RENATO, se tu estivesses aqui

Teus amigos norte-americanos (Miguel e outros) que nos ensinavam “baseball”, no campo do Muniz Freire Futebol Clube, talvez não aparecessem mais por aqui, devido à idade avançada deles e não mais curtiríamos as suas “tacadas” fortíssimas até mesmo para nos ensinar! (O “baseball”, muito praticado na outra América, só conhecíamos nas figuras geringonçadas dos livros didáticos de inglês que o colégio adotava para tu lecionares no ginásio, figuras essas que faziam a todos nós rirmos à bessa, até mesmo tu achavas assaz engraçado!

Se tu estivesses aqui, saberíamos mais projetos teus e de teus amigos inseparáveis, da época (Argemiro, Agripino, Divino e outros), marcando datas para subirem ao “pico da bandeira”, planejando, quem sabe, na trilha da filmagem ou fechando contrato para encenação nos teatros, mesmo os daqui de perto, de Guaçuí, de Cachoeiro, etc.

Entendo que não mais me indicarias alunos seus (do antigo GDCC, hoje “Lia Threzinha”), para que eu lhes ministrasse aulas particulares da língua inglesa, tal como ocorreu com o Carlinhos, do Júlio e Leonilda Bazzarella (“tia Lila”), como também ocorreu com a Dona Maria Amélia (esposa do senhor Overland, agente postal dos correios da época) que, estando nós, na 2ª ou 3ª série ginasial, pediu-me, em alto e bom som: “Fernandinho, me ensina ingrês?” (Falou ela assim, literalmente. Recordo!). Mas, hoje, Renato, esqueci tudo (ou quase tudo) do que me ensinaste, desse idioma que tanto aprecio!

Se tu estivesses aqui, creio, eu que não ficarias mais com raiva de mim, quando precisaste de minha participação para jogar no teu time de futebol de salão, em uma cidade vizinha (não sei qual), juntamente como o Anderson e outros colegas craques, porque meus “piques” não são mais como os de outrora, quando a gente, sob sua direção, driblava no pátio interno do referido colégio “Lia Therezinha”, sem cimento e sem taco, pois a quadra era solada apenas de terra ensaibrada, tirada de trás do barranco que pertencia ao senhor Orlando Bernardino (“Orlando Totó”) – hoje, tal área de onde saíam os saibros, está nos domínios dos herdeiros do senhor Orlando. Nesse pátio interno, as nossas “gingas” eram desconcertantes de verdade! (Nem todos sabem disso!) As nossas pernas, hoje, estão sem aquele invejável equilíbrio e destreza e as barrigas impedem quase tudo!

Mas o segredo mesmo, que eu nunca te revelei, o verdadeiro motivo porque não atendi ao teu pedido para jogar contra um outro time de município vizinho ao nosso, não foi somente porque minha mãe fez questão que não mais acompanhasse aquele feliz jogo (importantíssimo para ti e para o colégio), mas que fosse para a Igreja naquele dia, mas também, é que, na temporada anterior, quando nosso time jogou em Vitória, tu não deixaste que nós, menores, jogássemos na quadra de taco do SESC, perto “Parque Moscoso” e do colégio americano, o que era o nosso grande desejo. Tu preferiste e escalaste os grandalhões, que não convenceram e trouxeram para casa derrota irreversível, infelizmente! Havíamos jogado em Alegre, na quadra do 3º BPM (Batalhão da Polícia Militar) e nos demos bem e contávamos certos de que deixarias que nós, os menores, jogássemos em Vitória, o que estava além de nossa realidade! Seria um sonho realizado! Poxa, jogar em Vitória, naquela época, era como se fôssemos escalados para a Seleção Brasileira hoje! Como isto não ocorreu, dei minhas desculpas e não te atendi! Fiquei em casa!

Não te temos mais, Renato, para administrar o Município de Muniz Freire (ES) – o que fizeste por dois mandatos, porque depois de ti, outros o dirigiram e, atualmente, está na direção dele, o teu amigo e também admirador teu, o Doutor Carlos Bazzarella, que tu não o presenciaste ser eleito, porque foste embora “para trás do sol”. Ninguém te vê mais, a não ser nas fotografias que temos e, inclusive, um último flagrante fotografado não sei por quem! (Será que foi o “Cacilda”?) Quando, em frente à barbearia do Jeferson, fomos flagrados em momento descontraído, a saber: Renato, Jeferson, Jorge Belo Filho e este articulista.

Quanto mais os anos se vão, mais prestigiamos o teu valor e tua passagem vivida aqui entre nós!

Ninguém mais terá o teu talento e paciência para organizar as coisas, por em ordem os papéis, catalogar documentos, colecionar objetos históricos desta tua terra de origem, tal como fizeste, certa ocasião, com a empresa dos “Irmãos Côgo”, auxiliando o João Francisco Neto Soares – o “Dão”, que se viu gratificado com teu apoio, como também fizeste com a “Casa da Cultura”, revolucionando o acervo cultural do Município, a ponto de vermos teu trabalho e dedicação, reconhecidos, havendo, recentemente, a Câmara Municipal aprovado projeto que indicou teu nome como patrono dessa casa cultural, levando-a receber a denominação de “Casa da Cultura Renato Chrispim Aguilar”.

Mas é preciso reconhecer também que o historiador Herbert Soares Caçador juntamente com o Arquivista Marcello França Rodrigues e o estagiário Ednaldo Rodrigues do Carmo Júnior, além de um livro publicado pela “Gráfica Aquarius”, em 2017, com o apoio da Funcultura e o Governo do Estado, compilaram informações que eles mesmo digitalizaram e postaram em sites e blogs desse querido Município, contidos na Internet, a partir do que, se depreende que eles também merecem os elogios posteriores aos que dedicamos a ti, porque tu sempre foste o pioneiro em muitas coisas nessa terra que amaste sobremaneira!

E, por fim, não o teremos à frente da “Banda Marcial”, que vibrava a partir do antigo GDCC (Ginásio Desembargador Celso Calmon), que brilhava em todas festas do município de Muniz Freire, em sua data magna, nos meses de julho de cada ano, função esta que tu dividiste, certas oportunidades, com tua competentíssima irmã, Terezinha C. Aguilar, que sempre “deu conta do recado” a ela incumbido!

E, por mencionar as festas municipais do mês de julho, é sabido que, deixaste de estar aqui, (31 de julho de 2014), exatamente no mês que tu mais te alegravas por haver feito algo pelo teu Município amado e por ter, tantas vezes, se congratulado com teus munícipes, nessas ocasiões festivas!

Abraços aos meus conterrâneos e boas festas, aos munícipes!

Rive (ES), 24 de julho de 2018

Fernandinho do fórum