TRECHO DO ROMANCE O GUARANI
Caía a tarde.
No pequeno jardim da casa do Paquequer, uma linda moça se embalançava indolentemente numa rede
de palha presa aos ramos de uma acácia silvestre, que estremecendo deixava cair algumas de suas flores
miúdas e perfumadas.
Os grandes olhos azuis, meio cerrados, às vezes se abriam languidamente como para se embeberem de
luz, e abaixavam de novo as pálpebras rosadas.
Os lábios vermelhos e úmidos pareciam uma flor da gardênia dos nossos campos, orvalhada pelo sereno
da noite; o hálito doce e ligeiro exalava-se formando um sorriso. Sua tez alva e pura como um froco de
algodão, tingia-se nas faces de uns longes cor-de-rosa, que iam, desmaiando, morrer no colo de linhas
suaves e delicadas.
O seu trajo era do gosto o mais mimoso e o mais original que é possível conceber; mistura de luxo e de
simplicidade.
Tinha sobre o vestido branco de cassa um ligeiro saiote de riço azul apanhado à cintura por um broche;
uma espécie de arminho cor de pérola, feito com a penugem macia de certas aves, orlava o talho e as
mangas; fazendo realçar a alvura de seus ombros e o harmonioso contorno de seu braço arqueado sobre
o seio.
Os longos cabelos louros, enrolados negligentemente em ricas tranças, descobriam a fronte alva, e
caíam em volta do pescoço presos por uma rendinha finíssima de fios de palha cor de ouro, feita com
uma arte e perfeição admirável.
A mãozinha afilada brincava com um ramo de acácia que se curvava carregado de flores, e ao qual de
vez em quando segurava-se para imprimir à rede uma doce oscilação.
Esta moça era Cecília
José de Alencar