O BAIRRISMO POUCO ÚTIL DOS GAÚCHOS
Dois gaúchos conversam entre si:
– Estão falando no país todo que nós, gaúchos, somos muito bairristas.
– Que injustiça o que esses brasileiros estão falando. Nós sempre os tratamos muito bem quando nos visitam.
– Estão falando no país todo que nós, gaúchos, somos muito bairristas.
– Que injustiça o que esses brasileiros estão falando. Nós sempre os tratamos muito bem quando nos visitam.
Um apego à terra, ao lugar que o viu nascer e crescer, onde sua retina descortinou os primeiros raios de luz, é natural ao ser humano. Afinal, a tábula rasa dos nossos sentimentos e aprendizados será primeiramente preenchida pelo influxo ambiental, nisso incluídos os afetos do que nos são caros, como o de mãe e de pai.
Esse tipo de apreço os gaúchos costumam ter em boa dose, o que é salutar e saudável. Todavia, em certos planos e épocas, as coisas tendem a extravasar. Basta contemplar uma Semana Farroupilha, que evoca uma guerra em que as elites ficaram com o tutano e os peões com sete palmos de terra ou com os ossos, para se ter uma ideia de que há muitas deturpações. A simples assunção ao estereótipo do gaúcho, mas sem vivência de campo, com uma linguagem artificial nas palavras e nas interjeições, soa como um disparate. Fica pior quando levas de “chirus” tomam uns tragos e passam a defender a separação do Rio Grande do Sul, como se fosse possível se livrar facilmente dessa elite local que nos assola.
Esse tipo de delírio é néscio na sua essência, é próprio de quem não conhece as origens desta província meridional. Para contrapor a isso, vamos ficar em apenas três tipos que estão na base da formação socioeconômica destes pagos: os tropeiros, os estancieiros e as mulheres. Os tropeiros vinham de São Paulo, passando por Laguna, para conduzir a gadaria oriunda da primeira leva das Missões jesuíticas para São Paulo. Os estancieiros, que também eram paulistas, perceberam que poderiam criar esse gado em suas propriedades concedidas em solo gaúcho, fornecendo as tropas que iriam para a Feira de Sorocaba no novo caminho aberto por Lajes. Já as mulheres, quando da fundação oficial do Rio Grande, em 1737, foram trazidas do Rio de Janeiro, retiradas de suas lides difíceis de mulheres da vida, para dar origem aos irrepreensíveis troncos familiares dos gaúchos, dos quais tanto nos orgulhamos. O Brigadeiro Silva Pais, por conta dessa remoção forçada, teve que se explicar às autoridades portuguesas.
Se remontarmos ao nosso passado com um olhar crítico, veremos que temos dívidas históricas com paulistas, fluminenses, negros, índios, espanhóis, italianos, alemães e tantos outros. Como o gaúcho não é um tipo genético, mas um tipo social, é preciso sempre ter cautela na hora de achar que estamos no epicentro do mundo e que o monarca das coxilhas tem um reino encantado. Autoestima elevada é bom, mas, em excesso, cria ilusões desautorizadas pela realidade.
Esse tipo de apreço os gaúchos costumam ter em boa dose, o que é salutar e saudável. Todavia, em certos planos e épocas, as coisas tendem a extravasar. Basta contemplar uma Semana Farroupilha, que evoca uma guerra em que as elites ficaram com o tutano e os peões com sete palmos de terra ou com os ossos, para se ter uma ideia de que há muitas deturpações. A simples assunção ao estereótipo do gaúcho, mas sem vivência de campo, com uma linguagem artificial nas palavras e nas interjeições, soa como um disparate. Fica pior quando levas de “chirus” tomam uns tragos e passam a defender a separação do Rio Grande do Sul, como se fosse possível se livrar facilmente dessa elite local que nos assola.
Esse tipo de delírio é néscio na sua essência, é próprio de quem não conhece as origens desta província meridional. Para contrapor a isso, vamos ficar em apenas três tipos que estão na base da formação socioeconômica destes pagos: os tropeiros, os estancieiros e as mulheres. Os tropeiros vinham de São Paulo, passando por Laguna, para conduzir a gadaria oriunda da primeira leva das Missões jesuíticas para São Paulo. Os estancieiros, que também eram paulistas, perceberam que poderiam criar esse gado em suas propriedades concedidas em solo gaúcho, fornecendo as tropas que iriam para a Feira de Sorocaba no novo caminho aberto por Lajes. Já as mulheres, quando da fundação oficial do Rio Grande, em 1737, foram trazidas do Rio de Janeiro, retiradas de suas lides difíceis de mulheres da vida, para dar origem aos irrepreensíveis troncos familiares dos gaúchos, dos quais tanto nos orgulhamos. O Brigadeiro Silva Pais, por conta dessa remoção forçada, teve que se explicar às autoridades portuguesas.
Se remontarmos ao nosso passado com um olhar crítico, veremos que temos dívidas históricas com paulistas, fluminenses, negros, índios, espanhóis, italianos, alemães e tantos outros. Como o gaúcho não é um tipo genético, mas um tipo social, é preciso sempre ter cautela na hora de achar que estamos no epicentro do mundo e que o monarca das coxilhas tem um reino encantado. Autoestima elevada é bom, mas, em excesso, cria ilusões desautorizadas pela realidade.