TRABALHO ESCOLAR
Início da década de sessenta, estando no segundo ano ginasial no colégio João Florêncio Gomes, a classe teve que fazer um trabalho valendo nota mensal, o qual era falar sobre o descobrimento do petróleo na Bahia. Por sugestão da professora deveríamos visitar a Bolsa de Mercadoria da Bahia e conhecer o “herói brasileiro” autor de tão importante descoberta para o engrandecimento do nosso país. Marcamos o dia, aliás, onde fomos bem recebidos pelo senhor Oscar Cordeiro, atual presidente da referida entidade, muito atencioso explanou a sua descoberta, relatando ter convidado o doutor Manoel Bastos para ser seu sócio pelo fato dele ser um estudioso, um pesquisador no assunto. Nesse momento um colega relatou no meu ouvido, por estar convicto na séria explanação, do super homem brasileiro, bem baixinho ao discordar do colega ele afirmou em alto e bom som:
─ Porra nenhuma, esse cara é um grandioso culhudeiro!
─ Como assim Reinaldo, (Rindo) eu não estou entendendo, nossa historia não diz que esse baixinho ai, é o descobridor do petróleo?
─ Que nada amigo, o meu pai conheceu Cundunga e o engenheiro Maneca, os verdadeiros descobridores do petróleo em Lobato, eles eram moradores da Ribeira.
Saí dali encabulado e marquei no outro dia que era sábado solicitar ajuda do seu pai para realizar o trabalho solicitado. Depois do banho de mar na porta do Reinaldo na praia do Bogari, e enquanto me deliciava na feijoada, conversando com o seu genitor, o qual confirmou ser mentira o relatado pelo falso dono da mina de petróleo, que o real identificador e descobridor foi o Doutor Maneca Bastos, por influência do amigo Aurélio Brandão Cisne, morador dos Alagados, que sempre ia caçar na região do Cabrito onde os residentes usavam uma lama preta oleosa inflamável, e por ter visto algumas vezes o doutor Manoel Bastos pesquisando a localidade devido as manchas de óleo que boiavam já de algum tempo entranhando-se no mangue. Certo dia os dois resolveram ver “in loco”, saíram e com uma foice emprestada conseguiram fazer um buraco. No outro dia voltando, a abertura estava cheia de água misturada com petróleo, que levado para analise na Escola Politécnica foi confirmado pelo engenheiro Souza Carneiro ser petróleo, porém misturado com muita sujeira, surgindo aí à identificação e descobrimento do ouro negro em solo baiano pelo Doutor Manoel Ignácio Bastos e Aurélio Cundunga.
Com base nas informações do genitor do colega Reinaldo, eu dei uma boa enrolada na dissertação para encher espaço, e falei do senhor Oscar Cordeiro como figura que tomou para si um feito, há três anos, já conhecido na comunidade das pesquisas do Doutor Manuel Bastos. Resultado, eu levei nota dois, com mais dois pontos por ter ido a Bolsa de Mercadoria da Bahia para ouvir baboseiras e lorotas consegui uma minguada nota quatro, bem melhor que o Reinaldo que no final ficou com nota 2.
Pesquisando no livro: Afinal quem Descobriu o Petróleo no Brasil? da Escritora e jornalista Petronilha Pimentel, encontrei esse desabafo do Dr. Maneca, o pescador de petróleo:
O que deixo escrito são provas suficientes para mostrar que o único identificador do petróleo fui eu, e não os que se dizem pioneiros: é o caso do ovo de Colombo.
MANOEL IGNÁCIO BASTOS