em 17 de agosto de 1974 (Batalhão Coronel Farrapos), ficou conhecido como “Onze” Batalhão. Nos anos 80, era a unidade considerada, pela sua história, uma “escola de polícia”, pela eficiência nas ações de combate à criminalidade e pelas atividades gerais de segurança pública realizadas na sua área de ação, na Zona Norte de Porto Alegre-RS. O Onze Batalhão, era composto de quatro Companhias de Polícia Militar e um Pelotão de Polícia de Choque – Pel. PChq, pertencente à 1ª Companhia, além das seções administrativas, que compunham o Quadro Ordinário (QO) da unidade.
No comando da unidade, naquela ocasião, encontrava-se o Coronel Murilo Batista França (1983 – 1986), oficial devotado à conquista da comunidade e ao combate ao crime na área de sua jurisdição, o qual contava com uma oficialidade jovem e brilhante, que conduziam as ações de policiamento em suas subunidades, com elevado respeito a disciplina miliar na vida castrense, e um alto grau de profissionalismo nas atividades de polícia no terreno sob suas responsabilidades.
Uma das subunidades que se destacava dentre as quatro existentes no Batalhão, era a 2ª Companhia, comandada pelo então Capitão Alcery Frota Pinto. Filho de tradicional família brigadiana, a família Frota, esse comandante era responsável pelo policiamento da Sub-àrea 2, que ficava entre a Rua Honório Silveira Dias, Plinio Brasil Milano, Rua Auxiliadora, Rua Nova York, Avenida Benjamin Constant, Avenida São Pedro, Avenida Voluntários da Pátria até a Ponte Getúlio Vargas(do Guaíba), Avenida Mauá até a Ponte sobre o Rio Gravataí Rio Gravataí, dali pela orla interna até a Vila Dique. Por essa até a Avenida Sertório, até a Rua Honório Silveira Dias.
Em março de 1983, o então 2º Sargento Saulo Camponez Frota Borges, que servia na Ajudância Geral – AG3, no Quartel do Comando Geral da Brigada Militar, pediu transferência ao seu comandante, o Coronel Álvaro Raul de Mesquita. Sendo um militar por excelência, e devido a motivos de esgotamento das rotinas administrativas do quartel, que diariamente se repetiam, e estar sempre em busca de novos desafios profissionais, teve deferido o seu pleito e transferido para o Onze, voltando às atividades de policiamento naquela Unidade Operacional - UOp. Ao se apresentar na Unidade, por intercedência do comandante da 2ª Cia, foi classificado naquela Subunidade, tendo assumido as funções de Sargento Auxiliar do 2º Pelotão, que na ocasião também assumia como comandante do Pelotão o jovem Aspirante-a-oficial recém saído da Academia de Polícia Militar – APM, Aroldo Veriano da Silva que chegara na Unidade, e que depois foi promovido à 2º Tenente.
No mês de abril daquele ano, numa manhã, após retornar de uma reunião de oficiais com o comandante, o Capitão Alcery, Cmt. da 2ª Cia, mandou chamar o Sargento Frota ao seu gabinete e lhe comunicou que tinha uma missão a ser cumprida. Disse o capitão, que o Comandante do Batalhão havia determinado aos Comandantes do Companhias, na reunião de oficiais que acabara de ocorrer, que deveriam criar patrulhas para realizar uma “Operação Alerta”, com o intuito de conquistar a comunidade no “modus operandi” de patrulhamento comunitário e reforçar o apoio aos estabelecimentos comerciais de maiores riscos, tais como bancos e casas de armas, dentre outros.
Para o cumprimento da missão, o Capitão Alcery determinou ao sargento a tarefa de organizar uma patrulha para trabalhar em horário diferenciado, para realizar a conquista da comunidade e atuar com abordagens ostensivas nos pontos sensíveis da subárea, com liberdade de manobra de efetivo e deslocamentos na Zona de Ação - ZA, usando armamento pesado, o que naquela época não era comum no serviço de policiamento. Orientou que o sargento escolhesse o seu efetivo dentre as melhores praças pertencente a 2ª Cia, que os treinasse e comandasse no patrulhamento, com impacto visual e de força, usando as viaturas pick-ups de prefixo 1889 e 1890, de cor verde BM, que eram reservadas a ele, comandante da Companhia.
Após o Comandante da Companhia ter determinado ao Sargento, também lhe disse que a patrulha se chamaria “Patrulha Urbana de Manobra e Ataque – PUMA”. Com a missão recebida, de pronto o efetivo foi selecionado pelo Sargento, dentre os melhores cabos e soldados da companhia, iniciando de imediato as instruções e treinamentos, tendo começado a operação no patrulhamento na ZA em poucos dias conforme a ordem do seu comandante.
