UNIFORME "PAPO-ROXO" DA BRIGADA MILITAR
Pesquisa de campo realizada por Camponez Frota.
O presente trabalho versa sobre a pesquisa realizada entre os anos de 2018 e 2019, referentes ao levantamento da origem do uniforme da Brigada Militar, que teve como motivação a necessidade de identificar fidedignamente a existência do uniforme histórico da Brigada, conhecido como “Papo-Roxo”, e a fonte legal que instituiu o seu uso, descreveu a confecção e apresentação, bem como em que condições seria usado pela corporação.
A Legião Altiva, órgão institucional vinculado ao Gabinete do Comandante Geral da Força, tem cultuado a cor roxa como sendo uma das tradições trazidas com a existência do uniforme que, a muito tempo, tem sido dito que foi instituído na corporação em seu período de intensas atividades bélicas.
Consta, no largo da história, que esse uniforme possuía um detalhe de cor roxa nas golas da túnica. Muitas interpretações permeiam o imaginário dos militares, necessitando, desta forma, a busca em pesquisa de campo para aproximarmo-nos da verdade de tais informações que nos foi trazida pelos antigos brigadianos.
O fator que nos levou a motivação de realizar a busca sobre o assunto, foi quando da instituição do Estandarte Histórico da Legião Altiva, do qual fomos incumbidos da missão de realizar o desenho, a arte gráfica e a descrição da motivação histórica e heráldica na construção daquele pavilhão. Ao fazermos uso da cor roxa num detalhe do estandarte, para torná-lo fiel ao pensamento dos precursores da Legião Altiva, sentimos a necessidade de aprofundamento do conhecimento de tal matiz, conhecido historicamente nas tradições da corporação gaúcha, mas sem trabalho pretérito que nos desse amparo fiel, ao menos ao nosso conhecimento à época. Sentimos, também, a necessidade de tais informações tendo em vista o desejo de, em tendo sido incumbido de ser o portador do Estandarte Histórico nas solenidades e desfiles militares, pelo então comandante da Legião, o Cel Álvaro Raul Cruz Ferreira, conduzi-lo com o uniforme de época, o qual é conhecido como sendo o fardamento “Papo-Roxo”.
Desde então, passamos a realizar um trabalho de busca de informações e pesquisa que acabou nos levando ao museu da Brigada Militar, onde pudemos acessar documentos dos anos de 1920, que aclararam de forma substancial os parcos conhecimentos que tínhamos acerca do desiderato. Na visita ao museu encontramos o 2º Sgt Marques, um ex-colega do Curso Superior de Gestão em Segurança Pública e Privada que realizamos na ULBRA, em Canoas / RS, no início dos anos 2000, o qual juntamente com o 2º Sgt Molina proporcionou de forma fraterna e profissional, o meu acesso a alguns livros. Na ocasião do início das buscas tínhamos somente uma vaga informação encontrada numa fotocópia de folha datilografada, que tal fardamento estava registrado no Livro de Ordem do Dia nº 14, de 12 de janeiro de 1924, assinada pelo então Comandante Geral Coronel Affonso Emilio Massot. Depois de algumas pesquisas em alguns livros chegamos ao histórico livro que trata sobre o fardamento buscado. Muito embora estivesse faltando a primeira folha daquele livro, percebemos de imediato que estavam bem preservados os manuscritos da época, e que depois de muitos trabalhos de leituras e interpretações para entender o que pretendiam deixar registrados os escrivães daqueles documentos, pudemos trazer a luz através desta busca, o que realmente existe e permanece preservado naquele museu, com relação ao histórico uniforme que motivou os nossos veteranos Legionários Altivos da Brigada Militar a fazer uso da cor roxa para simbolizar o passado da corporação.
Ao concluirmos a pesquisa verificamos que na realidade o detalhe nas golas, citado nos registros, e que deveria ser usado naquele uniforme, era de cor azul, e que está registrado como “azul mescla”. Por não sabermos exatamente, o que na época interpretavam como sendo “azul mescla”, dúvidas ainda pairam sobre a tonalidade da cor azul usada como detalhe do uniforme.
