ALÉM DAS VÍRGULAS PERDIDAS

Um crítico da revista Veja aproveitou o aniversário de setenta anos de Paulo Coelho, para dizer que ele ainda “é o nosso maior péssimo escritor”. Não pensei existirem críticos sonhadores. Eles existem. Não vou defender Paulo Coelho. Ele não precisa.

Este de Veja, ao mesmo tempo em que critica os “parágrafos mal escritos” e “a pobreza vocabular”, sonha com o nascimento de um novo Guimarães Rosa, com poesia como Garota de Ipanema. Sonha até com uma nova Bossa Nova. Sonhador não?

Gostaria de saber o que leva um crítico perder seu precioso tempo com nosso “maior péssimo escritor”. Ter a crítica lida por milhares de pessoas? Seria ótimo ler uma crítica sobre nosso maior escritor da atualidade. Pior do que escrever, penso no trabalho para encontrá-lo feito agulha no palheiro, mesmo na nossa Academia Brasileira de Letras.

Os críticos da grande mídia foram unânimes também esculhambando Bruno Borges. O conhecido “Menino do Acre”, após o lançamento de “TAC Teoria da Absorção do Conhecimento”. Para meu espanto, essa mesma mídia se permitiu estampar as bobagens de Bruno nas curtas e longas entrevistas.

No programa “Globonews Literatura” desta semana, uma das reportagens foi com o escritor Francisco Azevedo, autor de “O Arroz de Palma”. Confesso nunca ter ouvido falar dele. Na reportagem fiquei sabendo que uma de suas obras será adaptada para novela. Então me perguntei: Haveria a reportagem com Francisco sem a novela?

Nos últimos dias nossa mídia sempre “ávida por cultura”, colocou os erros das vírgulas nas manchetes. Encontraram uma vírgula perdida separando o sujeito do predicado, no diploma concedido pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia ao ex-presidente Lula. E é claro que os “dicentes” sempre estarão mais propensos aos erros.

Encontraram outra vírgula perdida na faixa de apoio ao juiz Marcelo Bretas no Rio de Janeiro. Desta vez, separando o sujeito do verbo. Será que a vírgula da faixa seria manchete se atrás dela não estivessem artistas, juízes e até Caetano Veloso?

Assim como a classe política brasileira vive num outro Brasil apenas deles, creio acontecer o mesmo com a classe dos críticos. No mundo cultural deles os desfiles das vírgulas são perfeitos. Figuras como Fernando Henrique Cardoso, José Sarney e Merval Pereira têm acesso vip. Já Paulo Coelho não passa de um penetra. Uau!

Não deveríamos procurar “parágrafos mal escritos” e “pobreza vocabular” apenas em Paulo Coelho. Culturalmente o Brasil atual é uma obra inteira escrita por “parágrafos mal escritos” e “pobreza cultural”. Empoeirada e esquecida na estante. Talvez, devêssemos nos preocupar menos com as vírgulas perdidas, e aprender usar mais as interrogações do tipo por quê? Incluindo os críticos.