O ATO DA PARTILHA
“Nada é feito para durar mais do que 140 caracteres ou uma curtida. Vivemos sob a tirania do aqui e agora. A nossa cultura é a do lixo, do descartável imediatamente, sem causar grandes transtornos.
“Vida líquida”, uma vida precária, em condições de incerteza constante.”. UM PROJETO ESTÉTICO. Rodrigo Celente, mestre em Escrita Criativa, in Correio do Povo, Caderno de Sábado, 20/02/2016.
Quem não se ama tem algo a dar para o outro? Há como alguém entregar algo (até mesmo o gesto), alguma coisa que não se tenha ou acredite possuir?
Na sociedade de consumo o agente é cada vez mais individualista; necessita acompanhar o ritmo do progresso, fazê-lo visível a cada ato, nítido qualificativo da ação humana atual, entranhada na estrutura da organização social contemporânea.
O que vale mesmo é “proteger o que é seu”, não importa a que preço.
Cada um com seu cada qual. O ato do ‘compartilhar’ tão desejado por aquele que publica nas redes sociais não teria nascido da necessidade de aparecer junto, bem ajoujado aos olhos de quem se admira, partilhando?
Eis, portanto, um ato-fato bem característico da modernidade líquida – a época do desengajamento, da diluição, da volatilidade, do transitório, do imediatismo.
É o tempo do agora ou nunca mais... Nestes tempos fluídos, da fuga fácil e da inútil perseguição, como fica o Amar e seus atores? Seria um “mínimo de prazer na vida cotidiana”?
É possível renegar o conceitual de felicidade plena que vivemos a buscar desde que o mundo é mundo?
– Do livro O PAVIO DA PALAVRA, 2015/17.
http://www.recantodasletras.com.br/artigos/5973694