Acordei alegre em Calzadilla de La Cueza, mas meu pé esquerdo estava inchado e latejando. Eu sabia o que era, pois já havia passado por isso antes. Tinha simplesmente que diminuir meu consumo de cerveja e principalmente o de vinho. Somente consegui calçar o tênis retirando-lhe completamente o cadarço. Tomei café no bar onde estivera na véspera e comecei a andar.
O Caminho de Santiago está situado exatamente sob a Via Láctea. Dizem que aqui os problemas físicos costumam ser curados mais rapidamente por causa dessa interação cósmica. Eu teria que comprovar obrigatoriamente essa teoria, pois deveria caminhar 22 km até Sahagún, meu próximo destino. Pelo menos eu passaria a encontrar mais cidades pela frente e a intervalos menores. Já era um alento.
Assim sendo, atravessei Ledigos, Terradillos de los Templarios, Moratinos, San Nicolás Del Real Camino e finalmente ao passar pela ponte sobre o rio Valderaduey, encontrei o “Centro Geográfico Del Camino”, um monumento situado em frente à Ermita da “Virgen Del Puente”. Eu havia chegado à metade exata do Caminho de Santiago em terras espanholas após ter percorrido 411 quilômetros em 20 dias, a uma média de 21 km/dia.
Dali onde me encontrava podia ver a linda Sahagún logo adiante despontando sobre uma colina como que me convidando a conhecer sua história e seus enigmas.
Entrei nessa bela e peculiar cidade de 2.700 habitantes atravessando uma ponte férrea no exato momento em que um moderníssimo trem passava velozmente como uma flecha por baixo de mim. Tive então nesse momento uma boa oportunidade de verificar o magnífico contraste entre o novo e o antigo. A visão daquele eficaz meio de transporte zunindo ao lado de construções centenárias foi simplesmente espetacular.
Hospedei-me no excelente Albergue Municipal de Cluny, de propriedade do “Ayuntamiento”, ou seja, da prefeitura local. Trata-se de uma antiga igreja de estilo “mudéjar” (fusão dos estilos românico, gótico e renascentista com elementos construtivos e decorativos da arte islâmica) e que fora reformada para acomodar até 64 peregrinos.
Após registrar-me fui conhecer a cidade, mas sem abusar da cerveja ou do vinho por causa do meu pé inchado. Entrei numa mercearia onde fiz algumas pequenas compras e ali conheci o proprietário, Sr. Elias, com quem fiquei batendo papo sobre as peculiaridades da cidade. Indicou-me onde era a barbearia, pois eu precisava urgentemente cortar meus cabelos.
Na barbearia, fiz amizade com o Sr. Lorenzo a quem prometi sorrindo voltar àquela cidade para que ele fizesse novamente seu serviço, pois eu havia gostado muito. O velho barbeiro me informou que os trechos seguintes que passariam por El Burgo Ranero e Mansilla de las Mulas, antes de León, não estavam muito bons tendo em vista as últimas chuvas ocorridas naquela região. Além do mais esse seria um percurso monótono, pois haviam construído um caminho reto, com bancos de cimento dispostos a intervalos regulares e árvores plantadas da mesma forma, formando um monótono corredor até sumir no horizonte.
Dormi pensando nisso tudo e quando acordei já tinha tomado minha decisão: “vou pegar um trem pra León”. Eu não estava ali para participar de nenhuma maratona ou concurso de resistência. Não fazia nenhum sentido ter que sacrificar-me à toa, pois meu pé poderia piorar. Além disso, tinha ficado impressionado com aquele lindo trem e queria viajar nele.
Saí cedinho e comecei a percorrer a cidade em busca da estação ferroviária, porque eu não havia me planejado para isso na véspera. Já cansado de andar, fiz sinal para um automóvel que passava e expliquei meu problema ao seu condutor. O motorista, um senhor com aproximadamente a minha idade, vendo que eu não conseguia entender direito a localização da estação, falou: “entre aqui que eu te levo até lá”.
Fiquei surpreso ao descobrir que ela ficava quase ao lado do albergue onde estava. Eu tinha começado a procurar exatamente na direção oposta. Era a velha e infalível “Lei de Murphy”, pensei sorrindo. Agradeci a gentileza e dei-lhe de presente uma bandeirinha do Brasil (eu tinha várias na mochila).
- Será para o meu neto que gosta do futebol brasileiro, sorriu o gentil senhor.
Na estação ferroviária de Sahagún, descobri que estava para chegar uma composição para León em 20 minutos. Comprei imediatamente o bilhete, mas não quis ficar na sala de espera. Queria ver aquele moderníssimo trem chegando.
Não demorou muito e lá vinha ele, no horário exato. Nem um minuto a mais ou a menos. Já no trem, sentei-me ao lado de um janelão envidraçado, à direita, de onde podia descortinar toda a paisagem composta pelo verde infinito das plantações. Ocasionalmente podia ver um ou outro peregrino caminhando ao longe. Eu ficaria devendo cerca de 60 km não percorridos a Santiago que pagaria numa próxima vez, pois minha intenção era voltar ao Caminho o mais brevemente possível.
