DA ESCRAVIDÃO AO RACISMO INSTITUCIONAL




Durval Carvalhal





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          Prezado Geraldo Gomes, como é bonito ver pessoas transcenderem as vicissitudes da vida e alçarem voos altaneiros pela imensidão do espaço! Mas o barão negro é uma exceção de uma regra descomunal, e que ainda perdura, com menor força, nos tempos modernos. Mas, a escravidão é antiquíssima, vem dos primórdios.   
         Ainda jovem estudante de economia, li, creio que em Malthus, que as tribos africanas se guerreavam muito, e as vencedoras escravizavam as vencidas, e para fugir da escravidão, muitos povos fugiam, passando a habitar em regiões longínquos e gélidas.
        Com o perpassar de bilhões de anos, esses povos negros foram ganhando novas características, novas colorações, tornando-se povos brancos com cabelos lisos, tese defendida por historiadores contemporâneos.
     Há diversos modos de produção no mundo econômico. Depois do primitivismo, caracterizado pela propriedade coletiva dos meios de produção, estupidamente admirada e defendida por Karl Marx (O Capital, vol. I. pg. 383), surge o Escravismo.
      É nesse contexto que a África já punia seus criminosos mais periculosos; pois, em crimes mais graves, o sova ou juiz determinava que o réu pagasse sua pena com a perda da liberdade e da dignidade.
    E são esses escravos, vendidos pelos “sertanejos” (comerciantes de escravos) que vieram para o Brasil. Portanto, a escravidão negra foi também legal no País; por isso, a Igreja, poetas e até Zumbi foram donos de mercadorias humanas.
          Se depois da tosca abolição, o Brasil desse o mínimo de amparo ao povo negro, como se faz com os sem-terra, a nação brasileira estaria em outro nível de desenvolvimento socioeconômico, e muitos escravos não prefeririam continuar trabalhando onde sempre foram escravos.
       Isso remonta à personagem “seu” Amaro, no romance português “Porta de Minerva”, de Branquinho da Fonseca (lido em 1972 para o vestibular da UFBA de 1973). Era um senhor de 60 anos que foi desempregado de uma fábrica e passara a morar como mendigo nas ruas de Lisboa.
        A natureza é multicolorida; todos os animais são coloridos e todos se aceitam com tal. Gatos não excluem gatos; cachorros não discriminam cachorros por causa da cor diferente. Um galo não se preocupa se a galinha é preta, branca, amarela, d’Angola ou de outras raças.
   Dentro dessa ótica, espanta sobremaneiramente porque só seres humanos se acham superiores diante da natural diversidade humana. E quando se chega ao século XXI, quando o homem já foi à lua e já clonou seres vivos, o racismo assume contornos de doença mental.
             Felizmente, muita gente tida como de cor branca, já não se preocupa mais com tamanha tolice. “Yo no creo en brujas, pero, que las hay, las hay”. E as “brujas” do racismo existem de forma camuflada, amistosa, imperceptível, disfarçada, escondida. Só quem é negro sabe o que é ser negro no seio de uma sociedade ainda racista.
             Na Bahia, a Procuradoria Geral do Estado envida esforços para combater duramente o que ela chama de “Racismo Institucional”, onde empregados africanizados são simplesmente marginalizados, o que obstaculiza eventual ascensão profissional, constituindo-se em brutal injustiça.
          Em editorial de 04/11/2018, o centenário jornal baiano A Tarde comenta: “A persistência do racismo institucional é um incentivo a constantes campanhas combativas ao preconceito por causa da cor da pele num Brasil multiétnico. Silenciosa, às escuras e desvirtuada, a discriminação racial carrega um fardo histórico impossível de se retirar. [...] Neste contexto, a iniciativa da Procuradoria Geral do Estado (PGE) [...] é um convite a toda a Bahia, estendido ao Brasil e ao mundo, para externar o combate ao racismo institucional”.

*O que me assusta não é a violência de poucos, mas a omissão de muitos. Temos aprendido a voar como os pássaros, a nadar como os peixes, mas não aprendemos a sensível arte de viver como irmãos.
*Martin Luther King




Avanço do racismo (Estadão):  http://infograficos.estadao.com.br/esportes/o-avanco-do-racismo/busca-de-solucoes.php



 
Durval Carvalhal
Enviado por Durval Carvalhal em 07/11/2018
Reeditado em 20/01/2019
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