Ainda, como registro é importante dizermos que, de acordo com o ex-comandante Geral da Brigada Militar , o Cel Jerônimo Carlos Santos Braga, naqueles idos dos anos 20, do século passado, os tecidos e cores não possuíam padrões de qualidade como os que existem atualmente, e deixavam a desejar com o uso e as frequentes lavagens. Devido ao desgaste pelo uso e higienização restava que o azul usado nas golas dos uniformes perdia a sua cor original e passava a desbotar-se com certa rapidez, vindo com isso àquela cor assemelhar-se com um tom de azul próxima da arroxeada, fato que levou o senso jocoso dos militares a chamar aquele uniforme de “Papo-Roxo”, e que foi incorporado ao jargão militar à época, perpetuando-se até os dias atuais com certo orgulho.
Ao finalizar o presente trabalho registra-se que a grafia e muitas palavras do idioma usual nos livros pesquisados, não correspondem ao que usamos na atualidade, levando-nos a interpretar como se fora outro idioma, ou idioma arcaico, e por essa razão, optamos por transcrever aqueles registros, em continuidade deste trabalho, com a grafia atualizada de forma a facilitar a sua leitura e interpretação.
Na sequencia transcrevemos o resultado da pesquisa como foi encontrada no livro supracitado, assim como, o que foi possível identificar e trazer à registro para futuros aprimoramentos com maiores detalhes e clarezas que se fizerem necessárias.
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Segue a transcrição do Livro nº 156 da Ordem do Dia nº 14 de 12 de janeiro de 1924, mandada assentar pelo ex-Comandante Geral, Coronel Affonso Emilio Massot, Patrono da Brigada Militar.
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botão, na parte inferior levará também dois bolsos grandes pontiagudos com foles fechados por pestanas de três bicos abotoadas estas por um botão preto pequeno, sendo que os bolsos de cima terão machos no centro, gola da mesma fazenda levando retângulos de brim mescla azul, como no uniforme de flanela, a flecha também avivada de branco, e preto o pequeno botão da sua extremidade. As platinas serão da mesma fazenda presas ao ombro por um pequeno botão preto. Sobre elas serão colocados os distintivos do posto em sutache branco e dispostos em ângulo. O distintivo de arma ou serviço número da unidade e a abertura da parte da anterior da túnica como naquele uniforme.
Calção de brim caquí sem vivos nenhum.
Boné – cinto talabarte – Perneiras – esporas – como no uniforme de flanela.
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Capote – será de caquí esverdeado ou gabardine da mesma cor; fechado na frente por sete botões grandes sendo o último colocado a 0,m02 abaixo da cintura, gola dentada avivada de pano mescla azul, presilhas e portinholas dos bolsos avivados da mesma maneira que a gola; nas mangas levará um punho de 0,m15 de altura também avivado. Platinas de pano azul mescla e sobre elas os distintivos do posto em sutache branco e dispostos em ângulo. Os bolsos serão sobre a aba, abaixo da cintura inclinados para trás com portinholas fechadas por um botão pequeno. As presilhas de 0,m13 serão presas por dois botões pequenos e colocadas na altura da cintura sobre a ilharga; ao lado esquerdo uma pequena abertura ´para a espada... Na parte traseira terá uma abertura sobreposta até a cintura levando sobre a cinta na presilha avivada e abotoada por dois botões grandes, capuz preso por botões lisos esverdeados. Os demais botões serão de metal oxidado.
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Para praças
Uniforme 1°
Túnica de flanela caquí, calção de flanela caquí, boné americano com capa de pano caquí esverdeado circundado por um friso branco, cinta caquí, botina ou borzeguins pretos, perneiras pretas, esporas para as praças montadas.
FL. 2 – Pág. 2
Uniforme 2º
Túnica de brim caquí, calção de brim caquí. Boné o mesmo do uniforme de flanela (1°), botinas borzeguins pretas, perneiras pretas, esporas para as praças montadas.
Uniforme 3º
(De parada)
Será constituído pelo uniforme 1º
O boné com penacho
Luvas brancas
Para as praças montadas as luvas serão pretas.
Especificações:
Túnica de flanela caquí – Fechada na frente por sete botões amarelos grandes, na parte inferior terá dois bolsos grande de chapa, com pestanas de um bico fechadas por um pequeno botão amarelo; gola da mesma fazenda com trapézios de pano azul mescla de 0,m07 comprimento e avivados de branco; platinas de pano azul mescla avivadas de branco e presas ao ombro por um pequeno botão amarelo. O distintivo de arma ou serviço e número da unidade será colocado sobre os trapézios como nas túnicas dos oficiais.
