Os gordos na cultura popular

Quem gosta de assistir a filmes, novelas e desenhos animados já deve ter notado um clichê: o gordo cômico. O gordo sempre é uma figura engraçada, grotesca e coadjuvante. Se for bom, talvez o melhor posto que ocupe seja o de amigo do mocinho, o companheiro simpático. Caso seja vilão ou mau-caráter, ele é repulsivo.

Quase sempre, o gordo é retratado como alguém que só pensa em comer, é alvo de piadas e vive metendo os pés pelas mãos. Para confirmar, podemos citar o Sargento Tainha, Homer Simpson, Senhor Barriga, Nhonho e o Dudu do Popeye, este último uma figura apagada que só pensa em comer hambúrgueres.

Em desenhos (cômicos ou sérios) nos quais há uma luta do bem contra o mal, o gordo frequentemente é o atrapalhado, o boboca que faz tudo errado. Um bom exemplo é um desenho não muito conhecido que passou no SBT, chamado Os fantasmas. Nele, um trio se dedica a combater fantasmas malignos. O trio é composto por Jake, o líder, Eddie, o gordo e pelo gorila Tracy. Enquanto Jake é magro e sempre tem as ideias que levam à vitória e o gorila Tracy é forte e fabrica as armas usadas pelo grupo, o gordo Eddie é medroso, trapalhão e vive cometendo erros que colocam o time em apuros. Seus próprios companheiros não gostam de deixá-lo sozinho no prédio onde trabalham por não confiar nele tomando conta dos negócios.

Talvez o único desenho em que o gordo não é apenas a figura engraçada é Street Fighter, no qual o gordo é Honda, lutador de sumô tão forte e sério quanto os outros.

Porém, podemos notar uma tímida mudança na maneira de retratar os gordos. Um que merece ser citado é o episódio número sete de Smallville, seriado que conta as aventuras de Clark Kent antes de se tornar Superman. Nele, há Jodie (interpretada por Amy Adams, que depois interpretou Lois Lane nos mais recentes filmes do Superman), jovem gorda e com pouca autoestima obcecada em ser magra. Normalmente, seriados juvenis nunca retratam gordos de forma séria, mas neste vemos a gordura sendo motivo para drama. Ainda que Jodie seja amada pelo pai, que diz que ela é bonita e todos a amam, ela quer ser magra e faz dietas perigosas.

Também podemos falar sobre o filme Preciosa, um drama muito forte sobre uma adolescente negra, estuprada pelo pai (de quem engravida) e maltratada pela mãe. Por ser obesa, ela enfrenta muitos preconceitos mas sua professora, Rain, ensina-a a se valorizar e a gostar de si mesma. Se, em outros filmes, o gordo é uma figura ridícula (como em O professor aloprado com Eddie Murphy), aqui é mostrado que ela, Preciosa, tem todo o direito a se ver como alguém digno.

No Brasil, temos novelas que falam da gordura sem recorrer ao risível, como Amor à vida e Avenida Brasil. Na primeira, Perséfone, interpretada por Fabiana Karla(que ficou famosa como a nutricionista Dra. Lorca no humorístico Zorra Total) fazendo uma moça que sofre para encontrar o verdadeiro amor. Ela chega a casar mas seu marido a pressiona por causa do peso e ela, para agradá-lo, faz dietas que põem sua saúde em risco. Depois, ela resolve que só fará dieta por causa da saúde e encontra o amor ao lado de um homem que a ama como é, sem implicar com seus quilos a mais. Amor à vida combate a gordofobia sem fazer apologia da gordura, mostrando os gordos como pessoas que têm sentimentos, desejo sexual e direito de ser felizes.

Em Avenida Brasil, vemos a crueldade com quem é gordo ser levada a extremos. Carminha, a inesquecível vilã magnificamente interpretada por Adriana Esteves, vivia maltratando a filha Agatha, por esta ser gordinha, humilhando-a e ridicularizando-a, dizendo que a menina era feia e sem graça. A pobre menina, que queria ser amada, tinha baixa autoestima e era muito depressiva. Não entendia o porquê da mãe sempre implicar com ela. Infelizmente, esta situação não se restringe à ficção. São muitos os casos em que crianças e adolescentes gordos são humilhados e discriminados pelos pais e demais parentes devido ao peso.

Assim, seria bom que a mídia fizesse mais trabalhos no sentido de mostrar as pessoas que não se enquadram nos padrões estéticos impostos pela moda de forma não-estereotipada. Um ser humano é bem mais do que seu tamanho e aparência. Ele tem sentimentos, qualidades, defeitos, sonhos e precisa ser visto como uma pessoa completa, não apenas por um aspecto que não mostra toda sua pessoa.Ser gordo não é sinônimo de ser atrapalhado ou bobão.