Por que os filmes religiosos são tão ruins

Por que os filmes religiosos são tão ruins

Ultimamente, tem havido uma grande demanda de filmes feitos para o público protestante norte-americano. Tais filmes também acabam fazendo sucesso aqui no Brasil, como podemos constatar ao ver a reação de quem assiste a filmes como Deus não está morto, Corajosos e Desafiando Gigantes. Entretanto, geralmente, para quem não é religioso, segue outra religião ou, simplesmente, é exigente em relação à qualidade dos filmes, tais produções são sofríveis, com histórias superficiais, diálogos fracos, situações forçadas e mero proselitismo religioso. O fato de um filme ser religioso não significa que ele seja de má qualidade, porém estes filmes evangélicos feitos nos últimos tempos mostram como querer fazer proselitismo religioso de qualquer maneira compromete a qualidade de uma boa história.

Comecemos dizendo o porquê desses filmes serem ruins. As razões são muitas e vamos enumerá-las e explica-las:

1- As histórias parecem reproduções de testemunhos que vemos em programas evangelizadores ou quando assistimos a cultos nas igrejas – se repararmos bem, as histórias praticamente não variam. Quase sempre, são sobre pessoas que estavam enfrentando crises familiares, financeiras, de saúde ou atravessando fases horríveis que conseguem se reerguer, refazer suas vidas familiares, arrumar emprego e até alcançar o sucesso após se voltarem “para Cristo”. Dois bons exemplos são Desafiando Gigantes e Corajosos, ambos dirigidos e protagonizados por Alex Kendrick, pastor batista que resolveu se dedicar a fazer filmes. No primeiro, ele é um técnico de um time de futebol americano que há seis anos só fracassa e começa a dar certo após levar mais a sério os ensinamentos religiosos, chegando a dizer aos jogadores que o propósito maior do time é louvar a Cristo. O técnico ainda está enfrentando crises financeiras e é estéril. No fim, a esposa dele ainda engravida. O que o filme sugere? Que tudo dá certo para quem se converte a Cristo. O que é um verdadeiro desafio? Terminar de assistir a esse filme, que mistura religião com esporte e é cheio de situações forçadas e diálogos sentimentaloides, com um versículo da Bíblia sendo dito a cada três palavras.

2- Os diálogos são forçados – um bom escritor precisa fazer com que os diálogos soem naturais e, ao assistirmos a filmes como Corajosos e Deus não está morto, vemos que cada situação e conversa só serve para que se falem versículos bíblicos. Deus não está morto é cheio de situações ridículas, com a frase de Nietszche sendo usada de forma descontextualizada, apenas para se falar que se tem que defender a fé contra os ateus malvados que querem impor a descrença em Deus. Em Desafiando Gigantes, que é uma clara referência à história de Davi e Golias, temos versículos citados até em momentos de treino. Cansa a nossa paciência.

3- Os não-cristãos são sempre retratados de forma negativa – quem é ateu, agnóstico ou segue outra religião é mostrado de forma negativa. São sempre pessoas egoístas, hedonistas, superficiais, arrogantes e que não dão valor à família e aos relacionamentos. Esse retrato negativo chega ao extremo em Deus não está morto, onde todos os ateus são pessoas de péssimo caráter e arrogantes, que terminam sendo castigadas. A jornalista ateia descobre que tem câncer, o professor universitário morre em consequência de um atropelamento e aceita Jesus antes de morrer e o empresário ouve de sua mãe com Alzheimer –numa cena patética – que ele tem uma vida boa mesmo sendo mau porque o diabo permite que as pessoas tenham uma vida boa para que se afastem de Deus, sugerindo que ele conhecerá um terrível castigo no futuro.

4- As histórias são previsíveis – sabemos muito bem que, para todos os cristãos, todo final será feliz. Quem segue a Cristo terminará feliz e quem não é cristão será castigado.

5- Os atores são péssimos – quase nunca há cuidado na escolha do elenco. Os atores costumam ser amadores. No caso dos filmes de Alex Kendrick, os atores são voluntários da Igreja Batista. Assim, somos premiados com atores péssimos que dizem frases com vozes artificiais e expressões imóveis. Ainda que isso não seja o mais relevante, acaba se somando aos muitos defeitos desses filmes.

Não há nada de errado em transmitir mensagens através de um filme, livro ou seriado desde que isso não prejudique o objetivo principal, que é contar uma boa história.Entretanto, os filmes religiosos do nicho evangélico não têm a preocupação de contar boas histórias. Eles apenas se preocupam em fazer uma propaganda ideológica e religiosa, comprometendo toda a qualidade de um filme.

Muitas pessoas que inclusive são religiosas não têm paciência para assisti-los, chamando-os de pueris, simplórios e inverossímeis. Alguns até acrescentam que eles fazem parecer que, para quem se converte, tudo magicamente passa a dar certo, o que sabemos não ser verdade.

Chega a ser um milagre que tanta gente goste de filmes assim, não percebendo seus muitos defeitos.