SEXO E O PECADO

Cada qual vê o mundo segundo o seu pensamento concebe. O pecado é uma concepção axiológico-religiosa. Como a religião indubitavelmente é um freio, a proscrição do que é humanamente natural se tornou necessária para o atingimento dos objetivos que desejavam os evangelistas. Afinal, havia fome entre o pobre Povo de Deus dos primeiros tempos. A maçã firma-se como fruto proibido e se expande nas cabeças, através das pregações do Velho Testamento. A metáfora do pecado impressiona o incauto e o pouco ilustrado. Na prática, importou no recado de que o sexo fácil, irresponsável, restava proscrito entre os primeiros cristãos. Assim, na prática, minimizada a incidência dos atos carnais nas tribos, seria mais fácil fixar o conceito de família, frustrando a fornicação à conta e ordem do bel-prazer da libido, e desta sorte tornou-se possível controlar os nascimentos, conter a indignação contra os líderes, aplacar a revolta contra o Egito opressor e prover minimamente a fome das famílias tribais. Do conjunto axiológico e da praticidade provém o conceito do pecado original, no meu modesto modo de ver. E a maçã consolidou-se pelos tempos como a simbologia do pecado, sempre apontando para a genitália e o uso despudorado, socialmente reprovável. E agora, no momento contemporâneo, em que a população mundial está por volta dos sete bilhões de almas, mesmo com o pecado pousado há tantos séculos sobre a maçã. E Dona Fome ainda a rondar inúmeros recantos deste mundão de Deus...

– Do livro O PAVIO DA PALAVRA, 2015/17.

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