Calção de flanela caquí – sem vivo nenhum.
Boné – modelo igual ao dos oficiais, em pano caquí esverdeado, cinta caquí e jugular sola preta envernizada.
Perneiras - De couro preto modelo atual
Esporas – Tipo Brigada Militar
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Túnica de brim caquí – Terá os bolsos encobertos; na parte inferior terá dois bolsos iguais aos do uniforme de flanela (1º), sendo que a pestana será fechada interiormente por um botão liso esverdeado, gola da túnica fazenda com trapézios de brim mescla azul de 0,m07 de comprimento e avivados em branco; platinas da mesma fazenda presas ao ombro por um botão liso esverdeado e descoberto. Distintivo de arma ou serviço e número da unidade colocados sobre os trapézios como nas túnicas dos oficiais.
Calção de brim caquí – sem vivos nenhum
Boné – Perneiras – Esporas - no uniforme de flanela (1°)
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Capote - O capote de praça, com pano caquí esverdeado, será de modelo igual ao do oficial, porém fechará com 5 botões,
FL.3 – Pág.4
Não terá vivos nem presilhas na ilharga, sendo os bolsos sobre a aba, retas e fechadas por uma portinhola de um bico abotoada por um pequeno botão. O capuz será fixo e do mesmo modo a presilha da parte traseira. As divisas dos graduados serão colocadas como nas túnicas.
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Botões – Dourados para oficiais e de metal amarelo para as praças.
Nas túnicas de brim dos oficiais os botões serão de massa preta, nos capotes de oficiais e praças os botões serão de metal oxidado, tendo todos as armas de 35.
Distintivos – O distintivo da arma será encimado do número da unidade.
O distintivo da Escolta Presidencial será as lanças cruzadas com bandeirolas, de uso atual, inscritas num aro de metal em forma oval.
O Grupo de Metralhadoras usará o seu distintivo atual apenas na gola.
Os oficiais do Estado Maior usarão as armas de 35 inscritas num aro circular de metal branco.
Os oficiais dos Serviços Auxiliares e os aspirantes a oficial usarão espadas cruzadas inscritas num aro circular de metal branco.
Os cabos ordenanças dos Serviços Auxiliares usarão esse distintivo, os sargentos instrutores carabinas cruzadas; os amanuenses as penas, os condutores a letra C, os enfermeiros a letra E, e os artífices a letra A, estes últimos como atualmente.
Os distintivos serão de metal branco para os oficiais, exceto no uniforme primeiro em que serão de metal dourado; os de praça em metal amarelo.
Divisas – De pano azul mescla sobre um fundo de pano branco com forma e dimensões já estabelecidas e colocadas nos punhos as uma altura de 0,m10. Os sargentos-ajudantes usarão globo do tipo adotado nas platinas; os 1ºs sargentos quartéis mestres e os 3ºs sargentos furriéis continuarão usando os distintivos indicativos de suas funções.
Os demais distintivos como atualmente.
Emblema – com as armas de 35, tipo em uso sendo de
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metal branco para oficiais e de metal amarelo para as praças.
DISPOSIÇÕES GERAIS
A – oficiais e aspirantes a oficial.
1 – Em 1º uniforme não pode o oficial dispensar a espada, entretanto, se em qualquer ocasião tiver de deixar o boné num vestiário aí também deixará a espada.
2 – o 1º uniforme só será usado em dias de festa nacional ou estadual e em atos militares, quando for determinado. Os oficiais poderão usa-lo em atos sociais que, por sua solenidade, o exijam.
3 – É mantido o atual cordão dourado para os assistentes, secretário e ajudante de ordens, o qual será usado com o 1º uniforme, ficando restabelecido o cordão caquí, usado anteriormente na força, para ser aplicado aos uniformes de flanela e brim caquí.
4 – Dora em diante esses oficiais usarão, durante o expediente diário, os cordões distintivos, não podendo ser dispensada a espada quando acompanharem ou representarem autoridade.
5 – Os oficiais postos à disposição de autoridades militares ou civis usarão também cordões.
6 – O assistente da Presidência do Estado usará os cordões presos ao ombro direito; os outros oficiais prendê-los-ão ao ombro esquerdo.
