Síndrome do Estrangerismo.
Brasileiros que por algum motivo foram morar em países estrangeiros, geralmente mais desenvolvidos, voluntariamente ou por necessidade de sobrevivência, a depender do tempo que permanecem, acabam por sentirem-se estrangeiros em seu próprio país ao voltarem para o Brasil. É a síndrome do estrangeirismo. Estrangeirismo consiste na valorização do que é de fora e menosprezo pelo nacional, muito comum nos brasileiros. Li um relato de um brasileiro que morou por cinco anos nos Estados Unidos, fazendo pós graduação e doutorado, que ao retornar ao Brasil teve muita dificuldade de readaptação comparando com a vida que levava lá, apesar de reconhecer que nunca se sentiu em casa nos Estados Unidos, onde , segundo ele, expatriado ou imigrante não tem nenhum privilégio. Uma vez estrangeiro sempre estrangeiro, principalmente no que se refere à latino-americano. Choque cultural é um sentimento perfeitamente compreensível, embora alguns exagerem na síndrome. Lembro-me de quando ensinava no Colégio Central, uma professora que estava voltando de um curso em Londres, ridicularizava os trabalhos nas reuniões pedagógicas apontando erros e supervalorizando os programas comumente aplicados "lá em Londres". Coloquei "aspas" porque esse foi o apelido que ela ganhou, já que toda vez que discordava citava os exemplos de "lá em Londres" é diferente. E a vontade de voltar pra "lá em Londres" era recorrente.
De acordo com estudiosos no assunto, esse sentimento de inferioridade, ou ausência de autenticidade de muitos brasileiros, talvez se deva à influência portuguesa dominante na época da colonização, seguida posteriormente pela influência europeia, britânica e francesa, e, mais recente, a estadunidense pós segunda guerra mundial, dificultando o brasileiro de "ser", de assumir-se como tal, precisando de um ponto de referência em países mais desenvolvidos, o que o impede de possuir um certo orgulho de ser Brasileiro ao comparar-se com os outros. O termo complexo de vira-lata usado pelo escritor Nelson Rodrigues, embora grosseiro, talvez traduza esse sentimento. Não gosto de generalizar e sei que muitos não se enquadram nele, felizmente. Mas é comum ver brasileiros supervalorizando outros países, muitas vezes sem nenhum sentido, não levando em conta até mesmo a dimensão dos países, o tamanho da população e sua historicidade.
É muito bom abrir os horizontes , vivenciar outras culturas, adquirir novos conhecimentos, especializar-se em determinadas áreas, etc.. O ruim é quando a expatriação é feita não por escolha voluntária, mas por carência financeira, em que o indivíduo sem nenhuma especialização terá que submeter-se a condições de sub-empregos. Estes geralmente voltam após algum tempo, muitas vezes por sentirem-se discriminados ou por não se adaptarem ao regime estrangeiro. Sim, porque não é fácil enfrentar a dureza num país culturalmente estranho. Neste clima atual do Brasil, em que a situação econômica financeira ou insatisfação política está tumultuada, é comum ouvir um brasileiro dizer que vai morar fora, alguns cheios de planos para montar um negócio abandonando até sua profissão local. Sonhar é bom, melhor ainda é refletir antes de tomar uma decisão, levando em conta que o Brasil é um país em desenvolvimento, culturalmente diferente dos demais, de dimensão quase continentai, não podendo ser comparado a países bem mais desenvolvidos ou historicamente mais antigo que o nosso. "Bom mesmo é poder se sentir em casa" , disse o brasileiro citado neste texto ao retornar dos Estados Unidos.