Cultura do Cancelamento

A cultura do Cancelamento é muito antiga. Parece, mas isso não é novidade, só é mais fácil disseminar e obter maior alcance. Se não é, aqui no Brasil, o caso mais famoso, é um dos mais: Wilson Simonal. O cantor Lobão criou, ou apenas usa, o termo “simonalizar”. Lobão sofreu uma tentativa de cancelamento ou, como ele disse simonalização. Mas, também como ele diz, ele é “insimonalizável”. Cancelamento é sinônimo do neologismo “simonalização.

Wilson Simonal foi cancelado, quando esse conceito nem sequer existia. A história dele foi muito bem contada em excelentes livro e documentário. Dono de um talento sem fronteiras, Simonal foi relegado à condição de pária entre os artistas ou apenas não-pessoa. Um artista badalado foi transformado numa alma penada.

Resumindo sua história, ele deu uma “prensa” num contador que o teria “passado pra trás”. Para isso, contou com os “serviços” de policiais amigos e nada cordiais. Esse foi o estopim para Simonal ser tachado de informante (colaborador) da polícia. Tudo isso em pleno governo militar. Conclusão, ele foi proscrito no auge da popularidade, e um talento raro foi apagado para sempre.

Esse caso, que prova que a “cultura do cancelamento” não é uma novidade digital, embora traga muitas semelhanças (no método) com o que ocorre hoje. Para quem achava que a polarização política já tinha ido longe demais, com vírus de esquerda e remédio de direita, esse é mais um instrumento.

Retratado no livro 1984 (George Orwell), o “cancelamento” era um método de Estado. Consistia em apagar qualquer vestígio da existência do indivíduo que interessasse às autoridades. Hoje, a cultura do cancelamento -que não é apenas uma modinha inofensiva da internet- isola determinada pessoa, mantendo-a afastada de contratos publicitários, lugares e pessoas. Eis, novamente, alguém transformado em pária ou não-pessoa.

Essa nova (antiga) cultura é a atualização da lista negra e do enforcamento. A agonia em praça pública é o destino de quem ousou avançar os limites impostos pela ditadura vigilante e alcagueta do politicamente correto. Se fizer ou falar algo que desagrade patotas organizadas, antes você era cancelado na vida, agora você pode ser bloqueado nas redes sociais.

RRRafael
Enviado por RRRafael em 31/07/2020
Código do texto: T7022158
Classificação de conteúdo: seguro