Como a ordem originariamente vinha do comando do Batalhão, as demais companhias (1ª, 3ª e 4ª Cia) também organizaram as suas patrulhas, de acordo com as determinações recebidas dos comandantes de companhias, De imediato, ficou notório que a PUMA se destacava das demais Cias devido ao espírito Policial MILITAR empreendido pelo seu sargento comandante, enquanto as outras companhias apresentaram uma viatura do policiamento ostensivo – Pol. Ost, com um número de três a quatro militares, usando o uniforme e equipamentos convencionais do serviço rotineiro (capacete branco, fardamento de instrução, cinto preto, braçal azul da OPM, revólver calibre .38, coturnos pretos), sem uma preparação prévia de seu efetivo para o enfrentamento da nova missão e modalidade de serviço que estava surgindo.
A PUMA, diferentemente das demais patrulhas, passou por um período acelerado de seleção das praças e instrução intensiva com o enquadramento dos combatentes para a missão e, também, com o preparo psicológico dos seus patrulheiros. Com o passar dos dias, apresentou um novo visual de uniforme e armamento para a missão recebida, diferente da tropa do serviço rotineiro da unidade. O uniforme da Patrulha passou a ser capacete com capa de brim na cor do uniforme BM (que mais tarde foram pintados na cor verde BM), com uma listra fina de borracha preta em seu entorno para identificação dos soldados, com duas listras finas de borrachas para identificação do cabo, e com três listras finas de borrachas para o identificação do sargento comandante da patrulha. Macacão modelo aviador na cor Bege BM com zíperes e um emblema bordado em forma de bolacha, no lado direito do peito, altura do bolso, criado para identificar a patrulha, com a legenda “Patrulha Urbana de Manobra e Ataque – 2ª Cia” em letras pretas sobre um arco branco, o centro da bolacha bordado de amarelo, e sobre este a imagem da cabeça de uma Puma rugindo, bordada de preto. Cinto de lona NA verde com coldre militar de couro preto, modelo usado pela Polícia do Exército, e faca M1, de trincheira, no lado esquerdo do cinto, coturnos e cadarços pretos com amarras PQD. O sargento comandante usando amarras verdes. Como complemento foi adotado o óculos Ray-Ban modelo McArthur, para todo o efetivo, o mesmo modelo usado pelo seu comandante, da 2ª Cia. Todo o material foi adquirido pelos componentes da patrulha, sem ônus para a unidade. Esse diferencial na apresentação pessoal, trouxe muito orgulho ao efetivo da PUMA, e muitas críticas, denotando pontas de ciúmes nos efetivos das demais Cias do Batalhão que não inovaram na nova atividade.
A viatura 1889, que também atendia o comandante da companhia, passou a ter grade frontal reforçada, confeccionada e doada por empresários estabelecidos na Sub-àrea 2, como reconhecimento ao trabalho realizado pela patrulha e pela Brigada Militar na região, também sem ônus para a corporação. A colocação da grade na viatura 1889 causou apreensão no âmbito da Cia, visto que o Pelotão P. Chq, que era a tropa especial da unidade, não tinha tal equipamento em suas viaturas na época, e o comandante da unidade não havia sido comunicado da colocação daquele equipamento de segurança na viatura. Mas o bom senso do comando e a abertura para os novos tempos que avizinhavam reinou no batalhão.
O armamento apresentado pela patrulha, nas atividades iniciais, também foi inovador. Usou o tradicional revólver calibre .38 da época, para cada integrante da patrulha, algemas e canivetes individuais, além de uma metralhadora INA .45 ACP, que era usada pelo comandante da patrulha; uma carabina Puma calibre .38, uma carabina Riot 18-7 e uma espingarda Boito calibre 12 cano curto, para os patrulheiros. O uso desse armamento causou espanto e alarme na comunidade, ao ponto de ter ocorrido algumas manifestações inflamadas de cidadãos, ao encontrar a patrulha com tanto armamento pesado, de forma ostensiva na zona bancária, comercial e residencial do 4º distrito de Porto Alegre. O assunto, foi matéria do jornal Zero Hora nos primeiros dias da atividade, mas sem depreciar a nova modalidade de operação que estava sendo realizada.
A composição das guarnições da Patrulha Urbana de Manobra e Ataque – PUMA da 2ª Companhia do Onze Batalhão de Polícia Militar ocorrereu conforme a distribuição a seguir:
1. Inicialmente a PUMA teve a seguinte composição:
Comandante – Sgt Frota
Primeiro Grupo PM:
Cb Aux. Cb Campos (depois Cb Terra) – Vtr. 1889
Patrulheiros: Sd Marcon, Sd, Roberto, Sd Trajano, Sd Garcia, Sd Vargas,
Sd Gonzalles.
