O QUE É O AMOR
 
     É embaraçoso dizer que o amor é ao mesmo tempo um remédio e um veneno, uma graça e uma tragédia, porque não é no amor em si, mas nas consequências do amor que reside o lado sombrio, é nos efeitos colaterais que ele manifesta seu braço pesado. Há um contraste no amor… há algo nele que faz algumas pessoas sentirem medo, há algo nele que condena pessoas a viverem mutilados pelo resto de seus dias. O amor pode ser um algoz por excelência.
     O amor é uma força tão extraordinária no mundo que marca épocas em nossa vida, faz tudo parecer colorido, faz com que o tempo pare, e mais do que isso, há registros que dizem que ele liga diretamente ao próprio Deus: “Qualquer que ama é nascido de Deus e conhece a Deus.” (1 JOÃO 4:7b). Existe até uma teoria que diz que o amor liga as pessoas através do entrelaçamento quântico, fazendo com que duas partículas subatômicas estejam interligadas mesmo a milhares de anos-luz de distância, o que Eisten chamava de “ação fantasmagórica a distância”. É daí que vem o que a holística chama de “amor quântico”. Existem até escritos relatando que o amor faz bem para a saúde (fortalecendo o sistema imunológico), para a psiquê e para o espírito. O amor joga a autoestima lá pra cima, faz qualquer um passar o dia inteiro sorrindo, e tem até quem diga que é o amor a verdadeira razão de tudo nesse imenso universo, que ele é a finalidade maior de toda nossa existência e que é a energia mais poderosa de todo o cosmo! Mas porque então eu digo que há um lado sombrio nele, porque há até quem tenha medo de amar e se defenda dele? Ora, a pergunta é tão antiga quanto a resposta: “O amor é sofredor.” (1 CORÍNTIOS 13:4). Ah... como eu queria que Paulo não tivesse escrito isso…
     O mesmo amor que pode nos levar a um passeio pelo céu, pode nos levar a um abismo e arrancar nossa pele. No caso do amor entre um homem e uma mulher, quando alguém decide amar, está fadado a também sofrer, e isso porque o amor não é uma relação de troca, quem ama não pensa em si mesmo, não busca recompensa, não faz barganha, ama mesmo que seja até odiado! É claro que muitas pessoas ao decidirem sobre um relacionamento levam muito mais em conta se são amadas ou não, o quanto a outra pessoa ama, se há reciprocidade, e isso… isso não tem nada a ver com o Amor. Quem se joga de peito aberto, sem reservas, com o coração exposto e com toda sua sinceridade tem sim uma grande chance de experimentar tudo o que um amor é capaz de oferecer, inclusive seu lado mais devastador. Quem amou e foi desprezado pela pessoa amada sabe o que é perder o chão, sabe o que é um sorriso forçado, sabe o que é um dia cinza. Nenhuma palavra consola, ninguém aplaca a dor, nada que se faça tem graça, o pensamento não muda, não há como se distrair, o coração fica rasgado, sangrando. É bem provável até que a postura mude, que a pessoa perca peso, se isole, e se torne amarga. A saída para isso não está em um novo relacionamento, não, não, ninguém vai querer juntar nossos cacos, na verdade, não há saída para isso. Há feridas que nem o tempo cura, há feridas que levaremos pelo resto da vida. Quem ama corre um grande risco de espatifar a cara no chão, de ser traído, engando, desprezado e sofrer. Isso é, também, Amor.
