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No discurso Dos desprezadores do corpo da obra Assim falou Zaratustra2 se centraliza a crítica nietzscheana à concepção de homem dos metafísicos, os quais, lá, desde Platão, compreenderam a natureza humana como um composto de alma e corpo. Enquanto a alma foi tomada como eterna, verdadeira, boa, pura, o corpo passou a ser um empecilho perecível, causador de sofrimento aos homens. Portanto, era necessário livrar-se do corpo, ou seja, dos desejos, paixões e instintos para que pudéssemos alcançar a felicidade. É contra a tradição metafísica, ou seja, os desprezadores do corpo, que o discurso de Zaratustra combaterá a postura da afirmação da alma como o triunfo sobre o corpo ou como a natureza mais elevada do homem a favor da valorização do corpo e dos instintos. Contudo, o conceito de corpo/Selbst na filosofia nietzscheana assume um novo caráter: a luta dos impulsos e tendência de crescimento de potência. Concebendo o corpo enquanto multiplicidades de impulsos que lutam entre si por mais potência, o filósofo, por via da personagem fictícia de Zaratustra, dissolverá a dualidade corpo/alma e todo tipo de negação da vida desmascarando tais posturas, as quais escondem em suas valorações sintomas fisiológicos de doença.

Edjar Dias de Vasconcelos
Enviado por Edjar Dias de Vasconcelos em 28/12/2019
Reeditado em 06/01/2020
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