O Puzzle Mental Humano

“A ação anafrodisíaca do habito é uma lei inexorável na vida dos sexos” (Gregorio Marañón)

Muito antes da idéia do “Puzzle” surgir em 1760 quando um cartógrafo chamado John Spilsbury colou um mapa em uma madeira e depois recortou em diversos pedaços e percebeu que montar o mapa de volta era um ótimo exercício mental para crianças, muito antes disso, todos os homens já nasceram com seu próprio Puzzle, que podemos descrever como mente humana.

Nossa mente é maravilhosa, mas é controversa, é fulcral em praticamente todas as nossas tomadas de decisão, abriga as teorias mais emblemáticas e arruma os argumentos mais ridículos para explicar os fenômenos que não entende. Todo o homem crê em algo, no livro “Cérebro e Crença” de Michael Shermer, ele diz “Nossas tendências tribais nos levam a formar coalizões com pessoas que possuem idéias afins e passamos a demonizar os que têm crenças diferentes das nossas”. Sua mente não só crê em algo como exclui quem acredita em soluções ou métodos diferentes, sua mente é seletiva, tendenciosa, traiçoeira... Nossa mente nos trai.

Em 1958 o psiquiatra nazista Klaus Conrad descreveu a “Apofenia”, um fenômeno cognitivo de percepção em nossa mente que nos faz ver traços em que estamos familiarizados em objetos inanimados, apofenia é responsável por fazer você olhar para uma nuvem e ver o formato de um bumbum redondinho ou um cavalo, apofenia é responsável por você olhar para uma sombra de árvore e ter a impressão de que viu um corpo humano, ou olhar para um sorvete de café e ter a impressão de estar vendo um queijo Reblochon. Nossa mente nos engana, distorce, formata, projeta e fabrica artifícios.

O psicanalista suíço Hermann Rorschach quando criança, era viciado em Klecksography, depois cresceu estudou medicina e ligou o Simbolismo dos sonhos do Trabalho de Freud com a técnica Klecksography e criou o aclamado teste de Rorschach que demonstra os desejos do inconsciente, as tendências obscuras guardadas lá no fundo, adormecidas nesse pântano, nesse puzzle que é nossa mente.

Nossa mente é como o Touro de Fálaris, ela incinera tudo o que não agrada a nossa vontade ou que não bate com a nossa opinião, por isso nós ficamos tão irritados quando nosso pensamento é confrontando, quando somos contrariados. Nossa mente adora o que a psicologia chama de “Viés de Confirmação”, que é uma tendência em reunir argumentos, hipóteses e fatos que confirmem seu raciocínio, mesmo que você esteja errado, você tende a manipular as informações para confirmar seu raciocínio, as pessoas tendem a interpretar coisas de maneira muito particular e colocar essa interpretação como verdade absoluta e se fechar às idéias e concepções alheias. Nossas emoções nos levam a refutar argumentos sólidos tudo em nome da proteção das nossas crenças, Sri Aurobindo dizia que a emoção é um vetor.

Em 1957 o psicólogo Leon Festinger desenvolveu a teoria da “Dissonância Cognitiva”, a dissonância cognitiva é o fato de você saber que a idéia que defende não faz sentido e mesmo assim continuar arrumando argumentos para defendê-la, isso causa um desconforto em você, é o mesmo que você ser uma esposa cansada, insatisfeita, infeliz com o seu casamento, incompleta, mas viver a vida toda arrumando desculpas para se convencer de que isso é o certo a fazer e continuar assim, ou pior, arranjar argumentos para se convencer que é feliz isso é uma espécie de escravidão moral e mental. Dissonância Cognitiva é o famoso “mentir para si mesmo”. Muito parecido com o conto de Hans Christian Andersen de 1837 “A Roupa Nova do Rei”.

Nossa mente é capaz de nos fazer prisioneiros em diversas situações. Em 2009 nos Estados Unidos uma pesquisa foi feita com 2.303 pessoas que responderam no que elas acreditavam e 61% disseram que acreditavam que o mundo foi feito em sete dias por Deus, 60% disseram que acreditavam que Maria era virgem quando Jesus nasceu e apenas 39% acreditavam na teoria da evolução de Darwin. A nossa mente é uma espécie de puzzle que pode alimentar as mais diversas crenças por mais estranhas que sejam.

Em 1907 o austríaco Alfred Adler mostrou ao mundo o “Complexo de Inferioridade”, outra faceta do nosso riquíssimo puzzle mental. Em 1911 Eugen Bleuler lançou o termo “Esquizofrenia” se referindo como a mente fica dividida nos distúrbios de percepção e pensamento, minha mãe sofre de Esquizofrenia Catatônica, desse assunto eu entendo bem, a mente dela é como um puzzle em que as peças estão desordenadas e isso implica confusões, não há mais idéias claras, não há mais distinção do que é real do que é alucinação, há uma distorção total da realidade no puzzle mental de um esquizofrênico. Isso nem Emil Kraepelin dá conta.

Em 2010, Fiona Broome criou o termo "Efeito Mandela" para definir uma situação em que muitas pessoas dizem lembrar de um fato que nunca aconteceu, um fato inexistente que de tanto as pessoas afirmarem ter vivido acabou se tornando verdade, uma falsa memória coletiva, é chamado de feito Mandela porque várias pessoas no mundo inteiro pensavam e afirmavam que o Mandela havia morrido em 1980, isso é uma falsa memória, pois ele morreu realmente em 2013.

Nossa mente é um grande Puzzle e sua organização é a mais complexa de todas as tarefas que ficam a cargo da Medicina, Filosofia e das demais crenças que um indivíduo se deixar arregimentar. Até mesmo se apaixonar é uma ação totalmente de necessidade do nosso puzzle mental, Deepak Chopra já dizia “Quando você se apaixona se apaixona por um espelho de suas necessidades mais atuais”.

Talvez o puzzle mental mais lindo seja o de uma criança. “As crianças vivem em um mundo de imaginação e sentimentos... elas aplicam a forma que lhes agrada ao objeto mais insignificante, e veem nele tudo o que desejam ver” (Adam Oehlenschläger).

Eden Mendes
Enviado por Eden Mendes em 03/11/2019
Reeditado em 04/11/2019
Código do texto: T6786619
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2019. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.