ORDEM SUPERIOR. HARMONIZAÇÃO DO HOMEM E DAS NAÇÕES.

As ideologias têm se mostrado utópicas e fictas, irreais e por esse fato irrealizáveis. Trata-se de constatação formal.

Os braços ideológicos que buscam abraçar multidões se perdem na mera vontade doutrinaria, se é que doutrina originária continua a existir, após assumir algum poder estatal o doutrinador.

Haveria impossibilidade de gestão diante da frustrante irrealização dos fins almejados? Respondo não. Se houvesse tal obstáculo, alguns pouquíssimos Estados não realizariam seus objetivos, como o fizeram, embora diminutas suas potencialidades de riquezas e de território, como por exemplo o Japão.

Mas itero sempre ser o exclusivismo, irmão gêmeo do egoísmo, o centro da ineficácia. Desinteressa listar negatividades, o egoísmo é o grande móvel da densa frustração. Todos conhecem suas faces nominadas desmandos para ficarmos somente no gênero.

Não importam crenças, cultos ou hábitos, costumes ou cogências legais deste ou daquele sistema legal, o cerne, o substrato, a dinâmica maior dos que deram certo; Estados impulsionados por sistemas, evidentemente voltaram-se para o bem comum, aspiração primeira ideológica.

Despiram-se do eu para o coletivo, do singular para o plural, despojaram-se dos desmandos todos militantes em causa própria, ou por força da pura sistemática legal, forjada na atuação persistente dos aparelhos do Estado, como em círculos concêntricos que se multiplicam, ou por um eixo metafísico que trouxe compreensão.

Entendo que essas realidades se encontram; racional e transcendental. Esta a razão do presente artigo, como afirmação do que rotineiramente explicito e agora de forma nodal ratifico e exemplifico, sustentado no tomismo.

O confronto do racional com o transcendental tem sido o grande desafio do discernimento. Sacudiu consciências muitas na história do pensamento e trouxe convulsões para cérebros como o de Kant, que se debateu fortemente entre esses parâmetros.

Mas é preciso curvar-se à luz do Doutor Angélico, São Tomás de Aquino.

Mostrando-se um gênio desde menino, os Condes de Aquino o encaminharam aos beneditinos, ordem sacra educacional formadora dos senhores de então. Sua mãe Teodora, queria vê-lo Abade de Monte Cassino. Movia-a o sentimento material. Mas Aquino tinha destino que atravessaria os séculos iluminando.

Desgarrado de desejos materiais inclinou-se a integrar a ordem dominicana, os pregadores que viviam mesmo como mendicantes e, por isso, sofreu por parte de sua mãe, o aprisionamento em Rocasseca onde nasceu, após seqüestro que sofreu quando à Nápoles com seus irmãos dominicanos. Aceitou com placidez o constrangimento, não se afastando em momento algum de seu ideal. Ao ideal cedeu a vontade déspota materna e a interesses materiais longos de detalhar.

Aquino viveu no século clássico da idade média, XIII, iniciada no século V, após a invasão de Roma pelos bárbaros, com hiato cultural de quatro séculos.

A invasão dos bárbaros destruiu no Ocidente a civilização romana. Os quatro primeiros séculos da Idade Média são obscuros, um período amorfo intelectual em que não houve filosofia propriamente dita, mas salvação dos restos da cultura que estava sendo arruinada pelas hordas dos visigodos, suevos, ostrogodos, francos e principalmente vândalos.

O grande trabalho dos intelectuais dos primeiros séculos medievais, portanto, não foi criador, mas compilador. E este trabalho se deve principalmente aos monges, que recolheram em seus conventos muitos manuscritos antigos, que encerravam as sabedorias dos séculos anteriores. Aos poucos, porém, os bárbaros, vencedores, acomodaram-se à nova situação política e passaram a aceitar os usos e costumes dos povos vencidos, convertendo-se ainda ao Cristianismo. Com isso houve um ressurgimento da cultura e gradativamente as manifestações científicas e filosóficas apareceram, predominando então a "Escolástica", como principal corrente filosófica.

A Escolástica configura doutrinas teológico-filosóficas dominantes na Idade Média, dos séc. IX ao XVII, sendo ponto central da mesma a relação entre a fé e a razão, problema que se resolve pela dependência do pensamento filosófico, representado pela filosofia greco-romana à teologia cristã.

Tomás de Aquino é a viga maior da escolástica em sua exuberante obra, onde não se terminou, lamentavelmente, a Suma Teológica.

Mas há um ponto de partida para os aflitos da fé, um porto seguro legado pelo Doutor Angélico, simples e absoluto, claro e inquestionável que, pela notável singeleza, reduto que abriga a verdade racional incontestável, trouxe angústia e asfixia para os que se pensavam donos das verdades científicas inibidoras do transcendentalismo.

Falo das cinco vias que demonstram a existência de Deus e movimentam o universo do questionamento dogmático indefinidamente.

Tomás de Aquino elabora a solução definitiva do impasse das relações conflitantes entre a razão e a fé. São dois pólos científicos: filosofia e teologia. A primeira alicerça-se no exercício da razão humana; a segunda, na revelação divina.

São duas ciências autônomas que apresentam, às vezes, o objeto material comum: existência de Deus, fundamento da alma e conseqüências versantes e afins. A distinção está mais no objeto formal, logo que teologia estuda o dogma pelo método da autoridade ou revelação, ao passo que a filosofia o considera por demonstração científica ou pela razão.

