Os personagens burros de mangás e animes
Se há algo que muita gente já notou ao assistir a certos animes ou ler mangás shounen(para rapazes), é o fato de que seus protagonistas geralmente são atrapalhados, não são intelectualmente brilhantes nem os mais bonitos. Aliás, alguns são mesmo burros e ninguém dá nada por eles. Entretanto, devido ao protagonismo, eles sempre acabam conseguindo salvar o dia. Um exemplo típico de protagonismo é o Seiya de Cavaleiros do Zodíaco, ou Saint Seiya, que chegava a irritar muitos que reclamavam que os outros lutavam até melhor do que ele mas apenas ele acabava como o herói da história. O caso é que, como Seiya é o protagonista, é natural que quem escreveu a história puxe a brasa para ele para que se destaque entre os demais. E percebemos bem que Seiya, como típico protagonista de histórias shounen, não é intelectualmente brilhante – embora não seja tão estúpido como muitos protagonistas de outros mangás e animes – nem o mais bonito (Hyoga, Shiryu e Shun o superam em beleza) ou o mais poderoso. Ele é impulsivo e se destaca pela determinação inabalável, que o faz superar obstáculos.
Outros protagonistas que podemos chamar de muito burros são o Yusuke, de Yu yu hakusho, o Goku de Dragon Ball, Naruto, do mangá do mesmo nome e o Nobita do clássico infantil Doraemon, considerado o primeiro embaixador do anime no Japão. Tirando Goku, que não frequentou escola, eles são péssimos alunos, arruaceiros e todos os consideram uns fracassados. Naruto quer ser o hokage da vila e estuda para ser um ninja, mas já foi reprovado várias vezes. Aliás, é comum que o protagonista comece fazendo o papel do típico fracote que apanha dos valentões e todos acham que eles nunca darão para nada, como o Nobita, que não se destaca nos estudos nem nos esportes, é medroso, não é nada bonito e apanha dos valentões. Alguns protagonistas só mostram seu valor depois de muitos desafios, o que não é o caso de Goku e Yusuke, que desde os primeiros episódios já mostraram ser bastante fortes, ainda que pouco dotados intelectualmente.
Também podemos falar de Eikichi Onizuka de Great Teacher Onizuka. Apesar de ser professor de Ciências Sociais, ele é um típico protagonista que ninguém chamaria de gênio. Ex-delinquente, formado por uma faculdade de terceira, ele se destaca de fato pela imensa força física – é faixa preta em karatê e tem a experiência dos tempos de líder de gangue – , por seus métodos um tanto heterodoxos de se aproximar dos alunos e pela forma inusitada com que vai dando lições de vida. Há mesmo alunos mais inteligentes do que ele, como Kikuchi e Kanzaki, uma menina com QI de gênio.
Um protagonista pouco inteligente mas muito determinado que é favorecido pelo protagonismo é o Shurato, que passou na extinta TV Manchete e era apenas uma outra versão de Cavaleiros do Zodíaco, diferenciando-se deste último por se inspirar na mitologia hindu. Shurato, como todos os típicos protagonistas, é impulsivo, infantil, moleque, teimoso, faz um monte de burradas e não tem características marcantes. Assim como Seiya, Naruto, Yusuke e outros, Shurato não é o mais bonito, forte, sério ou habilidoso. Mas tem uma sorte imensa. Conquista o coração da mocinha da história sem muito esforço e mostra em todas as batalhas que é bem mais do que o que pensam dele, além de salvar a pátria no final.
Colocar protagonistas pouco brilhantes ou bastante obtusos pode ser uma forma de fazer o público se identificar. A adolescência é uma fase insegura e quem não se identifica com aquele protagonista que é desprezado por todos mas, graças à determinação, consegue se superar e vencer tudo e todos? É uma forma de criar empatia com o personagem que todos consideram um zero à esquerda que nunca fará nada especial. Isso faz bem ao telespectador, como uma catarse. Porém, essa fórmula, com toda sinceridade, já ficou muito repetitiva. É uma pena que poucos autores tentem fazer algo diferente. Seria bom que se tentasse variar um pouco, dando espaço à criatividade porque, quem assiste a alguns desses animes ou lê esses mangás pode ter a impressão que está vendo a mesma história recontada inúmeras vezes.