O Patrimônio, a Memória e a História Afro-Brasileira
Compreender que a cultura é o resultado de todas as nossas interferências (o conhecimento, a arte, as crenças, as leis, a moral, os costumes, os hábitos e aptidões) no contexto social é uma necessidade que temos para estruturarmos a nossa identidade. Transver a História da África é uma missão necessária para o progresso da historiografia brasileira. Faz-se necessário o rompimento com as estruturas educacionais que por anos promoveram a bestialização do conteúdo sobre o continente africano e seus impactos no contexto brasileiro.
“A educação patrimonial é um instrumento de alfabetização cultural que possibilita ao indivíduo fazer a leitura do mundo que o rodeia, levando-o à compreensão do universo sociocultural e da trajetória histórico-temporal em que está inserido. Esse processo leva ao reforço da auto-estima dos indivíduos e comunidade e à valorização da cultura brasileira, compreendida como múltipla e plural”. (HORTA, 1999, p. 6)
A educação patrimonial tem papel fundamental na desconstrução das imagens sedimentadas no imaginário dos brasileiros sobre a escravidão no Brasil, se estruturando em uma posição crítica, sustentando um espírito de argumentação que busca uma resposta mais “autêntica” da nacionalidade brasileira. Estimulando uma história feita pela sociedade, não por um grupo elitizado, construindo condições para compreendermos uma identidade nacional que supere o mito da democracia racial.
“Conhecer para preservar, preservar para valorizar e se auto-reconhecer” este é o objetivo da educação patrimonial, fomentando uma análise crítica e argumentativa sobre a identidade e memórias locais.
Os diversos percursos da história forçam a sociedade atual a imaginar a distância ou o tempo para estruturação do conceito “ser negro” em meio aos longos processos, constituindo os modelos, padrões, normas e regras raciais, como diria Weber, um “tipo ideal”; uma estrutura mental da realidade, onde o pesquisador seleciona algumas características do seu objeto de estudo, orientando a sua investigação por base em uma espécie de parâmetro.
Considerar os mecanismos históricos pedagógicos como um elemento de influência direta na difusão da História Africana é o caminho para entendermos com se deu o processo de estruturação dos paradigmas educacionais, fecundados dentro de uma perspectiva “preconceituosa”.
É perceptível a contribuição da educação patrimonial no progresso dos recursos didáticos, no trabalho de codificação da História Africana, possibilitando novos rumos para o progresso de uma História até pouco tempo esquecida, rotulada, exilada. Abrindo-se um leque de possibilidades.
Referências
HORTA, GRUMBERG e MONTEIRO (org.). Guia básico de educação patrimonial.
Brasília: IPHAN\Museu Imperial, 1999.
SCHWARTZ, S.B. Segredos Internos. Engenhos e escravos na sociedade colonial 1550-1855. SP: Cia das Letras.
SILVA, A. Continente Africano. Minas Gerais, 2014.
SILVA, A. S. O Memorial Antonieta de Barros: como veiculo de disseminação
da informação. 2004. 57 f. Trabalho de Conclusão de Curso – Centro de Ciências humanas e da Educação, Universidade do Estado de Santa Catarina, Florianópolis, 2004.
SKIDMORE, Thomas E. Preto no Branco: Raça e nacionalidade no pensamento brasileiro. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 1976.