OS JARDINS SUSPENSOS DA BABILÔNIA
A Babilônia sempre será lembrada como uma das cidades mais enigmáticas e mágicas de todos os tempos. Era nessa lendária cidade que estava uma das sete maravilhas do mundo antigo segundo Filão de Bizâncio, os jardins suspensos da Babilônia, com jardins tão altos que bosques passavam por cima da cabeça dos transeuntes, como se estivessem pairando no ar, com uma sombra revigorante no árido Oriente Médio. Construídos às margens do rio Eufrates, suas colunas variavam entre vinte e cinco e cem metros e imitavam montanhas; eram cheios de escadarias de mármore, mesas e fontes, algo tão extraordinário que talvez a imaginação falhe em reconstituir!
Essa maravilha foi erguida por Nabucodonosor II para agradar a sua rainha, Amitis, que sentia saudade das montanhas verdejantes de sua terra natal, a Média, região montanhosa onde fica o atual Irã. Embora haja controvérsias históricas, segundo Beroso, sacerdote que escreveu em língua grega A História da Babilônia, foi mesmo Nabucodonosor II quem mandou construir os maravilhosos jardins, que eram, na verdade, os jardins do palácio do imperador. Esse é um episódio de uma linda história de amor, que faz paralelo ao Taj Mahal, na Índia, um mausoléu que foi edificado por um imperador também em memória a sua esposa favorita, a quem chamava de “A Joia do Castelo”, e figura, hoje, entre as sete maravilhas do mundo moderno.
Essas construções magníficas e maravilhosas são provas de amor dadas por imperadores às suas amadas que culminaram com a conquista da eternidade.
Os gregos viviam em uma região montanhosa e pedregosa — diferente dos outros povos antigos que se estabeleceram à margem de rios — e suas colheitas se davam em terraços, onde oliveiras, trigos e uvas davam o tom do cenário, e isso, cultivado em um solo duro, arredio e limitado, que não permitia um plantio muito variado; isso explica o porquê do vislumbre com que os gregos foram impactados quando chegaram ao Oriente e viram toda sua paisagem delicada, contemplando jardins com uma abundância faraônica de espécies de árvores, frutos, cores, perfumes e flores jamais vistas por eles, regados com fontes que jorravam águas e alimentavam todo o edifício.
A palavra jardim, como é conhecida hoje, não era a mesma utilizada para se referir a jardins na Pérsia, eles o chamavam de paraíso. Depois que os gregos lá chegaram, embora o jardim original já não passasse de escombros, trouxeram para o Ocidente a noção de jardim tal qual haviam visto no Oriente, e a palavra que usavam para expressar um jardim era “paraíso” ou “jardins paradisíacos”, assim como os reis persas denominavam suas construções. O jogo de palavras remonta à imbricação que há entre jardim e paraíso advinda do Jardim do Éden, citado em Gênesis, que não por acaso, especula-se ter existido na região mesopotâmica.
Os jardins romanos e renascentistas são lembranças melancólicas dos jardins do Oriente, e a presença unânime de chafarizes jorrando água para cima e deixando-a escorrer por veios que regam as plantas é uma alusão direta aos quatro rios que cortavam o Jardim do Éden, conquanto sejam também aludidos nos mitos mesopotâmicos.
No livro mais antigo do mundo, A Epopeia de Gilgamesh, um poema épico de origem babilônica, o herói Gilgamesh encontra o elixir da vida em um jardim paradisíaco, depois de conhecer um sobrevivente do grande dilúvio, Utnapishtim, mostrando que obras literárias extras bíblicas relatam não só o dilúvio, mas também os primeiros homens vivendo em paraísos edênicos.
Adão viveu em um jardim que foi plantado pelo próprio Deus,[1] até ser expulso dele. Ele viveu com sua mulher nesse paraíso, sentindo o perfume de flores exóticas, abertas em seu esplendor como se estivessem explodindo cores e perfumes, colhendo com as próprias mãos uma variedade imensa de frutos das árvores, sentindo o calor do sol beijando seus rostos quando se deitavam na areia à beira de um dos rios que cortavam o jardim depois de um banho em suas águas. Animais dos mais lindos destacavam ainda mais o colorido da paisagem, pássaros cantavam os mais belos cantos enquanto outros pintavam o céu com suas cores. Era nesse cenário que Adão viveu o seu romance com Eva, onde tiveram sua lua de mel, e, se não bastasse isso, todos os dias, à tardinha, o casal recebia a visita do seu melhor amigo, Deus, que passeava com eles pelo jardim; e com o por do sol, a vista que tinham era de aves silvestres em um voo orquestrado no horizonte, até que o brilho da lua era refletido nos olhos do casal, enquanto Eva deitava sobre o peito de Adão e seus olhares transpassavam um a alma do outro.
