Entre o lúdico e o real: a mágica por trás da leitura e da escrita
Algumas vezes comentei brevemente sobre a arte de ler e escrever. Sou suspeito para abordar esse assunto. Em meu ponto de vista, não há vida sem esses dois elementos presentes constantemente no cotidiano de todos atualmente. Já dizia Ferreira Gullar "a arte existe porque a vida não basta" e a escrita é também uma forma de arte, aquela que permite ao ser humano expressar um pouco de si e do modo como enxerga sua realidade.
Interessante é observar ao longo da história todo o processo desde o surgimento da escrita até chegarmos nos dias de hoje. Iniciado com os primeiros ideogramas e hieróglifos gravados em pedras e placas de argila, passando pelo papiro, pelas folhas de palmeira, pelo bambu e pelo pergaminho até chegarmos ao códex – livros – e aos suportes digitais – computadores, celulares e tablets. Está sendo uma longa trajetória de aprimoramentos e mudanças.
Até mesmo as relações do leitor/escritor com texto mudaram. Se antes a pessoa precisava segurar vária placas de pedra ou argila para ler um único texto ou então desenrolar e enrolar vários pergaminhos, hoje basta um clique para acessar livros inteiros segundo o interesse de cada um. Isso sem levar em conta o universo de possibilidades proporcionados pelos hipertextos.
Não me atrevo a julgar se o sucesso da leitura e da escrita se deu de modo arbitrário ou se foi algo desenvolvido "naturalmente" em meio aos povos. De qualquer modo, mesmo àqueles que não possuem grande interesse pelas letras precisam delas para desenvolver atividades simples do cotidiano. Alguns chamam isso de "violência simbólica" – o fato de não termos a ampla divulgação de outros meios de comunicação que respeitem as afinidades de cada um em suas individualidades –, mas não consigo enxergar isso desse modo.
Creio que seria inviável conviver em um mundo onde cada um tivesse seu sistema – código – para se comunicar, pelo contrário provavelmente poucos conseguiram trocar registros uns com os outros. A título de exemplo podemos citar as limitações que muitos indivíduos sofrem profissionalmente por não saberem um idioma estrangeiro, agora imagine isso a nível pessoal, cada um com seu meio próprio de registrar conteúdos? Não vejo formas disso funcionar.
Seja como for, me encontro inserido nesse emaranhado que é o desenvolvimento da leitura e da escrita o qual muito me encanta pelo fato de oferecer um grande universo de possibilidades. Notícias, informações, viagens, distrações, sonhos, mentiras, verdades, enfim muitos são os seus objetivos.
Todavia, não foi à toa que no início citei o Ferreira Gullar. Entre tantas funções a que mais me fascina nos dias de hoje é artística. Pela literatura temos a possibilidade de imergir em outros universos, descansar em meio a loucura da vida cotidiana. É engraçado pensar isso, mas acredito que nas letras vemos um dos poucos instrumentos com múltiplas funções explícita: artística, filosófica, facilitar atividades cotidianos, entre outras.
Já dizia Nietzsche “A arte existe para que a realidade não nos destrua”. Para mim é exatamente isso, o ato de ler e escrever me possibilita ir onde o mundo material não pode me levar. Alguns vão chamar isso de “coisa de quem não tem o que fazer”, já outros dirão que estou ficando maluco, mas para mim é exatamente nesses momentos que consigo ser plenamente aquilo que sou: um ser humano, com erros e acerto, mas que reflete sobre a própria vida buscando ser alguém um pouco melhor. É uma pena nem todos perceberem isso desse modo.