LENDA INDÍGENA: "PEDRAS DE FOGO"
Os humanos ainda não conheciam o fogo na região Norte do país, parte hoje denominada Roraima. Os silvícolas costumavam comer beijus de mandioca, de gosto ruim porque eram simplesmente amornados pelo Sol - única fonte de calor conhecida.
Lá nas profundezas da floresta vivia (sozinha) uma velha feiticeira de nome Palenosamó - que fazia esses beijus bem mais torrados e saborosos, mesmo nos dias em que o Sol se escondia. Todos queriam saber o segredo daquela culinária - ou feitiçaria - mas ela escondia.
Como em todo lugar da Terra não faltam curiosos, uma jovem índia ficou à espreita, escondida nos galhos de uma árvore, para desenredar a receita. Descobriu os mínimos detalhes e correu para a sua aldeia, espalhando para todos o que viu.
Disse que a velhinha amontoava galhos secos de madeira em seu quintal e ali subia para fazer suas necessidades fisiológicas. Viu que ela cuspia e defecava uma coisa brilhante e quente como a luz do Sol. Era essa coisa que queimava toda a lenha e esquentava principalmente os seus beijus, dando gosto diferente à comida. A essa coisa brilhante deram o nome de fogo.
Toda a tribo interessou-se e foi buscar fogo na oca da feiticeira ou pedir que ensinasse o feitiço. Ela negou fogo. Conhecia os segredos, mas guardava-os para si.
Aí, arrastaram-na até a aldeia, com pernas e braços amarrados. Sentaram-na sobre um montão de lenha e apertaram o seu ventre fortemente. Ela não suportando a tortura, defecou e cuspiu fogo, causando ali um grande incêndio. Seu corpo virou cinzas. A fogueira queimou a terra onde ainda se encontram as pedras "wato" , cujo atrito umas com as outras gera fogo com facilidade.
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Obs. 01: Sobre as pedras wato, ver "Pedras de fogo que se encontram no Roraima", do antropólogo e etnógrafo alemão Theodor Koch-Grünberg (1872-1924), trabalho publicado em 1911.
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Obs. 02: Esta é a lenda dos grupos indígenas Taulipang e Arekuná, que muito se adaptaria também à região de PEDRAS DE FOGO, na divisa Paraíba/Pernambuco, próxima a Itambé (PE) e originariamente povoada pelos índios Tabajaras.
São muito encontradas, ali, umas pedras avermelhadas que faiscam sob os trotes de cavalos marchadores. Esse fenômeno deu nome ao município de Pedras de Fogo (PB).
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Obs. 03: Em www.lendoerelendogabi.com, verificamos que cada tribo tem sua lenda acerca da origem do fogo, narrativas que se vão transmitindo de geração em geração. Cita:
- lenda Xavante;
- lenda Kuikúru.
- lenda Parintintins;
- lenda Kaingang, entre outras.
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Conclusão:
Os indígenas costumam contar a riqueza de suas lendas através de cantos e danças, registros históricos e milenares que dão o sentido de convivência com a natureza e curas.
Quanta coisa ignorada e desprezada por nós, até mesmo seus descendentes!... Quanta cultura desperdiçada ou apagada pelos novos senhores das terras!...
É preciso correr, neste princípio de século XXI, para tentar catalogar algo que ainda resta e cujo destino é ser queimado com as florestas.
A nenhum vivente de bom senso é lícito negar que as terras indígenas estão sendo tomadas a fogo e sangue, aos nossos olhos e sob as cortinas de fumaça do autoritarismo.
Importa, pelo menos, que nos instruamos a respeito desses povos que nos viram aqui chegar e lhes desrespeitar. Leiamos os textos de pessoas que tiveram a coragem de conviver com os povos indígenas e registraram na literatura alguns detalhes dessa convivência. Cito alguns trabalhos que circulam no mundo civilizado:
- "Meu destino é ser onça", de Alberto Mussa (Record, 2009);
- "La poésie du Brésil", organizado por Max de Carvalho (Editions Chandeigne - França, 2012);
- "Quando a Terra deixou de falar" - antropólogo Pedro Cesarino Niemeyer (Editora 34);
- "Lendas do índio brasileiro", organizado por Alberto da Costa e Silva (Ediouro 2007);
- "Poesia.br" - antologia em 10 livros com dedicação especial aos cantos ameríndios e período colonial - oganizado por Sérgio Cohn (Livrarias Curitiba).
"O desenvolvimento do país não pode ser feito às custas destes povos que já estavam aqui há muito tempo, mas sim a partir deles" (Bolívar Torres, editor-assistente do jornal O Globo - Vozes dos povos da floresta).