Quando se viu fora dessa que era a sua casa, em um ambiente hostil, com feras à espreita, colhendo seu alimento ao custo de muito suor e vendo calos brotarem em suas mãos, Adão era quem mantinha viva a imagem e a lembrança do paraíso, de sorte que, pelos próximos séculos, se alguém quisesse saber suas origens, procuraria por Adão, e ao sentar junto dele para ouvir suas histórias, veria um homem de voz embargada, olhar fundo, prendendo o choro, cabisbaixo e com o coração esmagado de remorso. Adão se lembrava de tudo, de cada cheiro, cada cor, cada sorriso, cada passeio, cada banho de rio, ele estava criando o conceito de saudade, na sua forma mais devastadora.
Talvez a admiração que os homens sentem pelas plantas e jardins, o empenho em modelar paisagens com toda a delicadeza e perfeição e o alento que os acerta em cheio os arrebentando todinho por dentro quando, de repente, se deparam com visões extraordinárias da natureza em toda sua beleza e esplendor, sejam suas almas sussurrando baixinho, reverberando a saudade que cortava o peito do pai Adão e que acabou chegando a toda humanidade.
há quem diga que a própria cidade da Babilônia por si só já era uma maravilha. A porta de Ishtar, com seus azulejos esmaltados de azul brilhante, decorados com dragões e auroques em baixo-relevo, pode ser vista ainda hoje no museu de Berlim, na Alemanha. Foi sob essa porta que as colunas de cativos judeus vindos de Jerusalém entraram na Babilônia, depois de uma marcha humilhante de mais de 800 quilômetros. É nessa cidade lendária que os judeus viveram seu cativeiro, a cidade da torre de Babel, a cidade dos misteriosos jardins suspensos, a cidade do festim diabólico de Belzasar, a cidade que foi ela mesma a verdadeira maravilha do oriente.
Essa maravilha foi erguida por Nabucodonosor II para agradar a sua rainha, Amitis, que sentia saudade das montanhas verdejantes de sua terra natal, a Média, região montanhosa onde fica o atual Irã. Embora haja controvérsias históricas, segundo Beroso, sacerdote que escreveu em língua grega A História da Babilônia, foi mesmo Nabucodonosor II quem mandou construir os maravilhosos jardins, que eram, na verdade, os jardins do palácio do imperador. Esse é um episódio de uma linda história de amor, que faz paralelo ao Taj Mahal, na Índia, um mausoléu que foi edificado por um imperador também em memória a sua esposa favorita, a quem chamava de “A Joia do Castelo”, e figura, hoje, entre as sete maravilhas do mundo moderno.
Essas construções magníficas e maravilhosas são provas de amor dadas por imperadores às suas amadas que culminaram com a conquista da eternidade.
Os gregos viviam em uma região montanhosa e pedregosa — diferente dos outros povos antigos que se estabeleceram à margem de rios — e suas colheitas se davam em terraços, onde oliveiras, trigos e uvas davam o tom do cenário, e isso, cultivado em um solo duro, arredio e limitado, que não permitia um plantio muito variado; isso explica o porquê do vislumbre com que os gregos foram impactados quando chegaram ao Oriente e viram toda sua paisagem delicada, contemplando jardins com uma abundância faraônica de espécies de árvores, frutos, cores, perfumes e flores jamais vistas por eles, regados com fontes que jorravam águas e alimentavam todo o edifício.
A palavra jardim, como é conhecida hoje, não era a mesma utilizada para se referir a jardins na Pérsia, eles o chamavam de paraíso. Depois que os gregos lá chegaram, embora o jardim original já não passasse de escombros, trouxeram para o Ocidente a noção de jardim tal qual haviam visto no Oriente, e a palavra que usavam para expressar um jardim era “paraíso” ou “jardins paradisíacos”, assim como os reis persas denominavam suas construções. O jogo de palavras remonta à imbricação que há entre jardim e paraíso advinda do Jardim do Éden, citado em Gênesis, que não por acaso, especula-se ter existido na região mesopotâmica.
Os jardins romanos e renascentistas são lembranças melancólicas dos jardins do Oriente, e a presença unânime de chafarizes jorrando água para cima e deixando-a escorrer por veios que regam as plantas é uma alusão direta aos quatro rios que cortavam o Jardim do Éden, conquanto sejam também aludidos nos mitos mesopotâmicos.
