Da necessidade de intervenções urbanas para a (des)construção.
Da necessidade de intervenções urbanas para a (des)construção.
(Breve texto reflexivo que o autor escreveu por experiências em andanças nas cidades. Esta-se, por meio dessa reflexão, construindo um artigo acadêmico com uma reflexão mais acentuada e completa acerca do tema)
A cidade precisa ser o momento mais importante da afirmação do eu enquanto como construo minha presença no mundo. A cidade, esse espaço de (des)encontros, precisa ser o momento perfeito da aceitação. No entanto percebemos o contrário.
É nas ruas que as diferenças são estigmatizadas, que os preconceitos se proliferam e que as discriminações acontecem. Podemos até pensar, em uma reflexão primeira, que isso se dá pela construção cultural nas famílias, nas igrejas e demais instituições ou estruturas. Todavia, as famílias transmitem preconceitos porque elas são produtos de intervenções urbanas (entendamos intervenções urbanas aqui como todo comportamento, ação humana que influencia, direta ou diretamente, consciente ou inconscientemente, o outro); as igrejas “dogmatizam” discriminações a partir da ameaça aos seus privilégios e os privilégios dos seus pela quebra do convencional nas ruas. A rua precede as instituições e estruturas, sendo que estas se fundamentam a partir do olhar das ruas e tendem a negar o que ameaça o padrão.
Os estigmas, preconceitos e discriminações que infestam as ruas é a fonte primeira da negação do outro quando este não atende ao que fora decretado para sua vida quer pela genitália, quer pela religião que herdou da família, quer por quaisquer condições biológicas ou culturais. “O costume de casa vai a rua/praça”, brada o sensu comum. Contudo, é preciso inverter as palavras, porque é da rua/praça que vai a casa. A cidade, a rua, a praça, os espaços públicos (e sempre entendamos estes termos não como apenas os suportes, mas como o fluxo constante neles presentes que é gerado e desenvolvido pelas pessoas) se reproduzem em casa, na igreja, instituições em geral.
Daí a necessidade de/das intervenções urbanas entendendo-as como um processo de interferência nos espaços e nas consciências (dois termos que na práxis estão intimamente ligados) para a desconstrução de estigmas, preconceitos e discriminações através de transferências e produções.
Sejamos condenados a esperança, - talvez utópica -, de que a Cidade será esse momento da afirmação do eu enquanto sujeito construído e não pré-concebido socialmente desde antes mesmo da “existência física”.