Brasil ganha primeira edição do best-seller mundial 'Como Escrever Bem' Damon Winter/The New York Times
Lançar a primeira tradução para o português de "Como Escrever Bem", o clássico manual de escrita de não ficção norte-americano, exigia uma negociação com seu autor, William Zinsser.
Com mais de 1,5 milhão de cópias vendidas desde seu lançamento, em 1976, e traduções para oito línguas (alemão, italiano, chinês, russo, coreano, romeno, turco e ucraniano), o livro tinha alguns capítulos menos acessíveis ao leitor brasileiro, por se referirem a aspectos particulares da sociedade americana.
Um exemplo era a seção sobre esportes, calcada em episódios de beisebol.
Consultado em 2014, o autor concordou com alterações, mas sob uma condição: que a versão brasileira não tentasse adaptar seus conselhos, trocando, por exemplo, casos de beisebol por outros de futebol.
O próprio Zinsser, que morreu aos 92 anos em 2015, já revisara seis vezes a obra para mantê-la atualizada. Entre inovações citadas na introdução a esta primeira edição brasileira –lançada pela Três Estrelas, selo editorial do Grupo Folha–, estão a maior proporção de mulheres escritoras, a diversidade cultural, o computador, a internet, as redes sociais e o surgimento de novas palavras e usos do idioma.
Zinsser escreveu esse, que foi o primeiro de seus 19 livros, aos 50 anos, por influência de sua mulher, no anexo de uma casa em Connecticut, "tão pequeno e despojado como um barracão".
Suas ferramentas, relata, eram "uma lâmpada pendente do teto, uma máquina de escrever Underwood simples, uma resma de papel aramado e uma lixeira aramada".
Na parede, a foto de um "difícil concorrente", o escritor americano E. B. White (1899-1985). White tinha revisado em 1959 "The Elements of Style" (Os elementos do estilo), lançado em 1919 por William Strunk Jr. e considerado o clássico máximo no tema. "Era o grande campeão que imperava numa arena em que eu também queria entrar", conta Zinsser.
O jornalista ensinava escrita de não ficção na prestigiosa Universidade Yale, uma das mais prestigiosas dos EUA, e decidiu aproveitar as férias para transformar em livro suas aulas sobre como retratar "pessoas e lugares, histórias e memória e qualquer outra coisa no mundo que estivesse à espera de ser transformada em texto".
Com o tempo, suas preocupações como professor também mudaram, e ele adicionou capítulos sobre aspectos "intangíveis" que produzem bons textos: confiança, prazer, intenção e integridade.
Na autobiografia "Writing About Your Life: A Journey Into the Past" (Escrevendo sobre sua vida: uma viagem ao passado, 2004), o autor diz ter abraçado a academia pela solidão do trabalho free-lancer.
Seu primeiro curso em Yale tinha 20 vagas, mas recebeu 170 inscrições, "talvez desesperados para aprender gramática e sintaxe, que seus professores lenientes de inglês haviam ignorado".
Gramática e sintaxe também estão no manual, com reflexões sobre o uso de verbos, advérbios, adjetivos, substantivos e diferentes formas de pontuação.
"Há tanto senso comum no livro que ele parece óbvio. Mas verdades óbvias suportam bem a repetição e a insistência", dizia a resenha de "Como Escrever Bem" publicada pelo "New York Times" no ano de seu lançamento. Quarenta e um anos, nove edições e milhões de cópias depois, parece um vaticínio preciso.
Ilustrada- Folha de São Paulo