Todo dia é dia de índio...
Os humanos ainda não conheciam o fogo na região Norte do país, parte hoje denominada Roraima. Os silvícolas costumavam comer beijus de mandioca, de gosto ruim porque eram simplesmente amornados pelo Sol - única fonte de calor conhecida.
Lá nas profundezas da floresta vivia (sozinha) uma velha feiticeira de nome Palenosamó - que fazia esses beijus bem mais torrados e saborosos, mesmo nos dias em que o Sol se escondia. Todos queriam saber o segredo daquela culinária - ou feitiçaria - mas ela escondia.
Como em todo lugar da Terra não faltam curiosos, uma jovem índia ficou à espreita, escondida nos galhos de uma árvore, para desenredar a receita. Descobriu os mínimos detalhes e correu para a sua aldeia, espalhando para todos o que viu.
Disse que a velhinha amontoava galhos secos de madeira em seu quintal e ali subia para fazer suas necessidades fisiológicas. Viu que ela cuspia e defecava uma coisa brilhante e quente como a luz do Sol. Era essa coisa que queimava toda a lenha e esquentava principalmente os seus beijus, dando gosto diferente à comida. A essa coisa brilhante deram o nome de fogo.
Toda a tribo interessou-se e foi buscar fogo na oca da feiticeira ou pedir que ensinasse o feitiço. Ela negou fogo. Conhecia os segredos, mas guardava-os para si.
Aí, arrastaram-na até a aldeia, com pernas e braços amarrados. Sentaram-na sobre um montão de lenha e apertaram o seu ventre fortemente. Ela não suportando a tortura, defecou e cuspiu fogo, causando ali um grande incêndio. Seu corpo virou cinzas. A fogueira queimou a terra onde ainda se encontram as pedras "wato" , cujo atrito umas com as outras gera fogo com facilidade.
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Obs. 01: Sobre as pedras wato, ver "Pedras de fogo que se encontram no Roraima", do antropólogo e etnógrafo alemão Theodor Koch-Grünberg (1872-1924), trabalho publicado em 1911.
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Obs. 02: Esta é a lenda dos grupos indígenas Taulipang e Arekuná, que muito se adaptaria também à região de PEDRAS DE FOGO, na divisa Paraíba/Pernambuco, próxima a Itambé (PE) e originariamente povoada pelos índios Tabajaras.
São muito encontradas, ali, umas pedras avermelhadas que faiscam sob os trotes de cavalos marchadores. Esse fenômeno deu nome ao município de Pedras de Fogo (PB).
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Obs. 03: Em www.lendoerelendogabi.com, verificamos que cada tribo tem sua lenda acerca da origem do fogo, narrativas que se vão transmitindo de geração em geração. Cita:
- lenda Xavante;
- lenda Kuikúru.
- lenda Parintintins;
- lenda Kaingang, entre outras.
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Conclusão:
Os indígenas costumam contar a riqueza de suas lendas através de cantos e danças, registros históricos e milenares que dão o sentido de convivência com a natureza e curas.
Quanta coisa ignorada e desprezada por nós, até mesmo seus descendentes!... Quanta cultura desperdiçada ou apagada pelos novos senhores das terras!...
É preciso correr, neste princípio de século XXI, para tentar catalogar algo que ainda resta e cujo destino é ser queimado com as florestas.
A nenhum vivente de bom senso é lícito negar que as terras indígenas estão sendo tomadas a fogo e sangue, aos nossos olhos e sob as cortinas de fumaça do autoritarismo.
Importa, pelo menos, que nos instruamos a respeito desses povos que nos viram aqui chegar e lhes desrespeitar. Leiamos os textos de pessoas que tiveram a coragem de conviver com os povos indígenas e registraram na literatura alguns detalhes dessa convivência. Cito alguns trabalhos que circulam no mundo civilizado:
- "Meu destino é ser onça", de Alberto Mussa (Record, 2009);
- "La poésie du Brésil", organizado por Max de Carvalho (Editions Chandeigne - França, 2012);
- "Quando a Terra deixou de falar" - antropólogo Pedro Cesarino Niemeyer (Editora 34);
- "Lendas do índio brasileiro", organizado por Alberto da Costa e Silva (Ediouro 2007);
- "Poesia.br" - antologia em 10 livros com dedicação especial aos cantos ameríndios e período colonial - oganizado por Sérgio Cohn (Livrarias Curitiba).
"O desenvolvimento do país não pode ser feito às custas destes povos que já estavam aqui há muito tempo, mas sim a partir deles" (Bolívar Torres, editor-assistente do jornal O Globo - Vozes dos povos da floresta).
Todo dia é dia de índio...