7 – O cinto talabarte é de uso obrigatório e permanente para oficiais em serviço ativo.
8 – O oficial com cinto talabarte é considerado armado para efeitos de comissão de serviço, apresentações individuais que não sejam por motivo de promoção ou transferência e casos semelhantes. Fora destes casos usará a espada em serviço.
9 – Os oficiais em serviço que não sejam de guarnição, exercícios, formaturas, etc., poderão usar, em atos solenes militares ou sociais que não exijam o uniforme de gala e ou passeio, a calça no uniforme 2º com polainas de flanela ou pano branco por baixo da calça, modo por que será também usada a polaina estabelecida para o uniforme 1º.
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11 – Em atos de serviço os oficiais montados usarão as esporas devendo também trazê-las durante o expediente diário.
12 – Os oficiais em serviço na guarnição ou nas unidades estarão sempre armados de revólver que será usado, bem como a cartucheira do lado direito presos ao cinto talabarte.
13 – Os médicos, o farmacêutico, o dentista e o inspetor das bandas de música continuarão usando os seus atuais distintivos de especialidade. O alferes veterinário usará como distintivo duas folhas de salva reunidas pelas preciolas.
14 – Os aspirantes a oficial os mesmos uniformes dos oficiais tendo como distintivo de posto nos uniformes de flanela e de brim caquí e no capote o emblema das armas de 35 inscrito num aro circular de metal dourado colocado nas platinas e no uniforme 1º o mesmo distintivo nos punhos.
15 – Continua facultativo para os oficiais o uniforme de brim branco que poderá ser usado em passeios, apresentações, recepções e serviços que não sejam de guarnição, exercícios, formaturas, etc.
A túnica será fechada na frente por sete botões dourados grandes e terá quatro bolsos, com pestanas de três bicos, abotoadas por pequenos botões dourados, sendo dois sobre o peito, um a direita e outro a esquerda, na altura do terceiro botão e dois na parte inferior, estes pontiagudos; ao lado esquerdo uma pequena abertura para a espada; gola da mesma fazenda levando retângulos iguais aos já descritos, avivadas também as flechas de branco e confeccionadas em flanela caquí esverdeada da mesma cor do boné do uniforme 2º.
As platinas serão cobertas dessa mesma flanela e avivadas de branco.
Na parte posterior terá a túnica uma abertura e uma tira da mesma fazenda de 0,m04 de largura a altura da parte posterior da cintura, indo de uma a outra ilharga. O uso dos distintivos como nos outros uniformes.
A calça sem nenhum vivo. O calçado a usar será o branco, porém, botina ou borzeguim, não sendo permitido o sapato.
Luvas brancas, boné será o de flanela do uniforme 2º
Fica abolido o uso do calção neste uniforme.
16 – Na parte posterior sobre a ilharga terão as túnicas de flanela e de brim caquí dos oficiais um colchete de metal branco
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para amparar o cinto-talabarte
17- Quando em passeio poderão os oficiais usar chibata ou pinguelim.
B – Praças
18- O sargento-ajudante usará os mesmos uniformes estabelecidos para as praças e trará nas platinas dos uniformes e do capote o globo do tipo adotado.
19- Os sargentos ajudantes usarão sobre a túnica, tanto em serviço de campanha como de guarnição e outras em formaturas um cinto de couro preto de 0,m05 de largura com suspensórios e com guia para prender a espada, presa na frente por ilhós a uma fivela lisa de metal.
20- As praças montadas usarão esporas quando à cavalo e a pé somente em atos de serviço.
21- Os músicos usarão a lira adotada, no boné logo abaixo do emblema de trinta e cinco.
22- Continua facultativo para os inferiores, em passeio, o uso do uniforme branco, modelo atual, apenas com as seguintes modificações: na gola levará trapézios de pano da capa do boné, avivados de branco e com 0,m07 de comprimento, o boné será do mesmo uniforme 1º, platinas postiças cobertas do mesmo pano da capa do boné e avivadas de branco, tendo como as dos oficiais as armas de 35. Os sargentos ajudantes trarão abaixo das armas de 35 o globo em uso; as divisas serão em sutache dourado sobre um fundo de pano igual ao da capa do boné.
Fica abolido o uso do calção neste uniforme.
Affonso Emilio Massot
Cor
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Nota do autor: Ausência da folha 01 no livro.