Assim cheguei à moderna León, a segunda maior cidade do Caminho com seus 127.000 habitantes – um importante centro industrial, financeiro e cultural da província homônima da qual é capital.
O Caminho de Santiago está situado exatamente sob a Via Láctea. Dizem que aqui os problemas físicos costumam ser curados mais rapidamente por causa dessa interação cósmica. Eu teria que comprovar obrigatoriamente essa teoria, pois deveria caminhar 22 km até Sahagún, meu próximo destino. Pelo menos eu passaria a encontrar mais cidades pela frente e a intervalos menores. Já era um alento.
Assim sendo, atravessei Ledigos, Terradillos de los Templarios, Moratinos, San Nicolás Del Real Camino e finalmente ao passar pela ponte sobre o rio Valderaduey, encontrei o “Centro Geográfico Del Camino”, um monumento situado em frente à Ermita da “Virgen Del Puente”. Eu havia chegado à metade exata do Caminho de Santiago em terras espanholas após ter percorrido 411 quilômetros em 20 dias, a uma média de 21 km/dia.
Dali onde me encontrava podia ver a linda Sahagún logo adiante despontando sobre uma colina como que me convidando a conhecer sua história e seus enigmas.
Entrei nessa bela e peculiar cidade de 2.700 habitantes atravessando uma ponte férrea no exato momento em que um moderníssimo trem passava velozmente como uma flecha por baixo de mim. Tive então nesse momento uma boa oportunidade de verificar o magnífico contraste entre o novo e o antigo. A visão daquele eficaz meio de transporte zunindo ao lado de construções centenárias foi simplesmente espetacular.
Hospedei-me no excelente Albergue Municipal de Cluny, de propriedade do “Ayuntamiento”, ou seja, da prefeitura local. Trata-se de uma antiga igreja de estilo “mudéjar” (fusão dos estilos românico, gótico e renascentista com elementos construtivos e decorativos da arte islâmica) e que fora reformada para acomodar até 64 peregrinos.
Após registrar-me fui conhecer a cidade, mas sem abusar da cerveja ou do vinho por causa do meu pé inchado. Entrei numa mercearia onde fiz algumas pequenas compras e ali conheci o proprietário, Sr. Elias, com quem fiquei batendo papo sobre as peculiaridades da cidade. Indicou-me onde era a barbearia, pois eu precisava urgentemente cortar meus cabelos.
Na barbearia, fiz amizade com o Sr. Lorenzo a quem prometi sorrindo voltar àquela cidade para que ele fizesse novamente seu serviço, pois eu havia gostado muito. O velho barbeiro me informou que os trechos seguintes que passariam por El Burgo Ranero e Mansilla de las Mulas, antes de León, não estavam muito bons tendo em vista as últimas chuvas ocorridas naquela região. Além do mais esse seria um percurso monótono, pois haviam construído um caminho reto, com bancos de cimento dispostos a intervalos regulares e árvores plantadas da mesma forma, formando um monótono corredor até sumir no horizonte.
Dormi pensando nisso tudo e quando acordei já tinha tomado minha decisão: “vou pegar um trem pra León”. Eu não estava ali para participar de nenhuma maratona ou concurso de resistência. Não fazia nenhum sentido ter que sacrificar-me à toa, pois meu pé poderia piorar. Além disso, tinha ficado impressionado com aquele lindo trem e queria viajar nele.
Saí cedinho e comecei a percorrer a cidade em busca da estação ferroviária, porque eu não havia me planejado para isso na véspera. Já cansado de andar, fiz sinal para um automóvel que passava e expliquei meu problema ao seu condutor. O motorista, um senhor com aproximadamente a minha idade, vendo que eu não conseguia entender direito a localização da estação, falou: “entre aqui que eu te levo até lá”.
Fiquei surpreso ao descobrir que ela ficava quase ao lado do albergue onde estava. Eu tinha começado a procurar exatamente na direção oposta. Era a velha e infalível “Lei de Murphy”, pensei sorrindo. Agradeci a gentileza e dei-lhe de presente uma bandeirinha do Brasil (eu tinha várias na mochila).
- Será para o meu neto que gosta do futebol brasileiro, sorriu o gentil senhor.
Na estação ferroviária de Sahagún, descobri que estava para chegar uma composição para León em 20 minutos. Comprei imediatamente o bilhete, mas não quis ficar na sala de espera. Queria ver aquele moderníssimo trem chegando.
Não demorou muito e lá vinha ele, no horário exato. Nem um minuto a mais ou a menos. Já no trem, sentei-me ao lado de um janelão envidraçado, à direita, de onde podia descortinar toda a paisagem composta pelo verde infinito das plantações. Ocasionalmente podia ver um ou outro peregrino caminhando ao longe. Eu ficaria devendo cerca de 60 km não percorridos a Santiago que pagaria numa próxima vez, pois minha intenção era voltar ao Caminho o mais brevemente possível.
Assim cheguei à moderna León, a segunda maior cidade do Caminho com seus 127.000 habitantes – um importante centro industrial, financeiro e cultural da província homônima da qual é capital.