Teologia e filosofia não se põem em conflito, ambas buscam a verdade e esta é uma só. A revelação é critério da verdade. No caso de uma contradição entre a razão e a revelação, o erro não será nunca da teologia, mas deve ser atribuído à filosofia, pois nossas limitações cognoscitivas racionais desviaram do objeto e não realizaram a verdade.

A Teodicéia é a especulação filosófica para provar a existência de Deus. Tomás de Aquino ensina nada estar na inteligência que não tenha estado antes nos sentidos. Por isso não concebemos de forma clara e distinta a idéia de Deus. Para provar sua existência, Tomás de Aquino elabora e constrói, partindo não da idéia de Deus, mas dos efeitos por Ele existentes no mundo visível. Assim, elege o mundo sensível como ponto de partida, cuja existência é dada pelos sentidos e utiliza a metafísica Aristotélica, revelando o seu gênio sintético ao demonstrar a existência de Deus, de cinco modos, que são as famosas cinco vias, que assim se resume:

Primeira – Via do "Movimento"- É o argumento do estagirita Aristóteles da existência do primeiro motor, “primmum mobile imotum”. Aceitar uma infinita ordem sequencial de seres que se movem, movendo por sua vez outros seres, só existindo o “primeiro motor”, concepção aristotélica; logo, é preciso chegar a um motor inicial que mova sem ser movido. O movimento existe e é uma evidência para os nossos sentidos; ora, tudo o que se move é movido por um outro e antecedente motor; se esse motor, por sua vez, é movido, precisará de um motor que o mova, e, assim, sucessivamente, o que é impossível, se não houver um primeiro motor imóvel, que move sem ser movido, que é Deus.

Segunda –Via da "Concatenação das Causas"- Tudo tem origem na lei de causa e efeito; não há efeito sem causa . Há, pois, uma série de causas eficientes, causas e efeitos, ao mesmo tempo; ora, não é possível regredir indefinidamente na série das causas; conclue-se haver uma causa primeira, não causada, que é Deus.

Terceira - Via da "Contingência"- Todos os seres que conhecemos são finitos e contingentes, não são existentes por si mesmos, não têm em si próprios a razão de sua existência, são e deixam de ser; ora, se são todos contingentes, em determinado tempo deixariam todos de ser e nada existiria, o que é absurdo; logo, os seres contingentes implicam o ser necessário, ou Deus. É preciso que sejamos “audire”, ou seja, ouvidos e não “absurdos”, ou seja, do latim surdos à lógica.

Quarta - Via dos "Graus de Perfeição"- Todas as perfeições ensejam patamares, graus de maior ou menor perfeição, mais ou menos vizinhos das perfeições absolutas. Há, por conseqüência, um ente sumamente perfeito, o primeiro que dá mobilidade a todos os movimentos e perfeições maiores ou menores à criação; é o ente supremo - Deus.

Quinta – Via da "Ordem Universal"- Todos os entes tendem para uma ordem fundamental, principal e universal não por acaso, mas pela precedência de uma inteligência que os dirige; há, assim, um ente inteligente que ordena a natureza e a impele para o seu fim. Esse ente inteligente é Deus.

Desses conceitos, Tomás de Aquino conclui quanto podemos conhecer sobre a natureza e os atributos de Deus. Deixa claro, contudo, tratar-se de um conhecimento imperfeito; sabemos que "Deus é", mas não "O que é".

Chegar-se ao “o que é” seria avançar-se na forma sem conhecer a matéria formadora, mas somente suas causas.

Apesar disso, podemos compreender que Deus é eterno, por ser primeiro e infinito, onisciente por ser a “primeira causa”, onipotente e em suas relações com o mundo, Criador e Providência.

A doutrina tomista acata a alma, princípio espiritual, unida ao corpo, princípio material, formando um composto substancial. Assim, tem uma alma as plantas, é a "alma vegetativa", com funções de alimentação e reprodução; nos animais, é "alma sensitiva", com as funções anteriores, mais sensação e mobilidade; finalmente, o homem com todas as funções anteriores, mais a racional com o dom da inteligência onde o livre arbítrio se destaca.

O venerável gênio aquiniano reputa a inteligência como a faculdade mais perfeita de nossa alma.

Adequou a filosofia de Aristóteles aos princípios cristãos através da Ética. Assim, a ética é o "movimento da criatura racional para Deus".

Tomás de Aquino é considerado o maior gênio da Escolástica. Criou um sistema filosófico sintético, coerente, fundamentado em Aristóteles, e reformulou todo o pensamento cristão.

Chegamos ao fim maior da existência da primeira causa, do primeiro motor, do “actus purus” que nos legou a compreensão para recebermos o ensinamento e apartar-se o homem do egoísmo, ensinado através de seu filho Jesus, tornado homem para cingir a mensagem sonante e forte através dos tempos sem a necessidade de ser escrita.

ESTA ORDEM SUPERIOR É A ÚNICA QUE PODE REFORMAR O HOMEM E HARMONIZAR AS NAÇÕES.

Celso Felício Panza

Publicado na Revista FORUM.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 28/10/2018
Reeditado em 28/10/2018
Código do texto: T6488278
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