Personagens que só conseguimos detestar

Com certeza, muitos de nós já sentimos raiva ou indiferença pelo personagem de algum livro, novela, filme ou mesmo desenho animado. São aqueles personagens que nos fazem virar a cara e que detestamos como se fossem reais, perguntando-nos até o que estão fazendo ali, pois os achamos desnecessários e/ou abomináveis. Temos mesmo a impressão de que os autores os colocaram lá porque estava sobrando espaço.

Claro que precisamos deixar claro que um personagem pode ser chato ou um vilão terrível, mas isso não significa que ele seja dispensável. Imaginemos Caverna do Dragão, Os smurfs ou Dennis o Pimentinha sem Erick, o Génio ou Margareth. No caso deste último, não colocaremos o pobre Sr. Wilson na lista pois, se analisarmos bem, ele não é realmente chato. É apenas um senhor idoso que quer sossego e que sofre por causa das travessuras de Dennis. Pois bem, vejamos o Erick de Caverna do Dragão. Ele é realmente um chato. Mas não conseguimos pensar no desenho sem ele. E, ainda que chegue a nos causar raiva com seu jeito implicante, ele prova que se importa com seus amigos, chegando, em alguns momentos, a arriscar a vida por eles. A chatice dele é a sua graça. O mesmo se pode dizer do pedante smurf Gênio, que se achava intelectualmente superior aos demais.

Em se tratando de vilões, isso depende muito da forma como são construídos. Se forem bem colocados, serão os vilões que todo mundo vai amar odiar, como a inesquecível Odete Roitman de Vale Tudo ou o Vingador de Caverna do Dragão. Mas, se o vilão não tiver um bom perfil, teremos vontade de fazê-lo evaporar para que ele nunca mais apareça.

Odiar ou não um personagem é um critério muito subjetivo, mas podemos ver que há personagens que são feitos para serem protagonistas ou, pelo menos, ocuparem um papel de destaque que são fracos, inexpressivos e não despertam nossa simpatia.

Uma personagem muito odiada é a Bella da saga Crepúsculo. Eu não li o livro nem assisti ao filme mas confesso que não senti vontade de conhecer a saga só de ver o casal principal. Portanto, não tenho como dizer se a saga é ou não boa. O que posso dizer é que a expressão permanentemente apática de Robert Pattinson (o vampiro Edward) e que Kristen Stewart (Bella), com sua cara sempre enjoada de quem comeu e não gostou, já não me despertavam simpatia. Muita gente que leu o livro, aliás, achou a personagem muito chata e lamurienta.

Para um ator, deve ser horrível quando um personagem seu desperta tamanha antipatia, principalmente porque ele só está fazendo o que o roteiro escreveu. Esses foram os casos de Gabriela Duarte, com a Eduarda de Por amor e Adriana Esteves, que fez a Mariana, de Renascer. A Mariana de Renascer, talvez, seja um caso de personagem que ficou mal aproveitada. Primeiro, parecia que seria a mocinha. Depois, a vilã. No final, o personagem ficou sem função definida. E isso não foi culpa da atriz.

Em um filme antigo, Uma escola atrapalhada, um personagem que detestei foi o Carlão, de Supla. Primeiro, ele parecia um típico rebelde sem causa que lidera uma gangue de arruaceiros desses filmes para adolescente. Ele tinha toda a aparência de bandido do filme, mas os roteiristas o botaram para ser o mocinho, ainda que ele tivesse atitudes típicas de um idiota machão como dar um murro na mocinha interpretada por Angélica. Mas enfim, ao fim do filme, provou-se que ele só fazia barulho mas não era realmente um rebelde e ainda salvou a vida da mocinha, com quem terminou formando par romântico. Com certeza, o fato de Supla não ter talento e ser totalmente inexpressivo não ajudaram para que eu simpatizasse com Carlão.

Escritores, mesmo os experientes e talentosos, podem errar ao criar um personagem e, se há coisas que podem nos fazer incorrer nesses erros são:

1- recorrer a estereótipos: sabemos que os estereótipos já estão tão inculcados que realmente nem sempre dá para fugir deles, mas precisamos tomar cuidado ou então, em vez de criar personagens que pareçam com pessoas que podemos encontrar na vida real, criaremos apenas reproduções de tipos vistos à exaustão. Um típico exemplo é o da donzela em perigo. Sinceramente, uma moça que só existe para ser salva já cansou. Ficamos até pensando que elas são inúteis. Temos até vontade de entrar na história e perguntar: vocês nunca aprendem? Um estereótipo claro é o da Saori de Cavaleiros do Zodíaco. Ela não fazia nada além de precisar ser salva.

2- o personagem parece que será uma coisa, depois se revela outra e acaba sem função definida: a gente sabe que um personagem tem que ter uma função definida. Será o vilão, mocinho, melhor amigo, par romântico? Está certo que não é tão incomum que os autores façam vilões irem para o lado "do bem" ou mostrem mocinhos com atitudes questionáveis. Bem, como não somos santos na vida real, também não podemos esperar que os heróis sejam tão perfeitos assim. Mas é preciso que se tome cuidado. Houve um anime que vi no qual um personagem prometia ser um grande vilão. Depois, a autora, tentando justificar suas atitudes abomináveis, fez com que parecesse que elas eram resultado dele ter sido traído e abandonado. De vilão, tornou-se um incompreendido. E depois ficamos sem saber se a história era ou não um triângulo amoroso, pois ele parecia ainda apaixonado pela pessoa que o abandonara mas queria que uma outra pessoa ficasse com ele, fazendo-nos perguntar se queria realmente ficar com ela ou a estava usando como substituta.O que acabamos por ver que a coisa se tornou? Uma verdadeira salada mista. E, não podemos querer que se simpatize com pessoas vis e abomináveis pois, ainda que nem tudo seja tão preto e branco, não podemos tentar transformar o mal numa coisa justificável. Você não pode tentar fazer com que se simpatize com um pedófilo, por exemplo.

3- fazer personagens burros: alguns personagens são terrivelmente estúpidos e, mesmo quando notamos que os autores querem que gostemos deles, eles nos despertam vontade de lhes dar uma boa bronca. Um que não chega a ser um personagem detestável, mas que causa raiva, é o Cirilo de Carrossel. Além de viver atrás da enjoada Maria Joaquina, era sempre enganado pelos colegas que o faziam de trouxa.

4- personagens que só estão lá para ocupar espaço: são vários. Um que pode ser citado é o Dudu do Popeye, que só pensa em comer hambúrgueres. Ele não serve para nada. E que tal falar daquele vilão do Superman que volta e meia aparecia para atanazar o herói e que ele só podia se livrar dele se dissesse seu nome ao contrário? Um personagem que pode ser mencionado aqui é o Batmirim que costumava aparecer em Batman. Só parecia um típico pentelho querendo atenção.

5- protagonistas fracos: muitos são os protagonistas fracos cercados por coadjuvantes bem mais interessantes. Podemos falar do Seya, do já citado Cavaleiros do Zodíaco. Tudo bem que ele era o protagonista e tinha poderes, mas Hyoga, Shiryu e até o Shun eram mais interessantes. Sofriam e evoluíam tanto quanto ele. Porém, no fim, só ele ficava como o herói. Era até injusto.

Se formos citar personagens que adoraríamos que sumissem das histórias, a lista seria interminável. Um problema é que não há uma fórmula pronta para criar um personagem que faça os leitores o amarem ou odiarem. E, como seres humanos, podemos errar na composição deles. Portanto, é bom que prestemos atenção para criar personagens que, além de convincentes, despertem simpatia.