Sobre eras e obscuridades

SOBRE ERAS E OBSCURIDADES
Miguel Carqueija

Quase todos nós ouvimos falar, ao longo da vida, que a época medieval — aproximadamente mil anos de História Ocidental — foi a “Idade das Trevas”, o mais obscurantista período da civilização. Uma rápida reflexão já dá conta de quanto de preconceito existe nessa assertiva, que parece relacionada com a determinação de desacreditar a Igreja Católica.
O Padre Carlos Herédia conta um caso curioso (cfr. “As fraudes espíritas e os fenômenos metapsíquicos, Editora Vozes, Petrópólis). Num circo trabalhavam dois anões. Certo dia eles foram às vias de fato, sendo separados pelo gigante. Motivo da briga: um dos anões era uns poucos centímetros mais alto que o outro, e se aproveitava disso para tratá-lo com desprezo. Moral da história: nós, modernos, somos o anão mais alto, um nadinha mais crescido que o anão da Idade Média. E o gigante? Representa talvez um longínquo futuro, onde a humanidade tenha enfim ultrapassado as mazelas morais...
Li há pouco, um após outro, “O nome da rosa”, de Humberto Eco, e “Salambô”, de Gustave Flaubert. O primeiro romance passa-se na Idade Média, o outro na Antiguidade ao tempo de Cartago. E embora o primeiro traga acerbas críticas ao sistema medieval, as barbaridades do paganismo, em “Salambô”, são muito piores.
Coisas para refletir... a barbárie atravessa toda a trajetória do Homem sobre a Terra.

NOTA: Este artigo foi originalmente publicado em 2004 num jornal comunitário do Rio de Janeiro, o “Metropress”.

Imagem pixabay: a Universidade de Sorbonne (Paris), fundada em 1170 pela Igreja Católica.