Motorista: Sd Heraldo (depois Sd Nelson)
2. Posteriormente foi aumentado o efetivo com a seguinte composição:
Segundo Grupo PM
Cb Aux. Cb Campos – Vtr. 1890
Patrulheiros: Cb Moreira, Sd Souto, Sd Alberto, Sd Rui, Sd Maidana,
Sd Conzatti.
Motorista: Sd Nelson (depois Sd Heraldo)
Após dois anos intensos de muitos treinamentos, exercícios nas ilhas do Guaíba, dentre esses, exercícios de contraguerrilha, tomada de ponto, transposição de curso d’água, pista de reação à noite com o Pelotão de Instrução Centralizada – PIC, da 2ª Cia, tomada de pontos sensíveis, embarque e desembarque de viaturas e lanchas em movimento, além das atividades de policiamento em apoio ao translado e a Procissão da Nossa Senhora dos Navegantes, prontidões por motivo de greves de trabalhadores do setor metalúrgico, e das patrulhas diárias na sub-àrea 2, em maio de 1985, o Sargento Frota, até então comandante da PUMA, foi transferido da 2ª para a 1ª Companhia.
Naquela Cia, o Ex-cmt da PUMA assumiu as funções de Sargento Auxiliar do Comandante do Pelotão de Polícia de Choque – Pel. P. Chq, à época comandado pelo então 1º Tenente De Bortoli, e teve como missão preparar o efetivo para participar da Marcha à Pé de 200 Km (Camaquã à Piratini) denominada OPERAÇÃO FARROUPILHA, comemorativa ao Sesquicentenário da Revolução Farroupilha, levada a efeito naquele ano de 1985, pela 6ª Divisão de Exército – 6ª DE, do Comando Militar do Sul. Aquela marcha militar, que configurou-se a maior marcha de infantaria, em tempos de paz, já realizada por tropas gaúchas e, quiçá, brasileiras, foi um ponto alto nas comemorações dos 150 anos do movimento revolucionário do RS. Na ocasião, o Pelotão P. Chq do Onze foi o único representante da Brigada Militar junto às tropas do Exército Brasileiro, que estavam homenageando os farrapos, por terem realizado tal façanha à cavalo, na Revolução Farroupilha (1835 - 1845). Pela participação, o Pelotão foi alvo de elogio (mandado transcrever individual, em 06 de agosto de 1985, com diploma de participação) pelo Sr. General de Divisão Floriano Aguilar Chagas, comandante da 6ª DE, pelo espírito infante, pelo adestramento, pela resistência a fadiga, assim como pela garra e disciplina demonstrada pelos integrantes da Brigada Militar na Operação.
Devido aquela transferência, por necessidade do serviço do primeiro comandante da PUMA, para a 1ª Cia, as funções de Comandante foram assumidas pelo 2º Sargento Nilson Machado, e as de Auxiliares dos 1º e 2º Grupos ficaram sob o encargo dos Cabos Campos e Terra, respectivamente.
Esses foram tempos em que a Área do Onze, mais especialmente a Subárea 2, sob a responsabilidade da 2ª Cia PM, esteve com seus índices de criminalidade reduzidos e, especialmente, os assaltos à bancos estiveram zerados, devido ao atendimento dinâmico intensivo, a maior ostensividade nas ações policiais, a fé dos seus patrulheiros nas missões e, sem horário pré-determinado para ocorrerem às abordagens, configurando-se em ações policiais relâmpagos e de surpresa, direcionadas as zonas bancárias. Assim, também, às joalherias, farmácias, casas de armas, e por consequência do trabalho realizado, o comércio em geral existentes naquela região de Porto Alegre, sentiram a efetividade de um policiamento que trabalhou com empatia comunitária, voltado exclusivamente àquele 4º distrito de Porto Alegre.
A grande movimentação de pessoas e valores das empresas existentes naquela região, que eram objeto de interesse e cobiça por parte dos delinquentes, foi o maior alvo das ações, fato que foi percebido com grande entusiasmo os efeitos e resultados dessa modalidade de policiamento realizado. A PUMA, pela dedicação e sacrifícios que foram impostos aos seus componentes, por necessidade da segurança pública e da paz social, constitucionalmente delegados à briosa Brigada Militar, honrou as tradições da Unidade “escola” de polícia, tornando-se um verdadeiro baluarte do patrulhamento do guerreiro ONZE BPM, tendo cumprido com o seu dever e deixando registrado na história do Batalhão Coronel Farrapos, a sua existência e os seus serviços prestados à comunidade da Zona Norte de Porto Alegre, assim como à Brigada Militar, ao Estado do Rio Grande do Sul e à Pátria.
Rememorando os versos que iniciam a canção daquela Unidade Operacional de Polícia Militar, ao final deste trabalho, não poderíamos deixar de exaltar essa tropa bradando fervorosamente: “SALVE O ONZE BATALHÃO...”.