     Quando olhamos para um outro tipo de amor, vemos o quanto ele pode ser ainda mais aniquilador. É o caso do amor entre pais e filhos. Um pai ama seu filho mais do que a si mesmo, e tudo que ele mais quer é morrer antes de seus filhos, ou seja, quer que seus filhos sobrevivam a ele. Nada dói mais em um pai do que a dor de um filho, se o pai pudesse ficaria até doente no lugar dele. É comum ouvirmos que o amor de uma mãe é o maior amor que existe, que é incomparável e imensurável. Se o amor é forte, grande e intenso, a dor que pode vir dele é proporcionalmente cruel. Eu conheci pessoas que passaram pelo que considero a maior dor que um ser humano pode experimentar nessa vida, a dor de enterrar um filho. Ninguém se prepara para isso, é uma coisa antinatural; o natural da vida é os filhos enterrarem seus pais, mas quando um pai tem que pegar na alça de um caixão e conduzir seu filho em uma procissão fúnebre até uma sepultura, ah… isso desconstrói qualquer ser humano. Me lembro de uma pessoa querida que depois de ter perdido o filho nunca mais foi a mesma, não raras vezes eu a encontrava chorando, o retrato ao lado da cama era a confissão de uma tristeza que não passava. “Porque Deus não levou eu e deixou ele?” Era a pergunta que ela me fazia chorando. “Hoje se meu filho estivesse vivo, completaria x anos…”, era o aniversário do filho que continuava sendo lembrado. Perder um filho condena uma pessoa pelo resto da vida, é como se a pessoa ficasse decepada, não de um braço ou de uma perna, mas de um pedaço de sua alma. Um pai que enterra um filho sabe o que é amar uma pessoa com todas as suas forças e ver, de repente, ela ir embora pra nunca mais voltar, e, nas maiorias das vezes sem ter a chance de se despedir, de dar um último beijo, de dizer o quanto ela era amada. Isso é, também, Amor.
     Mas se o amor pode trazer tanta dor, não teriam razão aqueles que fogem dele, que levantam defesas e escudos na clara tentativa de evitar o sofrimento? Ora, se tentarmos evitar o amor, sofreremos do mesmo jeito, pois sofrer é algo inerente à existência humana. Mas quem quiser provar da vida o seu melhor cálice acabará por cair nas garras do amor.
     Ele pode nos jogar no buraco mais profundo e escuro, pode nos dilacerar por inteiro, mas sem ele será impossível, em vida, caminhar nas nuvens, sonhar acordado, sorrir sem motivo e sentir a essência do próprio Deus dentro de si. Será que amar, mesmo assim, vale a pena? Ah, se vale, vale cada segundo, vale cada ferida que o amor pode causar, vale cada lágrima, cada gota de sangue.
     O mesmo Paulo que escreveu que “o amor é sofredor” também escreveu que “O amor nunca falha” (1 CORÍNTIOS 13:8a). Ainda bem! O amor constrange a pessoa amada, pelo fato de não ser baseado no que ela é ou no que ela pode dar; simplesmente se ama. O amor leva a pessoa amada a se perguntar “Porque ele me ama tanto?”. O amor pode levar a pessoa amada até a perguntar diretamente: “Por que tu me amas tanto assim? O que eu fiz para merecer?”. Não há resposta para essa pergunta, porque o amor não se justifica. O amor não se explica. Simplesmente se dá. Precisamos acreditar no amor, ainda que não o compreendamos. Não precisamos ser covardes a ponto de fugir dele. O amor, se ainda não chegou, já está vindo aí, daqui a pouquinho ele chega (é tu que estás com pressa, não ele), e ele vai te embriagar de tanta vida e vibração. Mas... seria possível alguém passar pela vida sem saber o que é amar? Sim. Por que não? A vida sabe como ser cruel. Mas duvido que isso ocorra a quem tenha o desejo, o sonho, a disposição de amar.
     Se tu tens alguém para amar ou já amou alguém um dia, tu leste esse texto com essa pessoa especial na lembrança, ela invadiu teu pensamento bem devagarinho enquanto tu lias, e sem que tu percebesses, ela sentou ao teu lado. Nós dois sabemos disso... e agora tu sabes que eu também sei disso. Ou por acaso tu não lembras do dia em que a pessoa amada apareceu na tua vida e fez teu coração disparar? Foi nesse dia que tu te desarmaste por completo e sentiu que era ao lado dela que tu querias envelhecer e passar o resto dos teus dias. Por acaso tu não lembras do dia em que teu filho nasceu, tão indefeso e dependente, tão pequeninho e frágil? Pois foi nesse dia que o amor te atingiu em cheio e te desmanchou todinho por dentro. Por acaso tu não lembras com carinho de pessoas que foram embora de vez para nunca mais voltar e que ficaram para sempre guardadas em um lugarzinho especial do teu coração? Lembra sempre que se elas partiram, não foi porque elas quiseram te deixar, é a vida que faz isso. Sabe esse aperto no peito, essa vontade de voltar no tempo só para poder dar um último abraço, ver de novo aquele sorriso, acariciar mais uma vez aquele rosto marcado pelo tempo? Pois é. Isso é, também, amor.
Diogo Mateus Garmatz
Enviado por Diogo Mateus Garmatz em 19/05/2018
Reeditado em 14/02/2021
Código do texto: T6340828
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