O PODER DAS PALAVRAS

Para os cristãos o Verbo se fez carne, segundo relata João no seu Evangelho, capítulo primeiro. O verbo é a palavra e a Palavra se fez presente em nosso meio.

A palavra tem poder imensurável, penetra nos recônditos mais profundos d’alma e não se pode medir seu alcance, para um lado ou para outro, para o bem ou o mal conforme seu uso.

A boca fala daquilo que o coração está cheio, já diz o velho adágio popular. Hodiernamente vemos a sociedade transformada pela incompreensão e pelo ódio ao diferente; transtornada pelas ideologias e posturas de quem, mesmo vencedor, quer se sobrepor ao vencido a qualquer custo.

A palavra é elemento forte e seu poder é devastador. Poder-se-ia dizer que aos beligerantes as armas. Aos grandes a palavra como arma.

Foi a grande arma dos profetas do Velho Testamento. Ato contínuo, é a arma dos profetas dos dias atuais. O próprio Jesus a usou num caso emblemático como o do cego de Jericó, conforme nos relata Lucas no capítulo 18. Ancorada em Nelson Barbalho, em sua Cronologia Pernambucana, a escritora Clarice Lispector dizia ‘não ter nenhum poder. Só o da palavra, as vezes’

O poder das palavras provoca o convencimento e muda realidades e situações as mais díspares. Sócrates usou bem a palavra para ensinar e convencer. Usava as palavras para ajudar às pessoas no seu autoconhecimento e reflexão mais acentuada da vida. Tomás de Aquino falava da força da palavra divina e da palavra humana a desembocar na relação com o homem.

Revoluções foram encetadas a partir das lutas libertárias mundo a dentro. Gandhi falava da felicidade a partir do que se pensa e daquilo que se diz. Na África tivemos a voz vibrátil de Nelson Mandela que encampou a luta contra o Apartheid, regime que matava seus concidadãos negros. Pelo poder da palavra Madiba pacificou seu país fazendo justiça social a todos, sem revanchismo.

Por aqui tivemos dom Hélder Câmara, bispo dos pobres. Uma voz que se levantou no Nordeste brasileiro sem temer os opressores de seu tempo. Homem franzino, usava a palavra numa dialogicidade impressionante que arrebatava as consciências. O Papa vai na mesma direção.

Eis que iniciamos o ano presente. Um ano atípico, na verdade. Eleições locais acontecerão nos mais distantes grotões do País. A Palavra será usada em todos os lugares, por todos os lugares!

Nós, os pobres mortais, despidos de poder e, as vezes, da palavra, estaremos a escutar atentamente as promessas feitas e refeitas sem maiores pudores por muitos que disputarão cargos eletivos sem muito compromisso com a municipalidade. Não adianta reclamar depois se não pararmos para avaliar o que foi dito. É imperioso lembrar que também somos detentores de direitos – ainda que a classe política sorrateiramente ignore -, e como tais devemos cobrar participando do processo, no exercício pleno da consciência cidadã, refutando promessas ‘sem jeito’, como diria mestre Ariano.

Tudo aquilo que for dito será impactante em nossas vidas, principalmente na educação, na saúde e na assistência social, bandeiras ferozmente atacadas no espectro político, principalmente no Poder central parecido e havido como um governo acéfalo a nos tanger feito hienas.

O poder das palavras nós já o temos desde o momento que decidimos participar votando, debatendo e propondo. Faltam-nos, contudo, as palavras do Poder.

José Luciano
Enviado por José Luciano em 17/01/2020
Reeditado em 17/01/2020
Código do texto: T6843950
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