No livro mais antigo do mundo, A Epopeia de Gilgamesh, um poema épico de origem babilônica, o herói Gilgamesh encontra o elixir da vida em um jardim paradisíaco, depois de conhecer um sobrevivente do grande dilúvio, Utnapishtim, mostrando que obras literárias extras bíblicas relatam não só o dilúvio, mas também os primeiros homens vivendo em paraísos edênicos.
Adão viveu em um jardim que foi plantado pelo próprio Deus,[1] até ser expulso dele. Ele viveu com sua mulher nesse paraíso, sentindo o perfume de flores exóticas, abertas em seu esplendor como se estivessem explodindo cores e perfumes, colhendo com as próprias mãos uma variedade imensa de frutos das árvores, sentindo o calor do sol beijando seus rostos quando se deitavam na areia à beira de um dos rios que cortavam o jardim depois de um banho em suas águas. Animais dos mais lindos destacavam ainda mais o colorido da paisagem, pássaros cantavam os mais belos cantos enquanto outros pintavam o céu com suas cores. Era nesse cenário que Adão viveu o seu romance com Eva, onde tiveram sua lua de mel, e, se não bastasse isso, todos os dias, à tardinha, o casal recebia a visita do seu melhor amigo, Deus, que passeava com eles pelo jardim; e com o por do sol, a vista que tinham era de aves silvestres em um voo orquestrado no horizonte, até que o brilho da lua era refletido nos olhos do casal, enquanto Eva deitava sobre o peito de Adão e seus olhares transpassavam um a alma do outro.
Quando se viu fora dessa que era a sua casa, em um ambiente hostil, com feras à espreita, colhendo seu alimento ao custo de muito suor e vendo calos brotarem em suas mãos, Adão era quem mantinha viva a imagem e a lembrança do paraíso, de sorte que, pelos próximos séculos, se alguém quisesse saber suas origens, procuraria por Adão, e ao sentar junto dele para ouvir suas histórias, veria um homem de voz embargada, olhar fundo, prendendo o choro, cabisbaixo e com o coração esmagado de remorso. Adão se lembrava de tudo, de cada cheiro, cada cor, cada sorriso, cada passeio, cada banho de rio, ele estava criando o conceito de saudade, na sua forma mais devastadora.
Talvez a admiração que os homens sentem pelas plantas e jardins, o empenho em modelar paisagens com toda a delicadeza e perfeição e o alento que os acerta em cheio os arrebentando todinho por dentro quando, de repente, se deparam com visões extraordinárias da natureza em toda sua beleza e esplendor, sejam suas almas sussurrando baixinho, reverberando a saudade que cortava o peito do pai Adão e que acabou chegando a toda humanidade.
há quem diga que a própria cidade da Babilônia por si só já era uma maravilha. A porta de Ishtar, com seus azulejos esmaltados de azul brilhante, decorados com dragões e auroques em baixo-relevo, pode ser vista ainda hoje no museu de Berlim, na Alemanha. Foi sob essa porta que as colunas de cativos judeus vindos de Jerusalém entraram na Babilônia, depois de uma marcha humilhante de mais de 800 quilômetros. É nessa cidade lendária que os judeus viveram seu cativeiro, a cidade da torre de Babel, a cidade dos misteriosos jardins suspensos, a cidade do festim diabólico de Belzasar, a cidade que foi ela mesma a verdadeira maravilha do oriente.
O sítio babilônico à Jerusalém traz terríveis cenas de mães cozinhando seus próprios filhos para não morrerem de fome, até que, após um cerco ferrenho, Jerusalém caiu e o exército caldeu entrou na cidade. Crianças, mulheres e velhos foram mortos à espada, o templo incendiado, os muros derrubados, gritos de terror se ouviam a longas distâncias, o sangue escorria pelas valetas. O próprio rei judeu, Ezequias, antes de ter seus olhos vazados, viu seu filho sendo degolado diante dele, ficando assim, como lembrança de sua última visão, o olhar carregado de medo de seu filho e a expressão de prazer no rosto do algoz, além de sua esmagadora sensação de impotência ao observar a garganta da pessoa que ele mais amava no mundo sendo rasgada enquanto o menino se afogava no seu próprio sangue com um soldado caldeu o segurando pelos cabelos. Assim como os assírios, os babilônicos tinham como característica de seu exército a crueldade, a ferocidade e a síntese do terror. Dizer que esses exércitos eram violentos é até um eufemismo, eram mais que isso, eram o inferno na Terra, eram um encontro sombrio com o demônio, a simples visão de suas aproximações despertava o desejo de invocar a morte, o desejo de abandonar a realidade antes de cair em suas mãos e ser por eles devorado.
