RPG Solo - Jogando aventuras sozinho.
Em uma das viagens que eu fiz com a minha família durante minha adolescência, aconteceu meu primeiro contato com os jogos de interpretação de papéis, mais conhecidos como Role-playing Games (RPGs). Sendo eu um entusiasta de livros de fantasia e ficção científica, tendo já produzido alguns textos destes tipos, e a criação de estórias completas uma das minhas brincadeiras favoritas na infância, era inevitável me apaixonar perdidamente à primeira vista.
Como acontece com muitos jogadores, a chegada da vida adulta e suas mudanças me afastaram dos RPG quase completamente, com poucos períodos de retorno. Atualmente, sendo pai de família, meu tempo livre tem como prioridade a esposa e filhos. A chance de se reunir com amigos por horas para uma sessão de RPG é cada vez mais improvável, ainda mais considerando que se trata de uma modalidade de passatempo pouco popular. Assim sendo, eu praticamente desisti de RPG por um tempo.
Este ano (2019), porém, foi como descobrir o RPG novamente: Tive contato com o RPG Solo. Mesmo o leitor iniciado nos RPGs possivelmente entenderia como RPG Solo as famosas “aventuras solos”, ou os “livros jogos”, dos quais os volumes da série “Aventuras Fantásticas” são os mais famosos exemplos. Mas não é deste tipo de obra, um tanto ou quanto popular, eu diria, de que se trata aqui.
Me refiro a uma maneira muito engenhosa, embora exija uma quantidade de abstração ainda maior que o RPG tradicional em grupo, de jogar prescindindo de qualquer outro jogador, mesmo de um mestre de jogo! Ou seja, bastaria um único jogador para se ter uma aventura nova, com infinitas opções e tão imprevisível quanto uma que fosse mestrada por uma pessoa! Isso é o que se chamaria de mind blowing! A assertiva de que “sem um mestre não há jogo” se tornou obsoleta!
Mas que artifício permitiria isso? Uma palavra: “Oráculo”. É... Você já viu que tem muito conceito a ser explicado neste texto, não é?
Deixando de lado conceitos ligados às artes esotéricas, oráculo aqui significa algo que gera respostas aleatórias de carácter vago e abrangente, de modo que apenas o contexto no qual a pergunta foi feita dá sentido à resposta.
O mais antigo e completo sistema de oráculo criado com o objetivo de jogar RPG solo se chama Mythic – Game Master Emulator, criado por Tana Pigeon, sob o pseudônimo de Tom Pigeon. Originalmente o Mythic foi lançado atrelado a um sistema de regras para jogos tradicionais, mas depois foi editado apenas com o sistema de simulação de mestre de jogo. Ganhou ainda uma sequência chamada Mythic Variations, e ainda uma terceira publicação que, apesar de se chamar Mythic Variations II, é mais uma reformulação do sistema para abandonar a dependência de tabelas.
O conceito central em Mythic e em todos os sistemas de RPG solo que eu já li, é o de fazer perguntas para o oráculo que responde de forma muito vaga, geralmente como sim ou não, e você interpreta de acordo com o contexto. Geralmente você usa o oráculo em combinação com seu sistema de regras favorito, então você usa qualquer mecânica dele para avançar a narrativa, por exemplo, os testes de reação de GURPS que definem a disposição de um NPC em relação a outro personagem, geralmente um PC.
Claro que fiquei louco para experimentar. No começo foi difícil, principalmente por ter que fazer o trabalho de criar os personagens jogadores, coisa que eu não estava muito acostumado, uma vez que eu geralmente mestrava quando jogava em grupo. Também se mostrou um pouco complexo controlar vários personagens e ainda manter o registro da estória. Mas continuo investindo nesta alternativa por seu potencial incrível.
Se você ficou interessado, recomendo o canal do professor Tarcísio Lucas, no youtube (https://www.youtube.com/channel/UCNUxQq9cc9zewoLPW_1Ar1g). Lá você encontrará dicas, reviews e até game plays de jogos. Nele eu encontrei a dica de começar com aventuras simples e controlando 1 ou 2 personagens e aumentar a complexidade aos poucos.
O jogo solo pode ser uma alternativa viável para quem, como eu é apaixonado por esta forma de contar estórias chamada RPG mas não consegue jogar em grupo porque não convive com pessoas que jogam ou não tem condições de assumir um compromisso de jogar em grupo. Decididamente, vale a pena tentar!