A tradição dos bate-bolas
Longe do glamour, das transmissões de TV e das expectativas dos desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro, existe há mais ou menos 80 anos um outro tipo de carnaval, marcante principalmente nos bairros das Zona Norte e Oeste do Rio, além de municípios da Baixada Fluminense: Os bate-bolas.
Trata-se de uma turma fantasiada com máscaras medonhas, porém com vestidos muito bem elaborados, incluindo cetim, penas coloridas, luvas, entre outros adereços. Sozinhos ou em grupo, belos e assustadores, com objetivo de mostrar suas fantasias ou/e de amedrontar a criançada, os mascarados, como são conhecidos também, começavam a circular pelas ruas antes mesmo do carnaval (hoje nem tanto).
Devido à proximidade de semelhança da máscara com a de um palhaço, os bate-bolas também são chamados de clóvis, possivelmente uma evolução da palavra inglesa clown, que significa palhaço.
A origem dessa "turma" pode remontar aos palhaços da Folia de Reis, passando por mitos celtas e indo também até o período medieval europeu. Alguns se exibem com sombrinhas e leques, mas muitos se apresentavam (falo no passado porque atualmente a frequência é bem menor) geralmente carregando uma bola amarrada à mão, também chamada de bexiga, assustando principalmente as crianças por onde passavam. Batendo a tal bexiga no chão, usando apitos num ritmo ensurdecedor e correndo pra cima da gurizada, estes vinham com um tradicional grito assustador de "Obaaaa!!!", causando um terror na molecada. E as crianças, pra provocar, gritavam, entre outras frases, para os clóvis: "Mascarado pé de pato, comedor de carrapato, se for homem vem aqui, se for bicha fica aí!" (Pelo menos era assim que eu e meus amigos fazíamos). Pronto! Era a senha pra começar a correria e brincadeira, que na maioria das vezes era sadia. Cito maioria porque existiam bate-bolas que colocavam vinagre e sal (ou algo parecido) em suas bexigas pra baterem com elas nas crianças, fazendo arder, inclusive.
Além dos clóvis, "desfilavam" também com mais intensidade durante o carnaval nesses locais outras turmas, como as bruxas, os gorilas, o temido "carrasco", o tradicional "Pai João", que era um personagem maltrapilho, entre outras.
Assim, de bola de couro de boi a bola de borracha, com sombrinhas em mãos ou só com máscaras, os clóvis foram evoluindo, resistindo e mantendo uma tradição marcante nas periferias e subúrbios do Rio.