Os judeus viveram cativos na Babilônia por setenta anos e a lembrança de Jerusalém os acertava em cheio com remorsos e lágrimas. Um relato poético do drama hebreu no cativeiro babilônico está registrado no Salmo 137:
"Junto aos rios da Babilônia, ali nos assentamos e choramos, quando nos lembramos de Sião. Sobre os salgueiros que há no meio dela, penduramos as nossas harpas. Pois lá aqueles que nos levaram cativos nos pediam uma canção; e os que nos destruíram, que os alegrássemos, dizendo: Cantai-nos uma das canções de Sião. Como cantaremos a canção do Senhor em terra estranha?"
Cabe aqui um parêntese para uma curiosidade. Esse salmo é cantado pelo famoso grupo de disco’ music Boney M., que foi sucesso nos anos 70 e 80, com a música Rivers of Babylon. Com certeza muitos já devem ter ouvido ou até mesmo dançado essa música sem saberem que a letra da música é literalmente o salmo 137!
Ainda antes da queda de seu suntuoso império, Nabucodonosor se curvou diante do Deus dos judeus e reconheceu que ele era o detentor do poder e o dava a quem quisesse, bem como era também o senhor da história humana, conforme registrado em Daniel 2:47.
Nabucodonosor, imperador da Babilônia, cidade que em Apocalipse é símbolo de depravação e do domínio de Satanás, foi chamado por Deus de “meu servo” (Jeremias 43:10)! Essa declaração vinda do próprio Deus escancara que os planos de Deus na vida de alguém independem de credo, ou ascendência, ou raça. Tal fato deixa explícito que Deus é soberano em seus desígnios, escolhendo quem ele quer, como quer e quando quer, independentemente de concepções e juízos humanos.
Foi Daniel quem também profetizou a ruína da Babilônia e sua tomada pelos medo-persas, e isso, aos ouvidos do próprio imperador Belsazar, durante um festim luxuoso onde o vinho era servido em taças espoliadas do templo de Salomão, em uma atitude que visava rememorar as glórias de seu império, mas que descambou em um escárnio blasfemo aos objetos sagrados do culto judaico.
Os judeus viveram cativos na Babilônia por setenta anos e a lembrança de Jerusalém os acertava em cheio com remorsos e lágrimas. Um relato poético do drama hebreu no cativeiro babilônico está registrado no Salmo 137:
"Junto aos rios da Babilônia, ali nos assentamos e choramos, quando nos lembramos de Sião. Sobre os salgueiros que há no meio dela, penduramos as nossas harpas. Pois lá aqueles que nos levaram cativos nos pediam uma canção; e os que nos destruíram, que os alegrássemos, dizendo: Cantai-nos uma das canções de Sião. Como cantaremos a canção do Senhor em terra estranha?"
Cabe aqui um parêntese para uma curiosidade. Esse salmo é cantado pelo famoso grupo de disco’ music Boney M., que foi sucesso nos anos 70 e 80, com a música Rivers of Babylon. Com certeza muitos já devem ter ouvido ou até mesmo dançado essa música sem saberem que a letra da música é literalmente o salmo 137!
Ainda antes da queda de seu suntuoso império, Nabucodonosor se curvou diante do Deus dos judeus e reconheceu que ele era o detentor do poder e o dava a quem quisesse, bem como era também o senhor da história humana, conforme registrado em Daniel 2:47.
Nabucodonosor, imperador da Babilônia, cidade que em Apocalipse é símbolo de depravação e do domínio de Satanás, foi chamado por Deus de “meu servo” (Jeremias 43:10)! Essa declaração vinda do próprio Deus escancara que os planos de Deus na vida de alguém independem de credo, ou ascendência, ou raça. Tal fato deixa explícito que Deus é soberano em seus desígnios, escolhendo quem ele quer, como quer e quando quer, independentemente de concepções e juízos humanos.
Foi Daniel quem também profetizou a ruína da Babilônia e sua tomada pelos medo-persas, e isso, aos ouvidos do próprio imperador Belsazar, durante um festim luxuoso onde o vinho era servido em taças espoliadas do templo de Salomão, em uma atitude que visava rememorar as glórias de seu império, mas que descambou em um escárnio blasfemo aos objetos sagrados do culto judaico.
[1]Gênesis 2:8. A Bíblia não diz que Deus “criou” o Jardim do Éden, mas sim que Deus “plantou” um jardim no Éden.