A Gruta de Nossa Senhora de Lourdes – São Gonçalo-Sousa-PB

Essa terra de onde ainda se ouve o chiado das cartucheiras dos cangaceiros, o estampido dos tiros, as indagações de Maria Bonita apreensiva com as pragas, possivelmente, rogadas; essa terra que emana, das pensões perdidas nas dobras do tempo, um cheiro de tempero de comida feita na hora; esse cheiro de pinga que nos estonteia proveniente dos bares, essa terra também se põe de joelhos...

Na década de 1930, efervescem as manifestações públicas da religiosidade de São Gonçalo com o advento da construção da capela, na Rua Dezesseis, e da Gruta de Nossa Senhora de Lourdes, nas proximidades da barragem do açude, com extrema predominância do catolicismo, religião oficial na época - herança bendita do catolicismo rural europeu. Neste sentido, convém ressaltar a influência exercida a favor da doutrina pelo engenheiro da construção do açude, Dr. Estevam Marinho (1896-1953), e sua esposa, Cleomar (Zizita) Marinho, de tradicional família paraibana, descendente do Barão do Abiaí, responsáveis pelas construções da gruta e da capela.

Grande ponto de veneração da religião católica em São Gonçalo, a Gruta de Nossa Senhora de Lourdes, estrategicamente, localizada na parte alta do acampamento, ao lado da barragem do açude, foi erigida sobre um conjunto de grandes rochas, onde se colocou uma imagem da Santa Nossa Senhora de Lourdes, advinda do Rio de Janeiro, doada pela própria Zizita Marinho, em decorrência de uma graça alcançada, ou seja, a cura de uma grave doença que fora acometida.

A imagem menor, de Santa Bernadete, oriunda de Caruaru-PE, fora doada por Dr. Paulo de Brito Guerra (1914-2006), que efetuou uma reforma e ampliação na gruta, na década de 1940, com inspiração na famosa gruta francesa, a partir de um cartão postal que recebera de sua irmã que visitava o santuário de Lourdes, na França. Estas informações constam no livro “Um Mossoroense na Luta Contra as Secas”, escrito por Marina Guerra em 1996, numa homenagem ao seu pai Dr. Paulo Guerra, que trabalhou e residiu em São Gonçalo nos anos de 1936 a 1956, sendo chefe local no período de 1940 a 1956.

No ano de 1945, a Senhora Noemi Pordeus Gadelha, esposa do ex-prefeito de Sousa, Tozinho Gadelha, cumpriu uma promessa feita a Nossa Senhora de Lourdes, subindo todos os degraus da gruta de joelhos, em virtude do encerramento da Segunda Guerra Mundial. Haja vista que o seu filho Zé de Tosinho (23.10.1922-26.02.2013), militar convocado pela Força Expedicionária Brasileira (FEB), agregado ao 1º Regimento de Obuses (Grupo de Infantaria), já se encontrava no cais porto do Rio de Janeiro para o embarque, com vistas a se juntar às tropas brasileiras, nos históricos e sangrentos combates na Itália, quando chegou a alegre notícia do final da guerra. Zé de Tozinho, na época, um jovem com apenas 23 anos de idade, trabalharia pelo DNOCS no hospital de São Gonçalo, como dentista, durante o período de 01/07/1965 a 07/04/1992.

Um dos moradores da casa da gruta, que era responsável pelo sua guarda, foi o senhor Epitácio, durante as décadas de 1960 e 1970. Na época, a sua casa simples de taipa, abrigava jogos de sueca até altas horas. A partir do ano de 1984, Valdemar Quirino (1942-2018), neto do ex-cangaceiro Moreno, conhecido dos livros de História, assumiu a responsabilidade pelo zelo e guarda do local sagrado para os católicos. Ele cuidava da gruta como se fosse a sua própria casa. O senhor Davi também exerceu o ofício de guardião do templo sagrado do catolicismo local, em épocas pretéritas.

No dia 2 de dezembro do ano de 1993, a imagem de Nossa Senhora de Lourdes, moldada em gesso, sofreu um atentado ao ser retirada, por um vândalo da própria localidade, da Gruta de Lourdes e arremessada em uma pedreira, ocasionando a sua destruição parcial. A comunidade religiosa local recolheu os destroços da imagem e providenciou a sua restauração, por uma leiga Consagrada chamada Luísa Moisés, em Cajazeiras.

