Ruptura(s): a História dos processos de transição ao longo do tempo

Ruptura(s): a História dos processos de transição ao longo do tempo (sec. V ao XII; XIV ao XVI, até o sec. XXI)

Marcel Franco Lopes

Historiador

Trata-se de um esboço sobre um esquema para compreender as variações responsáveis pelas dificuldades sociopolíticas de nossa sociedade. Ao longo da História, as passagens de sistema político representaram características bastante semelhantes, crise, esgotamento. Cada uma, em seu próprio tempo, representou um processo transitório de ordem político-econômica e social para a Europa, influenciando em suas conquistas.

Desde a Antiguidade, processos de crise são sinais de que houve um esfacelamento estrutural na organização política do Império, sobretudo, na Europa. Mas, em que medida podemos fazer associações que os aproximem a uma característica em comum?

Afim de poder responder essa problemática, utilizarei como teóricos: Perry Anderson, Jacques LeGoff, Marc Bloch, Lucien Febvre, Fernand Braudel, entre outros. Cada um deles estuda uma transição em específico, excetuando-se os últimos três, que representam três fases da Escola dos Annales, de 1929.

Mas, o processo de transição, por si, carrega uma instabilidade (política, econômica ou social) que se agrava no sistema em vigor em determinado período, resultando no rompimento de sua estrutura.

O objetivo desse artigo é estudar, de maneira geral, os processos de transição ao longo da História, de modo a encontrar similaridades entre os fatores que influenciaram no rompimento de tais sistemas.

A primeira grande ruptura “temporal” ocorre no final do Império Romano, por volta de 476, quando toma o poder o rei bárbaro Odoacro, decretando o fim da Antiguidade . Entre os fatores que culminaram na decadência do Império Romano estão: o processo de aculturação entre bárbaros e romanos, segundo LeGoff. Outros fatores são:

• Falha na administração em razão da extensão territorial;

• Redução no ingresso de escravos, ausência de mão de obra. Com isso, houve crise na produção de alimentos, redução na arrecadação de impostos e, por fim, dificuldades na manutenção do exército;

• Aumento de conflitos internos, entre patrícios e plebeus, instabilidade política;

• Crescimento do cristianismo que contestava as bases políticas do império (guerra, escravidão, domínio sobre os povos conquistados) e religiosas (politeísmo e culto divino do imperador)

• Aumento da corrupção no centro do império (Roma) e nas províncias (regiões conquistadas).

Estes fatores fragilizaram a estrutura do Império, facilitando a invasão dos povos bárbaros germânicos no século V.

Crise do sistema Feudal (XII)

Em relação ao Feudalismo, várias foram as transformações que podem ser enumeradas como contribuintes para sua queda:

• O renascimento das relações comerciais, principalmente em virtude das Cruzadas.

• O aumento da circulação de moedas no meio urbano, o que desarticulou o sistema de trocas, fundamento econômico do Feudalismo.

• Desenvolvimento dos centros urbanos e o êxodo rural . Muitos compraram sua liberdade ou fugir, atraídos pelas oportunidades de trabalho nos meios urbanos.

• As Cruzadas reestabeleceram o contato entre a Europa e o Oriente, quebrando o isolamento impregnado pelo sistema feudal.

• O surgimento da burguesia, dominante no comércio e detentora de alto poder econômico. Lentamente, os senhores feudais foram perdendo poder.

• Em virtude do aumento de impostos, devido ao desenvolvimento comercial, os reis passaram a contar com exércitos profissionais, o que desarticulou o sistema de vassalagem, ou serviçal, característico do Feudalismo.

No final do século XV, o Feudalismo encontrava-se desintegrado, os senhores feudais estavam sem prestígio. Iniciava-se, portanto, as bases do nosso atual sistema, o capitalismo.

Transição da Idade Moderna para a Contemporânea

Segundo a historiografia tradicional, (século XIX), nosso período histórico se inicia a partir de fins do século XVIII (1789) com a Revolução Francesa. Embora esta divisão ainda em vigor, Idade Antiga, Medieval, Moderna e Contemporânea, seja mais didática do que fato, é importante que se compreenda os fatos históricos e suas consequências para o contexto na qual está inserido, assim como para a posteridade.

Dessa forma, embora não tenha sido, como no item anterior, uma crise, propriamente dita, responsável pela passagem da Modernidade para a Contemporaneidade, a Revolução Francesa é marcada pela disputa entre os jacobinos e os girondinos , isto é, do Liberalismo contra o Conservadorismo. Mas, não é só isso. Está na Revolução Francesa o conceito que marca, profundamente, o lema da democracia: “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, dessa maneira, tem-se uma mudança essencial do “fazer” política.

Nessa época, consequências importantes precisam ser pontuadas:

• Atraso em relação ao avanço do capitalismo.

• Elevados gastos supérfluos do governo francês.

• Envolvimento da França na Revolução Americana, ocorrida nesse período.

Em outras palavras, a situação na França dava mostras da ocorrência de uma crise duríssima, que impactou na esfera social, em virtude da intensificação exploratória da nobreza sobre essa camada. Especialmente levando-se em consideração a classe média e o campesinato. Foi consequência direta da ocupação de cargos governamentais (destinados à classe média) e aumento dos impostos cobrados dos camponeses.

Algumas considerações

Independente da transição cronológica, da contextualização presente na realidade social, um fato todas essas passagens têm em comum: sempre assoladas por crises.

Independente se por meio da violência, ou do esgotamento de recursos políticos, ou, por fim, de luta por melhor direcionamento político para o país. Todas as passagens marcam um esgotamento do processo em vigor e, a necessidade de contornar essa crise.

São chamadas de “ruptura” do processo político da humanidade, necessárias porque, à curto, médio ou longo prazo, os sistemas políticos são obstruídos porque, de alguma forma, fatores internos (sociais, políticos ou econômicos) ou externos (climáticos, culturais) corroem o sistema vigente, fazendo com que a sociedade precise se “reinventar”.

Ao longo da História, esta característica ocorreu de forma cíclica, isto é, acontecia de maneira constante, mesmo conforme “lapsos” temporais irregulares, mas sempre aconteceram. Não será diferente com o capitalismo. Chegará um momento em que, de alguma maneira, o sistema entrará em colapso e a sociedade precisará se reinventar, talvez só a tecnologia não seja suficiente para controlar um processo natural, embora regressivo, ao progresso.

Referências

• https://www.suapesquisa.com/imperioromano/crise_imperio_romano.htm acesso em: 29/05/2019 às 16h30.

• https://www.suapesquisa.com/feudalismo/crise_feudalismo.htm acesso em: 29/05/2019 às 17h10.

• https://brasilescola.uol.com.br/historiag/revolucao-francesa.htm acesso em: 29/05/2019 às 17h30.