Após o processo de restauração, que durou alguns meses, a imagem foi enviada para a Capela de São Gonçalo, de onde seguiu em procissão, acompanhada por um grande contingente de fiéis católicos, com destino ao seu lugar de origem, ou seja, a gruta que possui o nome da santa. Apesar da qualidade do trabalho de restauração realizado, a imagem de Nossa Senhora de Lourdes não apresentava mais a originalidade física de outrora. No entanto, o fato vivificou ainda mais a fé e a espiritualidade dos católicos em relação à devoção à santa.

No ano de 2014, o Padre Dedé, na sua administração paroquial, conseguiu resgatar a imagem de Santa Bernardete que estava na posse de uma devota por duas décadas, desde a época do atentado.

Logo em seguida, Padre Dedé encaminhou as duas imagens para um processo de restauração, e no dia 11 de fevereiro de 2014 ocorreu a realização da Primeira Romaria Paroquial de Nossa Senhora de Lourdes, numa procissão da Paróquia até a Gruta.

No período chuvoso de 2018, houve o desabamento de uma encosta da gruta, por causa de uma suposta infiltração em um dos troncos das árvores que morreram e foram demolidas, ocasionado a interdição da gruta pela defesa civil por mais de dois anos.

Depois de uma longa e tenebrosa espera, finalmente a gruta teve a sua infraestrutura totalmente reformada e revitalizada pela Prefeitura Municipal de Sousa, na gestão do Prefeito Fábio Tyrone, com uma cerimônia de reinauguração oficial no dia 10 de julho de 2020, dia da cidade de Sousa, com a realização de uma missa no santuário.

Após este importante trabalho de transformação de sua arquitetura, sem tampouco agredir a originalidade da gruta, o ambiente ficou esplendorosamente belo e seguro, ganhando ainda mais em visibilidade e acessibilidade, notadamente pela implantação de rampas de acesso, iluminação completa, montagem de uma caixa d'água com motor bomba e instalação hidráulica, criação de uma cascata, fixação de corrimões de inox em todos os acessos, proteções laterais de madeira, colocação de piso tátil para deficientes visuais, reconstrução do piso e de degraus, instalação de uma réplica do "Cristo Redentor", dentre outras benfeitorias.

Na noite do dia 13 de agosto de 2020, a Fundação Municipal de Cultura (entidade da Prefeitura Municipal de Sousa), sob a coordenação de Augusto Ferraz, realizou um espetáculo belíssimo dentro do seu Projeto "Quintas Sinfônicas". Na ocasião, em uma "live" transmitida diretamente da gruta pelo canal das Prefeitura de Sousa no youtube, o público apreciador de música de qualidade pode ser deleitar ao som de grandes clássicos interpretados pelas sinfônicas: "Orquestra Tom da Terra", da cidade de Sousa, sob a regência de Aramis Lins; "Quarteto de Lá Para Cá"; e OSP Metais. O "Quarteto de Lá Para Cá" e "OSP Metais" são braços musicais da Coordenação de Bandas Escolares - Região Sertão, da Secretaria de Estado da Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba.

No intervalo entre os shows, a convite da Fundação de Cultura, Tive a oportunidade de apresentar um pouco da historicidade de São Gonçalo, em ordem cronológica dos acontecimentos, a partir de três temas centrais básicos: o açude de São Gonçalo; as visitas presidenciais à localidade; bem como a Gruta de Nossa Senhora de Lourdes. Ao final, aproveitei o momento para prestar homenagem a uma das pessoas mais queridas de São Gonçalo: o senhor Libério Pereira de Menezes, devido à sua grande atuação e forte identidade com o povo e com as causas de nossa terra. Tanto o evento em si como a citada homenagem tiveram enorme e positiva repercussão na comunidade são-gonçalense, assim como na cidade de Sousa.

A Gruta de Nossa Senhora de Lourdes é ambiente de culto e adoração pelos fiéis, notadamente aos domingos e feriados, com verdadeira romaria de penitentes que, conduzem flores, velas e fé, manifestam seu agradecimento à santa pelas graças e milagres alcançados. É comum a casa de orações receber fiéis de várias partes do Brasil.

Josemar Alves Soares
Enviado por Josemar Alves Soares em 03/08/2020
Reeditado em 28/03/2021
Código do texto: T7025331
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